domingo, 23 de dezembro de 2012

Vamos Até Belem



Esta foi a declaração que os pastores fizeram, logo após a revelação que tiveram no deserto da Judéia. “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que deram entre nós”. O que aconteceu em Belém não é algo que podemos ouvir e esquecer, mas precisamos considerar a possibilidade de estar ali, e vermos o que aconteceu.
O problema nosso é que queremos ir para o Shopping, nos distraímos com os pannetones, com as bebidas e convidados. Esquecemos que em Belém é o lugar para onde devemos ir.
Onde poderemos encontrar Jesus?
Belém é mais que um espaço físico ou uma geografia. Para esta pequena cidade de Judá convergem todas as atenções do cosmos. Todo o plano da redenção cuidadosamente elaborado antes da fundação do mundo pela Trindade começa a se historicizar em Belém. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, Jesus, nascido de mulher” (Gl 4.4). O Deus inteiramente outro, se torna inteiramente nosso irmão. O Transcendente se torna imanente. O Eterno se faz história.
Para Belém convergem o anjo que anuncia as grandes novas e o coral de anjos que anuncia: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens, a quem ele quer bem”.
Para Belém convergem as profecias minuciosamente entregues por Isaias “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o seu nome será: Maravilhoso conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6). O Brado de Miquéias também se concretiza naquela manjedoura: “E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo entre milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. (Mq 5.2).
É para lá que convergem os magos do Oriente, trazendo ouro, incenso e mirra. Ali, diante da manjedoura se ajoelharam e entregaram suas vidas e dádivas. É para Belém que devemos ir.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Gratidão e Murmuração




Para mim só existem dois estilos de vida: Um agradecido, outro murmurador.

O agradecido é aquele que sabe reconhecer e apreciar o que tem recebido, e expressa sua gratidão em atitudes, palavras, demonstrações de carinho e apreciação. Existe um provérbio Francês que diz que “a gratidão é a memória do coração”. Moacir Bastos, compositor presbiteriano afirma que “gratidão é o amor contemplando o passado”.
A pessoa agradecida não é alienada, mas mesmo reconhecendo que nem sempre a vida é fácil, ainda assim, é capaz de agradecer, afinal, "a melhor coisa que Deus criou é haver todos os dias um novo dia".. Para Chesterton “o teste de toda felicidade é a gratidão”. Gratidão é reconhecer que tudo o que você realmente precisa já está na sua vida. Você não precisa correr atrás de coisa alguma para se sentir realizado.

Para o murmurador, todos os dias são maus. Afinal, a palavra de Deus afirma que “para o  amargo todos os dias são maus”. Esta pessoa vive da caridade de quem ela mesma odeia, mantém uma relação de cobrança e vitimismo com os outros e de acusação contra Deus, que na sua concepção, deveria lhe dar uma “maior consideração”, ou será que Deus não sabe com quem está lidando???
A murmuração contamina todas as outras pessoas, e de forma direta é uma acusação contra o próprio Deus que permitiu que a vida se tornasse o que se tornou. Por isto Brennan Manning afirma que “a ação de graças é a canção do pecador salvo”. Quem é capaz de reconhecer o amor de Deus, torna-se grato.

A Bíblia afirma: “Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos do teu coração”. A grande verdade é que a via da gratidão transforma todas as coisas. Por esta razão, Norman Vincent Peale afirma que “Ser agradecido faz todas as coisas melhores”.

Qual é o caminho que você tem percorrido? O caminho da gratidão ou o beco da amargura?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Resolução de conflitos


 
A vida em si possui muitas demandas... “Life is difficult!” (Scott Peck). Difícil de organizar, suportar, superar, escalar e administrar. Podemos vivê-la de duas formas: reclamando e lamuriando, ou enfrentando seus dilemas, matando um leão por dia. Ouvi de um feirante que dizia para seu filho quando tinham um caminhão de frutas para descarregar: “É um saco de batatas de cada vez!”.

Por esta razão apreciei significativamente esta afirmação: “É neste inteiro processo de enfrentar e resolver problemas que a vida encontra sentido. Problemas são a linha fronteiriça entre sucesso e fracasso. Desafiam nossa coragem e sabedoria. Apenas por causa dos problemas é que crescemos mental e espiritualmente. As coisas que ferem, são as que instruem”.

Por temermos enfrentar as lutas, tentamos negar os problemas. Procrastinamos, adiamos, criamos pensamentos mágicos, tentamos esquecê-los, fazemos de conta que eles não existem. Eventualmente até mesmo tomamos drogas para ignorá-los, nos enveredamos pela bebida ou tentamos nos refugiar na internet, no lazer, evitando assim conflitos e dores, mas “esta tendência de negar os problemas e sofrimentos emocionais inerentes neles, é a base primária de toda doença mental” (S. Peck). “Neurose é sempre um substituto legítimo para o sofrimento” (Carl Jung).

A tragédia obviamente, é que, o substituto para a dor, torna-se mais dolorido que a dor em si mesma. Nossa luta em negar o sofrimento e nos esquivarmos dos conflitos normalmente é mais penosa que o enfrentamento.

Jesus sabia muito bem que a vida era complexa. Sua vida foi marcada por oposição, acusação, ameaças. Teve que lidar com inveja, dores humanas, partilhou da angústia de gente enlutada, tocou em párias sociais, sentiu a dor que a enfermidade física traz às pessoas, e as aflições de ações demoníacas que afetavam toda a integridade familiar. Isaias o descreve como alguém que sabe o que é padecer, e o escritor aos hebreus afirma que ele foi tentado em todas as coisas. Não houve uma dimensão da dor humana que não experimentasse: rejeição, abandono e morte agonizante numa cruz.

Sabendo disto, ele exortou seus discípulos: “No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Jesus não nega a dor, não faz de conta que o sofrimento é irreal, também não afirma como Buda que tudo é sofrimento, mas afirma que a vida é carregada de tribulações.

Você tem um problema? Talvez você me responda sorrindo que tem dúzias de problemas. Enfrente cada um deles diariamente, não busque uma rota de escape. Jesus afirmou: “Tende bom ânimo!”. Isto significa perseverança, firmeza e fé. O sofrimento abre caminhos para arrependimento e confissões, possibilita reconciliações, coloca homens de joelhos e nos faz procurar Deus, abrindo a alma para o mistério.

O Dia de Finados


 
No calendário oficial do Brasil, temos este feriado que pode soar muito estranho a todos nós. Afinal, dia de finados? Dia dos mortos? O que significa isto?

Na verdade, na cultura popular, é um dia para lembrar das pessoas que já partiram: Entes queridos, pessoas que deixaram saudade entre nós: amigos, parentes, conhecidos, etc. Os cemitérios da cidade enchem-se de visitantes, levando flores. Se for de tradição budista até mesmo a comida que a pessoa gostava é colocada no túmulo do finado. Para muitos é um evento de forte comoção, e por isto, as floriculturas celebram este dia, as vendas são promissoras e o comércio fatura alto com tais lembranças.

Qual o lugar dos que já partiram na concepção evangélica?

Todas as pessoas são importantes para nossa vida, mesmo aquelas com quem já não mais comungamos e que já foram para a glória. A Bíblia afirma que não há comunicação entre vivos e mortos. Os fenômenos que acontecem de supostas mediunidades (contato dos vivos com os mortos) são veementemente condenados na Bíblia (Lv 19.31; 20.6,27; 2 Cr 33.6; Is 8.19-22; Jó 7.9; 10.21). Jó afirma: “Porque dentro de poucos anos eu seguirei o caminho de onde não tornarei” (Jó 16.22), e Jesus ainda afirmou na narrativa do rico e de Lázaro: “E. além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós” (Lc 16.26), numa referência entre o céu e o inferno.

Podemos guardar a memória dos que já partiram com saudades e lembranças, mas corremos o risco de nos esquecermos dos que ainda estão conosco. Mais importante que levar flores para o túmulo de alguém, com quem você já não possui um relacionamento mútuo, seria levar uma flor para alguém que está vivo: Uma pessoa idosa que precisa de uma lembrança, uma vó ou avô que precisa de um abraço e de um “dedo de prosa”, sua esposa, sua filha, seu amigo, etc.

E por último e mais grave: Sempre existe a idéia subjacente de que os que já partiram se “conectam” conosco. Isto não acontece!!! Os que já partiram estão numa outra dimensão espiritual. Portanto, nunca esqueça de glorificar a Deus, e dirigir suas orações ao Senhor, ao invés de orar pelos mortos e com os mortos, como se isto fosse possível.

Não preciso de Deus!


Ai dos que... dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15)

 

É muito comum encontrar pessoas que não sentem necessidade de Deus, e que acham que as realidades espirituais não fazem diferença nem para o bem, nem para o mal. Tais pessoas não são, na sua essência, atéias. Podem ser melhor definidas como agnósticas: podem até crer na existência de Deus, mas não acham que Deus interage com a história nem a afeta a vida dos homens. São estes que dizem: “Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15); A Bíblia diz: “O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações” (Sl 10.4); e ainda, “como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11). Por razões até mesmo de coerência intelectual, tais pessoas não precisam de Deus.

Mas não são apenas os ateus que acreditam que não precisam de Deus. Existem também aqueles que, professando fé em Deus, vivem como se não precisassem de Deus. São ateus na prática. Constroem sua vida à margem de Deus, perdem a piedade, a capacidade de se submeter a Deus, de se render, de orar e buscá-lo. A falta de oração na nossa vida demonstra que não precisamos de Deus.

A Bíblia fala de uma igreja inteira que viveu desta forma. Esta igreja cristã de fato existiu, e quem faz o diagnóstico dela é o próprio Senhor Jesus: “Estou rica e abastada, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17). Esta comunidade possuía uma doutrina correta, não tinha escândalos morais como a igreja de Tiatira que tinha uma pseudo profetisa praticando prostituição, mas era morna, indiferente, apática e sem paixão. Jesus recomenda que esta igreja percebesse o seu fracasso espiritual.

Se você acha que não precisa de Deus, sua situação é pior do que você imagina. Você é como doente terminal que acha que não precisa de remédio, o viciado que acha que não precisa de ajuda, o alcoólatra que nega sua condição de dependência. Quem sabe que precisa realmente de Deus, é capaz de se angustiar com sua situação, de se arrepender de sua miséria, de gritar por socorro celestial. Por isto é que afirmamos que a justiça própria é o inimigo número 1 do evangelho. Ela nos faz pensar que não precisamos da justiça de Cristo conquistada na cruz.

 

 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Vendo o invisível.


 

Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja

 

Esta é uma pequena oração que o profeta Eliseu fez quando viu que o seu jovem seminarista, que o acompanhava e o servia, reagiu apavorado ao ver que a pequena vila de Dotã, onde moravam, estava cercada por um exército inteiro de soldados da Síria, que vieram prender o profeta. Eliseu então, para acalmar seu discípulo, ora para que o Senhor lhe abra os olhos para que veja. Ao terminar de olhar, uma realidade espiritual ignorada pelo jovem torna-se visível. “O Senhor lhe abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, ao redor de Eliseu” (2 Rs 6.17).

C. S. Lewis afirma que cometemos dois erros quando lidamos com a questão do diabo: Primeiro, damos ênfase demais, e passamos a viver assombrados e demonizando todas as coisas; Segundo, negamos e ignoramos sua realidade, e nos tornamos presas fáceis de sua ação. Paulo afirma: “Não lhe ignoramos seus desígnios”. Não podemos ignorar o mal.

A vida de Jesus era uma vida na qual natural e sobrenatural estavam sempre se tocando. Quando ele nasce, no ambiente simples da estrebaria, eis uma criança frágil; nas esferas celestiais, anjos estão se manifestando. Um dia, adverte Pedro sobre a investida do diabo: “Satanás te requereu para te peneirar, mas eu roguei ao Pai para que não desfaleças”.  Jesus tem uma visão aguçada da realidade histórica, e uma visão profunda das realidades espirituais. Seus olhos vêem o invisível.

Na sua tentação que durou 40 dias, afirma o evangelista Marcos: “ Estava com as feras, mas os anjos o serviam”. Natural e sobrenatural interagem; o aqui e agora é mesclado pela realidade transcendental. O material e o espiritual se encontram.

Alguém afirmou: “Não quero ver o diabo em todos os lugares, mas quero vê-lo onde ele está”. Nada de ficar obcecado pelo místico e transcendente, isto nos transforma em seres esotéricos; e nem devemos ser ignorantes em relação às realidades espirituais. Isto nos torna secularizados.

Por isto a oração de Eliseu é mais que oportuna. Esta é uma oração que também precisamos fazer: “Senhor, peço-te que abras os (meus) olhos para que veja

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O grande legado





O próximo domingo é o dia dos pais, e nada mais oportuno que falar de legado. Muitas pessoas confundem legado com herança. Legado são marcas de caráter e integridade que passam aos filhos e netos; princípios que são transmitidos na vivência familiar, muitas vezes de forma silenciosa, mas perceptível. Herança se relaciona a bens, posses e recursos. Qual tem sido o nosso legado?

William James declara que “o melhor uso que se pode dar à vida, é empregá-la em algo que sobreviva a ela”. Estamos deixando aos filhos um legado ou uma herança? O que dou aos meus filhos ou o que faço por eles não é tão importante quanto as marcas que deixo em suas vidas.

Legado é tudo o que você transmite hoje. “Tudo o que você é e possui hoje, de bom ou ruim, é o seu legado” (Paul Meyers). Os rastros silenciosos e sulcos da alma de nossos filhos e filhas é que realmente interessa, afinal, “nada que valha a pena fazer se completa durante nossa vida” (Reinhold Niebuhr).

Um bom legado possui algumas características: Primeiro deve se basear em princípios divinos. A referência de valor, ética e moral, se fundamenta em princípios eternos. Apesar de sermos uma sociedade que deseja negar absolutos, e que relativiza princípios essenciais, virtudes como amor, justiça, misericórdia, integridade, honestidade, nunca perdem sua validade. Não existe uma corte que juridicamente possa conspirar contra estes eternos princípios. Eles se firmam em Deus.

Segundo, deve produzir resultados duradouros. Quando nosso legado é superficial ou sujeito a questionamentos, ele se perde no julgamento da história e é ridicularizado com o passar do tempo. Governos injustos podem criar leis de injustiça e perversidade, mas serão implacavelmente julgados pelas futuras gerações. Gestos e comportamentos paternos de hoje serão submetidos ao crivo de filhos e netos que virão. Que resultados o meu legado produzirá na minha posteridade?

Um legado precisa ainda ser aplicável a todos. Ele é universal, e apesar das culturas e divergências das gerações ultrapassa a história e o tempo. Valores não perdem sua validade com o passar do tempo, o que é transitório não pode ser considerado um princípio. A verdade não está no novo nem no velho, mas no eterno.

Por isto é muito importante pensarmos sobre o legado que estamos deixando. A Bíblia afirma que “o homem de bem deixa legado aos filhos de seus filhos” (Pv 13.22). Paternidade se relaciona exatamente a este legado. Precisamos de pais, que formem identidade de valor, de cidadania e referência ética nas próximas gerações. Um grande país começa com grandes pais.



Sorvete é bom para a alma

O pai levou o filho de apenas seis anos ao restaurante, e ele perguntou se poderia agradecer a Deus o alimento. Quando curvaram a cabeça ele orou: “Deus é bom! Deus é grande! Obrigado Senhor pela comida, e eu vou lhe agradecer ainda mais se a mamãe me der sorvete para a sobremesa. Que todos possam ter liberdade e justiça. Amém!”

Algumas pessoas que estavam próximas e ouviram a oração, começaram a rir, mas uma mulher o criticou dizendo: “É isto que está errado com as crianças de hoje, elas banalizam a Deus. Crianças de hoje não sabem nem como orar. Como é possível pedir a Deus que lhe dê sorvete?”.

Ao ouvir isto, o garoto começou a chorar e perguntou: “Será que fiz alguma coisa errada? Deus está zangado comigo?”. O pai o pegou no colo e lhe assegurou que o que ele tinha feito fora maravilhoso e que certamente Deus não estava zangado, e um senhor idoso aproximou-se da mesa, fez uma brincadeira e disse: “Eu estou certo que Deus achou sua oração uma grande oração”. E o garoto perguntou: “Tem certeza?”. E ele respondeu: “Realmente você tocou meu coração”, e cochichando com ele disse de forma teatral. “Fico com pena dela, porque nunca pediu sorvete a Deus. Um pouco de sorvete é muito bom para a alma”.

Naturalmente os pais compraram o sorvete para o filho depois da refeição. Ele então olhou atentamente para o sorvete por alguns instantes, e depois fez algo que a gente jamais vai esquecer. Pegou o mesmo, e sem uma palavra, caminhou em direção àquela mulher e colocou o sorvete diante dela e com um grande sorriso disse: “Tome, é para você. Sorvete é muito bom para a alma, e minha alma já está bem”.

Não raramente fico surpreso com a forma amorosa como Deus nos trata. Deus tem enorme prazer em atender seus filhos, mesmo em coisas que são simples. Dois textos da Bíblia me fazem pensar desta forma: O primeiro, quando Jesus afirma: “Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará coisas boas àqueles que lho pedirem”. Como um Pai, ele tem prazer em nos alegrar. O segundo texto diz o seguinte: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do seu coração”. Ele não está falando de necessidades, mas de desejos. A Bíblia afirma que Deus, através de Jesus, vai satisfazer cada uma de nossas necessidades, mas desejos nem sempre são necessários. Desejos são os “supérfluos necessários”, entre eles eu coloco o sorvete e o chocolate. Não precisamos deles para viver, mas dão enorme satisfação quando podemos desfrutá-los. Nesta categoria talvez você pense em outras coisas, igualmente agradáveis.

Lembre-se, porém, Deus ama você! Sorvete ainda continua sendo muito bom para a alma!

domingo, 29 de julho de 2012

Consciência



Uma boa consciência é fundamental. Um cristão não pode se dar ao luxo de tratar sua consciência sem cuidado, porque quando se rejeita a boa consciência, tratando-a com indiferença, corre-se o risco de sua cauterização, e a partir daí, fazer o mal sem perceber a gravidade da atitude, impedindo que ela funcione como um saudável alerta, que previne de erros. Consciência é como o termômetro do corpo, que ao ter uma infecção, revela-se na febre. Febre não é a doença, mas aponta para algo biologicamente errado. Quando a pessoa se sente culpada, e ainda assim continua cometendo o mesmo erro, corre o risco de mais tarde, cometer tais delitos e já não se sentir incomodado pelo que faz. Neste caso, perde-se a sensibilidade e se destrói a saúde da consciência, o termômetro da moral.

Precisamos admitir que ter boa consciência nem sempre é fácil. O que fazer numa sociedade que perdeu a compreensão do que é certo e errado e relativiza a ética? Vivemos dias em que é fácil se sentir culpado daquilo que não se é culpado ou se sentir absolvido de coisas que são erradas. É possível ter sentimento de culpa sem culpa e culpa sem sentimento de culpa.

Festo Kivengere, bispo Anglicano de Kigenl, Uganda, numa reunião de liderança eclesiástica, contou a seguinte história que impactou profundamente o auditório:

“Meu tio, o chefe de uma tribo, estava em reunião com o conselho da comunidade, quando um homem se aproximou do grupo e lhe fez uma mesura à maneira africana. Aquele homem possuía muito gado e todos sabiam na região que ele que também invocava espíritos demoníacos dizendo que era de parentes falecidos e dos ancestrais. Trouxera consigo oito vacas, que deixara a uma pequena distância do grupo que estava reunido”.

-"Vim, aqui por um motivo, Sr. chefe" disse ele.

-"Para que trouxe gado ?" Meu tio lhe indagou.

-"Senhor chefe, aquelas vacas são suas”.

-"Como minhas? Que quer dizer com isso?"

-"Elas lhe pertencem, quando eu tomava conta do seu gado, roubei quatro vacas. Elas agora são oito.Vim devolvê-las".

-"Quem o prendeu?" Perguntou o chefe.

-"Jesus me prendeu, senhor chefe, ali estão as suas vacas". Respondeu-lhe o homem sem titubear, mas com a cabeça baixa.

Ninguém riu, todos guardaram silêncio. Meu tio podia perceber que aquele homem estava em paz consigo mesmo e se sentia alegre.

-"Pode me prender ou mandar que eu seja açoitado" disse o homem, "mas estou liberto. Jesus veio ao meu encontro e agora sou um homem livre."

-"Bem, se Deus fez isto em sua vida, quem sou eu para prendê-lo? Vá para sua casa".

Dias mais tarde, tendo ouvido a respeito do caso, fui conversar com meu tio.

-"Tio, ouvi dizer que ganhou oito vacas de presente?"

-"Sim", confirmou ele, "realmente ganhei"

-"Deve estar satisfeito"

-"Nem fale nisto! Depois da visita daquele homem, não tenho dormido bem. Para conseguir a paz que ele alcançou eu teria que devolver cem cabeças de gado!"











Como se avalia uma grande nação?





A presidenta Dilma Rousseff afirmou dia 12, durante a 9ª Conferência

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília, que

“Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para as suas

crianças e para seus adolescentes, não é o Produto Interno Bruto, é a

capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o

seu presente e o seu futuro, que são as suas crianças e os seus

adolescentes”.

Dilma está certa, embora sua afirmação tenha sido proferida como uma

reação política, após a bombástica notícia de que o PIB brasileiro

teve seu pior resultado desde 2009, encolhendo 0,02% em maio. Ela

afirmou ainda que o Brasil será um país desenvolvido quando for capaz

de oferecer educação de qualidade. “Este país vai ser um país

desenvolvido quando todas as crianças deste país e seus jovens tiverem

acesso à educação de qualidade”.

Uma grande nação é medida pela qualidade de seus cidadãos e o esforço

deliberado de transformar sua realidade. Isto tudo passa pela educação

formal e moral, itens nos quais o Brasil tem sua avaliação mais

frágil.

Na Educação Formal, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB), criado pelo próprio governo federal para medir a qualidade do

ensino nas escolas públicas declara o Brasil é considerado um país com

má qualidade de ensino, alcançando 4,6 nos anos iniciais e 4,0 nos

anos finais com mais 3,6 no Ensino Médio quando a nota meta seria

seis. Em Matemática, o Brasil caiu 12 posições no índice de educação

da UNESCO, órgão ligado à ONU, responsável pela educação e pela

cultura. Em 2005, o país ocupava o 76º lugar entre 128 países; em

2007, fomos para o 88º lugar. O Brasil ocupa a 93ª posição entre 173

países no componente de Educação pela nova metodologia do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Existe um descuido e

descaso imenso dos governos em todos os níveis com a educação,

excetuando bons exemplos que fazem enorme diferença.

No campo da Ética, os maus exemplos se multiplicam. São inúmeros os

casos de vídeos mostrando prefeitos recebendo propinas,

esquemas de assalto às verbas públicas, processos contra políticos

acusados de desviar recursos, quadrilhas roubando milhões de reais

destinados à saúde, incluindo parlamentares; vampiros da saúde,

sugando 2 bilhões de reais do Ministério da Saúde. Seguro-desemprego

com desvio de 220 milhões, Banco do Brasil enterrando 210 milhões de

reais na bandalheira da Encol, e os exemplos se multiplicam.

Dilma está certa na avaliação que fez. O PIB do Brasil não é o

critério mais confiável, mas o cuidado com as próximas gerações. Ao

fazer isto, porém, diante dos bizarros exemplos citados, podemos

afirmar que ela nivelou nossa nação num nível lamentável. Mas seu

raciocínio está certo, e espero que sua política realmente leve isto

em consideração, de fato, e não como mera retórica política.

São conhecidas e devem ser gravadas em pedras, a declaração de Martin

Luther: “A prosperidade de um país não depende da abundância de

riqueza que produz, nem da beleza de seus prédios públicos, nem da

força do seu sistema militar, mas no número de cidadãos valorosos,

homens iluminados, de caráter e educação. Aqui se encontram os

verdadeiros interesses, sua grandeza maior e seu poder real”.

A “Partícula de Deus”





O mundo científico está em alvoroço por causa da bem sucedida pesquisa com ‘Bosón de Higgs’, a chamada ‘partícula de Deus’, que abre novos e importantes desafios para a física. O Centro Europeu de Física de Partículas (CERN) inaugurou dia 4 de Julho, 2012, uma nova era para a prospecção científica ao anunciar o descobrimento desta partícula, considerada chave para a explicação da formação do Universo. O ‘Bosón de Higgs’ é o que daria massa ao resto das partículas e o que, nesta lógica, teria permitido a formação do universo e de tudo que nele existe, o que representa um avanço fenomenal na compreensão da natureza.

Fico me perguntando, primeiramente, se Deus pode ser definido numa “partícula”, ou “átomo”, ou “DNA”, que pode ser dissecado pelo mundo da física e da biologia. Deus seria assim uma bactéria ou elétron sobre o qual o homem pudesse manipular e controlar.

Em segundo lugar, o que aconteceria se os homens descobrissem que cientificamente não existe Deus? Será que os religiosos deixariam de crer? Haveria uma debandada e uma nova ordem social, como novos pressupostos e valores criados? E se descobrissem que Deus existe: Os ateus passariam a crer? Cientistas se reuniriam em convenções para fazer reunião de oração? Seriam convencidos ou criariam novas hipóteses para testar experimentos e métodos para comprovar as teorias?

Na verdade, se Deus realmente existe, como temos crido e asseverado, não faz diferença alguma se cremos ou não na sua existência. Deus não deixa de existir ou existe porque concordamos intelectualmente com sua realidade. Deus é, a despeito de nossas convicções, ou não é, a despeito de nossos pressupostos. Ele é como a verdade que existe por si mesma e não se torna mentira apenas porque alguns a negam. Apesar de toda dialética hegeliana, a verdade ainda é melhor definida por Sócrates, antigo filósofo grego: “A Verdade é o que é”. Assim é Deus! Ele é o que é, e não depende de nossa forma de crer para ser o que sempre foi.

Não adiante maquiar, manipular e usar artifícios para sua realidade. A verdade continua sendo o que é e não o que desejamos ser; não se torna verdade porque nela cremos ou não. Nossas convicções ou estratagemas não geram a verdade ou a negam, porque em última instância não dependem de nós para se tornar realidade.

A “partícula de Deus” não fará Deus ser mais ou menos Deus – aliás, diga-se de passagem que Deus não é uma partícula, mas a soma de todas as partículas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Descanso não é opcional!

De acordo com o livro de Gênesis, o primeiro livro das Escrituras Sagradas, o sábado, e não o homem, foi o último ato criador de Deus. Este é o pensamento da narrativa bíblica. Depois de ter criado terra e céus, e por fim o homem, “havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou, porque nele descansou de toa obra, que como Criador, fizera” (Gn 2.2-3). A palavra Sábado vem do hebraico shabath, e tem o sentido literal de descanso. Será que Deus realmente estava assim tão extenuado após o seu trabalho criativo que agora precisava de folga? Naturalmente não. Jesus explica que “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”, portanto, a preocupação central de Deus era com o homem. Ele queria que o ser humano aprendesse uma relevante e atual lição: Descanso não é opcional! Com o passar do tempo, a idéia inicial foi deturpada, e até hoje religiosos sequestraram seu sentido, transformando o shabath num instrumento de controle e manipulação religiosa. O sábado faz parte do decálogo, sendo o quarto mandamento, e na história judaica seu sentido se desvirtuou tanto que as pessoas chegaram a ser apedrejadas por infringi-lo. A inversão aconteceu: O homem parecia ter sido criado por causa do sábado, e não o contrário. O pensamento de Deus quanto ao sábado, porém, é clarificado na Bíblia. Tinha um propósito didático e pedagógico que era a necessidade imperiosa do homem aprender a respeitar o ciclo da natureza e sua dimensão biológica. Todos precisam encontrar tempo para repor as energias. É arriscado se julgar super-homem, ser transformado em uma máquina sem manutenção e mero agente de produção. Outros propósitos ainda podem ser encontrados no quarto mandamento: O relacionamento entre patrão e empregado, e entre homens e animais. Esta é a narrativa bíblica: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem o teu servo, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro”(Ex 20.10). O que vemos aqui são princípios que protegem o trabalhador e os animais de serem explorados pela ganância do homem. Mesmo o boi e o jumento deveriam ter tempo de descanso. O design da natureza exige que este ciclo seja mantido, mas o homem ganancioso facilmente ignora estas leis. Estamos no mês de Julho. Um bom tempo para quebrar a cadência da produtividade e ter um descanso merecido, reorganizar o mundo interior e o corpo que se cansa do ritmo estressante da vida moderna. Até mesmo Deus, que nunca precisa de descanso, decidiu dar uma pausa de toda obra que tinha feito. O descanso traz equilíbrio, reintegra o físico e a mente, capacita-nos a produzir de outra forma. Descansar não é apenas sábio, mas atinge um propósito espiritual, afinal, foi o próprio Deus quem instituiu o sábado.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Futuro que queremos

Pessoalmente não sou do tipo de ficar muito animado com grandes eventos e propostas. Já estive envolvido em mobilizações de massa na juventude, mas admito que sofri um certo cansaço, ao perceber que boa parte destas mobilizações nada mais eram que promoções de egos inflados e ideologias radicais. A sensação do Rio + 20 parece-me alguma coisa deste tipo. O líder do Green peace no Brasil a ridicularizou em rede nacional chamando-a de “Rio menos 20”. O atual secretário-geral das nações unidas, Ban Ki-moon da Coréia do Sul, chegou afirmando que o documento era pouco ambicioso, para desfazer seu comentário algumas horas mais tarde, pela pressão que recebeu do governo brasileiro. Hillary Clinton apareceu apenas nas últimas 24 hs do evento para tirar fotografia e fazer um discurso pálido que só conseguiu arrancar aplausos numa declaração política voltada ao direito das mulheres de decidir ter filhos quando quiserem... Qual é a causa do meu desânimo diante destes eventos? Fico frustrado ao perceber que existem muitos querendo olhar globalmente, mas são incapazes de agir localmente; envolvem-se em grandes discussões, mas são incapazes de cuidar de sua casa e abraçar seus filhos; defendem a preservação dos rios, oceanos e florestas, mas se destroem com cigarro, drogas e bebidas. Parecem ter todas as soluções diante da complexidade da sustentabilidade e da ecologia, mas não sabem ainda levantar a tampa do vaso para fazer xixi. Sinto-me como a Elis Regina que declarou: “Hoje eu sei que quem me deu a idéia, da minha consciência e juventude, está em casa, guardado por Deus, contando os vis metais”. Diante destas impressões, torno-me cético e cínico em relação a movimentos que representam fortíssimos lobbies econômicos e interesses de nações de primeiro mundo, e que se traduzem, para seus articuladores, em votos, privilégios e cargos. Todos queremos um futuro de paz e prosperidade, de consciência e cidadania – Isto é até óbvio demais para ser dito, mas a violência não diminui, o descaso e a corrupção não melhoram, e assim por diante... O futuro que queremos começa, na verdade, com pequenas decisões e atitudes que tomamos hoje, com integridade e bondade de anônimas mãos que cuidam, e que, como pequenas ondas causadas por uma pedra jogada num calmo lago, geram movimentos. O futuro começa com o presente que decido construir, afinal, “tudo o que fazemos, ecoa pela eternidade”, e “tudo que não é eterno é eternamente inútil” (C. S. Lewis).

O Juízo da História

A religião natural está cheia de advertências sobre o juízo final e nos leva a esperar uma futura retribuição pelos atos cometidos, ou algum tipo de retribuição nesta vida e na vindoura. As contradições e ambigüidades da vida nos levam a desejar que a vida possua certa coerência, e o juízo dos deuses parece ser este ponto suficiente para julgar as aberrações na história repleta de paradoxos. Vemos isto no zoroastrismo, nas religiões animistas e primitivas e no islamismo. A idéia do juízo está sempre presente. No cristianismo, o juízo é a culminação dos “prenúncios em que Deus premiou a justiça e puniu a injustiça ao longo da história” (Wayne Gruden). Deus exerce juízo e estabeleceu “um dia em que há de julgar o mundo com justiça” (At 17.31). James I. Packer afirma que “há poucas coisas na Bíblia mais fortemente destacadas que a realidade da ação de Deus como juiz”. A realidade do juízo final é estabelecida como um fato pelos juízos de Deus na história. Certamente tais princípios são claros para aqueles que crêem, mas existem muitos que não crêem no inferno, na vida após a morte, ou em juízo eterno. Aos céticos, é bom lembrar que além destes aspectos relacionados às realidades espirituais, existe ainda o juízo da história. Este juízo já começa no presente, sem perspectiva do tempo, construindo as bases para se aquilatar no futuro os reais motivos daqueles que se julgam impunes no presente. A história registra um grande número de homens que se achavam acima do bem e do mal e que foram colocados no tribunal: A crueldade de Herodes (73-4 a.C.); a depravação de Nero (37-68); a avareza de Felipe IV, o Belo (1268-1314), da França; a luxúria de Henrique VIII (1491-1547) na Inglaterra; o adultério de D. Pedro I (1798-1834) com a Marquesa de Santos, maltratando a Imperatriz D. Leopoldina, perdendo o apoio popular e tendo que renunciar ao trono; a vaidade dos Generais George S. Patton (1885-1945) e Bernard L. Montgomery (1887-1976). Todos foram desmascarados pela sua atitude. A história aquilata, pesa e julga. “Não basta dizer que a história é o juízo histórico, mas é preciso acrescentar que todo o juízo é juízo histórico, ou história, com certeza” (Benedetto Croce). A história é severa no julgamento dos atos humanos. Heróis de hoje serão expostos como ridículos, poderosos que se articulam diante de uma estrutura midiática podre e corrupta, serão expostos no futuro. As vísceras de tramas e dramas palacianos virão à tona, o mal será denunciado. Os bastidores e paetês das injustiças e massacres de ditadores serão evidenciados. A história vai zombar do que hoje se faz no secreto e por debaixo do pano. O que dirão os historiadores da representação teatral do ditador da Coréia do Norte que obrigou seus súditos a chorarem durante seu enterro para que a mídia internacional ficasse impressionada? Os submundos do mensalão e as manipulações políticas do CPI do Cachoeira virão à tona e serão entrelaçados e visibilizados. Nossos filhos rirão de coisas que hoje achamos serem verdades, e historiadores farão um novo e descomprometido relato de coisas que hoje são forjadas por interesses partidários e dos poderosos. A história julga! A história zomba! A história tem seus trunfos nas mãos. Que não se enganem os tolos...

Talentos enterrados

Luigi Tarisio (1790-1854), nascido em uma família humilde em Fontaneto d'Agogna, era carpinteiro e tocava violino como hobby, e por isto desenvolveu um grande interesse por estes instrumentos, colecionando algumas destas relíquias de finos instrumentos que não estavam em uso nas pequenas cidades e vilas no nordeste da Itália. Ele foi o primeiro colecionador de instrumentos de cordas italiano. Em 1827 adquiriu um Stradivarius de 1716 que jamais havia sido usado pelo seu proprietário, e então começou a trazer estes instrumentos para Paris, onde haviam mestres da restauração de artes e recuperou muitos destes instrumentos que hoje valem milhares de dólares e são usados em grandes salas de concertos. Após sua morte, Jean Baptiste Vuillaume, um negociante parisiense, comprou sua coleção inteira que estava guardada em uma pequena fazenda perto de Fontaneto, onde viviam os parentes de Tarisio pelo equivalente a 2,000 libras inglesas, ao manusear apenas um destes instrumentos, que incluía o mais famoso violino de todos os tempos, o “Messias”. A coleção continha 24 Stradivarius e 120 instrumentos fabricados por outros mestres Italianos. Um detalhe importante é que quando Tarisio foi encontrado morto, ele possuía parcos recursos financeiros, apesar de possuir todos estes maravilhosos instrumentos. Os violinos estavam amontoados num sótão. Na devoção com que cultivara sua coleção de instrumentos de corda, ele privara o mundo de toda a qualidade musical que aqueles instrumentos eram capazes de gerar. O primeiro Stradivarius foi tocado numa orquestra 147 anos depois de ser fabricado. Este é um bom exemplo de como podemos, por negligência, descuido e desatenção, privar o mundo daquilo que surge em nossa mão. A Bíblia fala de um homem que recebeu seu talento, e resolveu enterrá-lo, e a justificativa pela omissão estava no fato de que ele não sabia muito bem quem era o seu Senhor que lhe havia dado todos os dons. “Sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeastes, com receio, coloquei na terra os teus talentos. Aqui tens o que é teu”. A base de sua atitude foi o seu relacionamento equivocado com Deus, que lhe havia dado tantos dons. Ainda hoje há muitos com dons extraordinários, enfurnados nos seus quartos escuros, omitindo-se e escondendo-se do chamado, da vocação ou da missão que receberam de Deus. Enquanto isto, outras pessoas estão sendo privadas da harmonia e arte que possuem, dadas por Deus. A preguiça intelectual, o medo existencial, a dúvida, a insegurança, podem gerar tudo isto. Tarisio, apesar de cuidar dos seus instrumentos, terminou sua vida na pobreza, e impediu que muitos pudessem apreciar o som maravilhoso que os instrumentos de sua coleção poderiam gerar, trazendo tanta arte ao mundo inteiro.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Arte de Namorar

O comércio celebra esta semana o “dia dos namorados”, que é uma das datas mais promissoras para as vendas. Se o comércio por um lado vai bem, a arte de namorar, e continuar namorando, nem sempre. Por sermos uma sociedade descartável, ou de “amor líquido” na definição do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, as dificuldades de um casal refletem o estilo que uma comunidade mais ampla estabeleceu como padrão aceitável de relacionamento. “Nenhuma união de corpos pode, por mais que se tente, escapar à moldura social e cortar todas as conexões com outras facetas da existência social”. As relações se estabelecem com extraordinária fluidez, se movendo e alternando sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em frenético movimento. Antes do casamento, os apaixonados costumam passar horas conversando, fazendo enorme sacrifício de tempo e dinheiro para estar com a pessoa amada, mas depois de casados, perdem a capacidade de continuar namorando. As exigências familiares, criação de filhos, competitividade do mercado, treinamento constante roubam de nós o tempo para curtir um ao outro e deixar-se inebriar pelo namoro. O resultado é um grande esvaziamento no namoro. Compra-se presentes cada vez mais caros, mas eles são incapazes de substituir a simples capacidade de namorar. Como conseguir ficar casado trinta anos com a mesma mulher ou com um mesmo homem? Stephen Kanitz propõe algo inusitado no seu artigo "O segredo do casamento”. “Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu”. Ao jogar com as idéias, o que Kanitz propõe é que casais precisam encontrar caminhos para continuar namorando, “O segredo, no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter sua irrestrita atenção?” Ele ainda propõe que façamos de conta que estamos de caso novo. “Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos. Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses”. Em outras palavras, se não reconquistarmos a arte de namorar, estaremos condenando ao fracasso o nosso relacionamento. “Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive a seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par”.

Falsa Impressão

Quando o primeiro ministro da Inglaterra, Neville Chamberlain, retornou do seu encontro com Hitler em Munique, anunciou solenemente ao seu povo o acordo com o líder nazista: “Eu acredito que seja para os nossos dias, um acordo de paz com honras...” Alguns meses depois, Hitler invade a Checoslováquia, e só então Chamberlain percebe quão iludido ingenuamente otimista ele havia sido com as promessas estabelecidas. Provavelmente milhares de vidas preciosas teriam sido poupadas se ele tivesse compreensão do real perfil de seu inimigo. Esta falsa impressão lhe custou muito politicamente, e trouxe drásticas consequências para o seu país. Não é difícil estabelecermos impressões falsas sobre pessoas e situações e nos enganarmos profundamente. Por causa destes erros de julgamento, criamos uma pseudo segurança. Muitas vezes colocamos nossos recursos e investimentos em pessoas ou aplicações financeiras e o tempo nos mostra quão enganados estávamos. Outras vezes nossa estabilidade é posta no emprego, em relacionamentos ou na boa saúde que temos, mas todas estas coisas são, por sua natureza, frágeis demais. O profeta Jeremias registra as seguintes palavras que ele ouviu de Iahweh: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico, nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra. Porque destas cousas me agrado, diz o senhor” (Jr 9.23,24). A declaração de Chamberlain se mostrou motivo de ironia e sarcasmo, pois a Inglaterra teve que entrar na guerra com a Alemanha, menos de um ano depois. Quando nossa segurança está firmada em areias movediças, seremos fatalmente tragados. Infelizmente somos traídos até em nossa linguagem: Compramos “seguro de vida”, que não segura nossa vida... mas quem compraria um “seguro de morte?”. Somos traídos pela falsa impressão. Temos “cartão de crédito”, quando na verdade ele é apenas um cartão de débitos. Temos um cheque “especial” apenas para que estouremos o seu limite e descubramos que nunca fomos especiais como imaginávamos... Falsas impressões... Não confie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico na sua riqueza. Todas estas coisas dão falsa impressão de segurança, mas o homem só está verdadeiramente seguro quando firmado em Jesus. Ele é a rocha firme, e quem nele coloca sua confiança, nunca será confundido ou envergonhado.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mentalidade de dependência

O Pronatec é uma iniciativa do governo para qualificar e aperfeiçoar pessoas de baixas rendas. É um programa que oferece cursos técnicos e gratuitos de profissionalização e capacitação para pessoas que estão incluídas no Bolsa-Família. Foram escolhidos locais de fácil acesso, em regiões pobres e carentes, e ali criados centros de treinamento para que as pessoas não tenham dificuldade de chegar ao local. Além disto, durante o treinamento, as pessoas inscritas terão um pró-labore de R$ 1,00/hora. Honestamente falando, este é um dos programas mais atilados e sensatos do governo brasileiro nos últimos anos. Apesar de toda badalação em cima do bolsa/família, capacitar pessoas que não tiveram oportunidade de formação básica é um programa de empoderamento e atende aos grandes desafios que o Brasil terá pela frente nos próximos anos. Todos devem estar imaginando, portanto, que este programa é um sucesso. Errado! O programa não está deslanchando por uma razão enigmática e complexa: Não há pessoas interessadas em participar, pois não querem perder o que recebem do governo, mesmo que a média do valor do benefício do Bolsa Família em 2012 seja apenas de R$ 97,00, atendendo famílias com renda de até R$ 140,00 por pessoa e com o valor variando de R$ 22,00 a R$ 200,00, dependendo da renda e tamanho da família. Esta mentalidade de dependência aponta para uma grave patologia cultural, que se reflete não apenas no programa de ajuda a pessoas com reais necessidades, mas a atitude de trabalhadores que preferem receber o seguro/desemprego a trabalhar, assumindo atitude de parasita social. Recentemente o Fantástico denunciou vários beneficiários do Bolsa Família que vivem confortavelmente e não atendem os critérios do governo federal para receber o auxílio. Os desvios são mais um exemplo da corrupção sistêmica no Brasil, já que não faz sentido uma família receber a ajuda por critérios politiqueiros ou apenas pela pobreza da mentalidade de tirar “o máximo proveito em tudo”. Isto reflete falta de consciência moral e cidadania e contribui para o vício da esmola. É necessário mudar a forma de pensar, o que só acontece quando o exercício da cidadania é assumido e exercido. John F. Kennedy fez uma famosa afirmação: "Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país". Atitudes de dependência e governos paternalistas não são o melhor caminho para nenhum nação. Existe toda uma complexidade social e filosófica em torno desta questão, mas o princípio bíblico é que “Aquele que furtava, não furte mais, antes trabalhe para que tenha com que acudir o necessitado”. Outro texto ensina: “Aquele que não trabalha é bom que não coma!”. E isto se aplica não apenas aos pobres que retroalimentam desta mentalidade de dependência, mas de pessoas classe média, que também exploram o sistema público, buscando benefícios e chicanas jurídicas, abusando de sutilezas e brechas na lei, para trapacear, barganhar e tirar proveito. Esta mentalidade é uma tragédia e tem raízes no Brasil Colônia e em comportamentos culturais, contudo, não é próprio de países e pessoas que buscam a grandeza.

Assertivo, não agressivo!

Eudes Moraes foi um dos meus companheiros de jornada mais intrigantes e inquietantes. Dono de uma personalidade forte, tornou-se um romeiro na minha caminhada, surpreendendo-me aqui e acolá com um convite para almoçarmos juntos em Brasília. Sempre foi controvertido nas suas posições e gostava de provocar com suas divagações filosóficas, recheadas de frases de filósofos existencialistas e teólogos liberais. Nestes encontros, pude aprender muitas coisas positivas com ele, porém, um princípio que ele me comunicou definitivamente transformou minha história e meus relacionamentos. Talvez ele tenha resolvido me alertar sobre a necessidade de ser assertivo porque eu era ainda muito jovem e impulsivo, e ele percebia que eu corria riscos com os rompantes da minha personalidade. Lembro-me de questioná-lo sobre o significado de assertividade. Ele me explicou que era a capacidade de expressar pontos de vista, sem levantar a voz ou permitir que as emoções tirassem a serenidade. Então, enfaticamente me falou: “Seja assertivo, mas não agressivo nos seus diálogos!”. Este princípio tem acompanhado minha vida desde então. É fácil perder a compostura num diálogo, numa mesa de negociação, num debate, ou quando estamos numa reunião onde surgem interesses conflitantes. A tendência nesta hora é discutir, altercar, falar demais ou, em casos extremos, até mesmo perder o equilíbrio e gritar. Ser capaz de se posicionar sem se omitir, de emitir pontos de vista sem altercações ou gritarias, é coisa de gente nobre. Em duros embates o sangue sobe, as emoções se desequilibram, e o gênio explosivo associado ao temperamento desequilibrado tornam-se os senhores de nossa mente, fazendo-nos vulneráveis e tolos. A Bíblia afirma que “A palavra branda desvia o furor, mas a palavra áspera provoca ira”. Ensina-nos também que “o sábio é cauteloso e desvia-se do mal, mas o insensato encoleriza-se e dá-se por seguro” e que “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”. Poucos homens aprenderam e são capazes de controlar sua língua e a tonalidade da voz, principalmente quando estão lidando com pessoas mais fracas de sua relação ou com subordinados em sua empresa. A Bíblia diz que a palavra dura é atitude do tolo e do insensato. “A ferida de uma flecha cicatriza-se; uma floresta cortada pelo machado cresce novamente. Terrível é uma palavra áspera, a ferida que ela produz não sara” (provérbio indiano). Ser assertivo e não agressivo ainda se constitui num grande desafio para minha vida. Nunca me arrependi por ser assertivo e firme diante de situações que exigiam confrontações ou mesmo repreensões, mas já me arrependi tremendamente de ser agressivo e destemperado. Afinal, “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a boa palavra dita a ser tempo” (provérbios de Salomão)

Pensamento mágico

Um dos temas mais conhecidos da psicanálise é o mecanismo de defesa, que “tem por finalidade reduzir qualquer manifestação que pode colocar em perigo a integridade do ego, onde o indivíduo não consiga lidar com situações que por algum motivo considere ameaçadoras... As bases dos mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos, mais fortes os mecanismos de defesa ficam ativados”. Nem sempre somos capazes de resolver nossas equações emocionais de forma direta, por isto procuramos resolvê-las de forma tortuosa buscando um ajustamento, a fim de adaptar-nos às cobranças que estão diante de nós. A negação é um destes mecanismos, que nos leva a elaborar um pensamento mágico e uma distorção da realidade. Ela tem sido considerado o mecanismo de defesa mais ineficaz, pois se baseia em simplesmente negar os fatos acontecidos à base de mentiras que acabam se confundido e na maioria das vezes contrariando uma à outra. Isto facilmente acontece conosco. Um dos homens mais celebrados no Século XXI foi Steve Jobs. Na visão do seu biógrafo, Walter Isaacson, ele tinha uma visão binária do mundo. Uma coisa era “a melhor que já existiu” ou uma merda, sem cérebro. Não havia meio termo. Quando Jobs queria lidar com alguma coisa, um aborrecimento jurídico, uma questão comercial, o diagnóstico do câncer, uma disputa familiar – ele ignorava resolutamente. Alguém denominou sua atitude de “transtorno de personalidade narcisista”. Faltava-lhe a capacidade de empatia. Quando Culley, um dos seus diretores e amigos pessoais foi demitido da Apple, sua esposa Leezy, irritada com Jobs lhe disse: “Quando fito os olhos da maioria das pessoas, vejo uma alma. Quando olho dentro dos seus, vejo um poço sem fundo, um buraco vazio, uma zona morta”. Jobs tinha uma grande vontade de que o mundo fosse de uma maneira porque queria que fosse assim, no entanto, a realidade é implacável. Jobs tinha seu lado sombrio e procurava distorcer a realidade sem enfrentar eventos doloridos, preferindo negá-los. Assim fazia em questões de família, casamento e saúde. No caso de seu câncer, ao invés de procurar tratamentos convencionais, adotou a acupuntura e uma série de remédios fitoterápicos, inclusive um paranormal, e fez tratamento com vegetais orgânicos, jejuns à base de sucos e limpezas intestinais freqüentes. Era o seu “pensamento mágico”. O pressuposto de que poderia moldar as coisas de acordo com sua vontade. Não é muito difícil que isto aconteça conosco, principalmente quando a velhice se aproxima. Tendemos a minimizar a situação, as crises nos relacionamentos, nossa saúde e finanças. A mentira, porém, não se torna verdade apenas porque queremos que ela seja. Seja qual for a forma que ela vier, a despeito de nossa negação, ela será mentira. Por isto Jesus afirmou: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A verdade é o único caminho da libertação, mesmo que isto implique num duro confronto com a nossa dor e angústia. Apenas a verdade pode trazer vida. Afinal, “Toda verdade é verdade de Deus” (Os Guiness) e por antítese, a mentira conspira contra a divindade.

Quando bastante é bastante!

Nossa alma tem sempre um quê de insaciabilidade. 

Não é sem razão que a espiritualidade clássica considerou a gula como um dos pecados capitais, cuja matriz faz desabrochar outros tipos de pecados. 

A gula é conhecida por todos como o ato de comer mais do que é necessário. Mas a gula, não deve ser associada apenas a comida, a gula faz parte de todos os aspectos da vida. Geralmente vemos pessoas "gulosas" por poder, fama e dinheiro do que por comida. A gula se opõe à satisfação e ao desprendimento. Como pessoas que buscam uma espiritualidade saudável, precisamos "comer" apenas aquilo que precisamos, sem ficarmos empanturrados ou sofrermos uma congestão. 

Isto se aplica a todas as áreas da vida: trabalho, dinheiro, poder, sexo, etc. Estar ciente disto é fator importante para que não desperdicemos tempo demais da vida correndo atrás daquilo que já passou do limite ou do necessário. Não é fácil saber quando bastante é bastante. Perguntaram certa vez a Rockefeller, quando era o homem mais rico do mundo, quanto dinheiro a mais ele queria, e ele respondeu sarcasticamente: “Só um pouquinho a mais...!”. 

A gula é insaciável, e não é sem razão que os romanos nas suas orgias palacianas, instalavam pias vomitórias, para que as pessoas depois de exagerarem na comida, pudessem tocar na garganta, provocar vômito e assim voltar a comer. Recentemente fui informado que alguns povos yanomâmis, no Norte do Brasil, possuem esta mesma cultura. 

A Gula Precisa de dose cada mais alta: comida/ consumo/ sexo/ droga/ pornografia/ dinheiro... é uma forma de tentar encher-se com coisas, para satisfazer a ausência de sentido e aceitação. 

Pessoas mal amadas têm a tendência de comprar coisas para impressionar outros e para adquirir sentido; de comer muito e se empanturrar de roupas e mimos absolutamente supérfluos. Entretanto, comida e brinquedos não possuem afetos, e os adultos ainda agem infantilmente quando continuam tentando encontrar outros “brinquedos”, eventualmente mais caros e sofisticados, como forma de encher o vazio. 

Por isto a Bíblia fala do contentamento. “Contentai-vos com o vosso soldo”, disse João Batista aos soldados romanos que se arrependiam de seus pecados e queriam mudar de vida. Isto se aplica a todos nós. 

Precisamos aprender quando o que temos é bastante, e nos regozijarmos no que temos. Nossa insaciabilidade não dá espaço para gratidão e celebração. Tornamo-nos ávidos por ter mais da mesma coisa, e nos empanturrarmos de coisas que nunca usaremos. Ao invés de doarmos um pouco das roupas que temos, decidimos ampliar nossos armários com aquilo que é absolutamente supérfluo e que nunca será usado. 

Assim nos tornamos fúteis no procedimento e no consumo, simplesmente por não sabermos parar nossa desenfreada gula. Não conseguimos ver quando “bastante é bastante!”

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pai e Filho Por causa de um convite especial do meu filho e da insistência de minha esposa, o acompanhei numa viagem a trabalho. Ele gostaria de conhecer aquele país e pediu-me que eu fosse encontrá-lo após o curso. Nossa viagem seria de uma semana mergulhando numa comida diferente, explorando novos lugares e experimentando comidas tradicionais da região. Meu filho saiu de casa para estudar Administração de Empresas no Mackenzie, São Paulo, e desde então, nunca mais o tivemos em casa por um longo tempo, ele apenas aparecia nos curtos períodos de feriados, já que desde o seu primeiro ano iniciou a peregrinação de estágios em diferentes empresas. Hoje trabalha numa multinacional, construindo seu currículo profissional. Não é mais o adolescente com espinhas na cara, mas um homem falando de business e casamento. Como seria estar com ele nestes dias, compartilhando quarto de hotel, jantares e roteiros turísticos? Será que nosso diálogo ainda poderia fluir? Será que ele ainda me conhecia e eu ainda sabia quem é ele? As pessoas mudam, as experiências de vida somadas nos fazem ver as coisas em perspectivas diferentes. Estas questões impulsionaram ainda mais o meu coração. Via este encontro como um resgate da história de alguém que amei, sustentei, carreguei no colo, nas costas e vi crescer surpreendendo-me dia a dia no seu progresso. A experiência foi excelente. Pudemos compartilhar planos, temores, desejos, anseios e projetos. Pudemos falar de reminiscências e memórias. Nossas diferenças de humor e temperamento foram sobejamente positivas e trouxeram enorme riqueza ao meu coração. Depois de anos a fio, aconselhando pessoas e falando em congressos de famílias e casais, tenho percebido que saúde emocional está diretamente relacionada aos relacionamentos familiares. Família é lugar de doença e cura. Filhos constroem sua auto estima dependendo da forma como se relacionam com seus pais, especialmente com a figura paterna. Por isto, intencionalmente, pais e filhos precisam buscar aproximação de alma e afetos para que haja saúde emocional. Quando filhos vivem relacionamentos conturbados com seus pais, surgem graves distúrbios emocionais e psiquiátricos, dificultando a construção de afetos significativos e profundos e de uma compreensão mais saudável da vida. Relacionamentos conturbados levam as pessoas a oscilarem entre a acusação, suspeita e tirania com figuras de autoridade. Da mesma forma, as filhas encontram dificuldade na relação com namorados e homens, em geral, quando enfrentam problemas sérios com a figura paterna em casa. A ausência, negligência ou tirania de uma figura masculina dificulta a aceitação pessoal e o valor próprio. Estar de férias com meu filho foi um maravilhoso encontro de alma, e uma reconfortante maneira de ver como é bom cultivar vínculos significativos nesta caminhada. Isto facilita e pavimenta o caminho para acolher a próxima geração, que vai iniciar um novo ciclo de aceitação ou rejeição, dependendo de como os futuros pais e mães também construirão sua história de reciprocidade, amor e respeito na família que construirão.
Don’t be evil! Numa tradução mais simples, a frase acima pode significar: Não seja maligno. Este é o lema da Google, uma das maiores empresas do mundo virtual. Seus funcionários são constantemente motivados a agirem com esta atitude tanto com os clientes como com os colegas de trabalho, promovendo assim um bom ambiente e bem estar comunitário. Rita Lee, com seu conhecido deboche descreve a pessoa maligna: “Venenosa, erva venenosa! É pior do que cobra cascavel, seu veneno é cruel!”. Precisamos averiguar quão malignamente agimos em nossa casa, relacionamentos e mundo empresarial. É muito nos tornarmos desrespeitosos e criarmos um clima de hostilidade e tensão em nossa casa. Aprendemos a gritar, maldizer e infernizar o outro, ou simplesmente nos transformamos em pessoas silenciosamente malignas, esquecendo-nos de que o lema do diabo é “matar com bondade”. Indiferença, descaso e desprezo é a mais requintada expressão do ódio. Don’t be evil! Podemos também agir malignamente no ambiente empresarial. Muitos executivos atropelam a consciência e massacram pessoas por serem dirigidos apenas pelo lucro, gente que vende sua consciência ao diabo e acredita que a vida é assim mesmo! Funcionários também desenvolvem sua forma de hostilizar, fazendo seu trabalho com indisposição, sendo desonestos no uso do seu tempo ou nos recursos da empresa. Temos aqui a velha descrição da filosofia do Romário reclamando do salário num dos seus clubes: “Eles fingem que nos pagam, e nós fingimos que jogamos”. Em ambos os casos, temos aqui o típico ambiente do desrespeito onde o mal floresce tão facilmente. Don’t be evil! Nenhuma área tem tanto potencial para desenvolver esta dimensão de nossa malignidade que no mundo político. Por lidar com grandes recursos, a corrupção pode ser sedutora e atraente, afetando camadas sociais de forma direta. Que coisa mais maligna pode existir que um político ou funcionário que desvia dinheiro da merenda escolar? Ou aplica recursos destinados à educação e saúde em viagens e gastos supérfluos? Que realidade pode ser mais maligna que um funcionário público, muitos deles se dizendo católicos ou protestantes, portanto, auto denominados cristãos, mas que são absolutamente descarados e viciados em propina e quando não são atendidos nas suas exigências, passam a conspirar engavetando processos, criando exigências supostamente legais, para que a pessoa que se recusa a entrar no “esquema”, possa entender que “sem propina não vai?”. Estar nas mãos de funcionários sem caráter é simplesmente devastador. Portanto, Don’t be evil! Em inglês, Evil (maligno), na sua grafia, é oposto a to live (viver). O mal é oposto a própria vida. É o reverso da existência. Quando nos tornamos evil estamos destruindo a própria realidade de existir. Tudo o que é maligno é destrutivo e empobrece a vida. Atitudes malignas dão energia ao mal. Além do mais, o maligno é oponente de Deus e conspira contra o Reino de Deus. Quanto mais nos afundamos no mal, mais nos distanciamos de Deus. Portanto, Don’t be evil!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Don’t be evil! Numa tradução mais simples, a frase acima pode significar: Não seja maligno. Este é o lema da Google, uma das maiores empresas do mundo virtual. Seus funcionários são constantemente motivados a agirem com esta atitude tanto com os clientes como com os colegas de trabalho, promovendo assim um bom ambiente e bem estar comunitário. Rita Lee, com seu conhecido deboche descreve a pessoa maligna: “Venenosa, erva venenosa! É pior do que cobra cascavel, seu veneno é cruel!”. Precisamos averiguar quão malignamente agimos em nossa casa, relacionamentos e mundo empresarial. É muito nos tornarmos desrespeitosos e criarmos um clima de hostilidade e tensão em nossa casa. Aprendemos a gritar, maldizer e infernizar o outro, ou simplesmente nos transformamos em pessoas silenciosamente malignas, esquecendo-nos de que o lema do diabo é “matar com bondade”. Indiferença, descaso e desprezo é a mais requintada expressão do ódio. Don’t be evil! Podemos também agir malignamente no ambiente empresarial. Muitos executivos atropelam a consciência e massacram pessoas por serem dirigidos apenas pelo lucro, gente que vende sua consciência ao diabo e acredita que a vida é assim mesmo! Funcionários também desenvolvem sua forma de hostilizar, fazendo seu trabalho com indisposição, sendo desonestos no uso do seu tempo ou nos recursos da empresa. Temos aqui a velha descrição da filosofia do Romário reclamando do salário num dos seus clubes: “Eles fingem que nos pagam, e nós fingimos que jogamos”. Em ambos os casos, temos aqui o típico ambiente do desrespeito onde o mal floresce tão facilmente. Don’t be evil! Nenhuma área tem tanto potencial para desenvolver esta dimensão de nossa malignidade que no mundo político. Por lidar com grandes recursos, a corrupção pode ser sedutora e atraente, afetando camadas sociais de forma direta. Que coisa mais maligna pode existir que um político ou funcionário que desvia dinheiro da merenda escolar? Ou aplica recursos destinados à educação e saúde em viagens e gastos supérfluos? Que realidade pode ser mais maligna que um funcionário público, muitos deles se dizendo católicos ou protestantes, portanto, auto denominados cristãos, mas que são absolutamente descarados e viciados em propina e quando não são atendidos nas suas exigências, passam a conspirar engavetando processos, criando exigências supostamente legais, para que a pessoa que se recusa a entrar no “esquema”, possa entender que “sem propina não vai?”. Estar nas mãos de funcionários sem caráter é simplesmente devastador. Portanto, Don’t be evil! Em inglês, Evil (maligno), na sua grafia, é oposto a to live (viver). O mal é oposto a própria vida. É o reverso da existência. Quando nos tornamos evil estamos destruindo a própria realidade de existir. Tudo o que é maligno é destrutivo e empobrece a vida. Atitudes malignas dão energia ao mal. Além do mais, o maligno é oponente de Deus e conspira contra o Reino de Deus. Quanto mais nos afundamos no mal, mais nos distanciamos de Deus. Portanto, Don’t be evil!
Uma nova espiritualidade Todo conceito judaico de adoração firmava-se sobre a idéia dos sacrifícios e holocaustos. Para adorar a Deus, oferecia-se um animal, de acordo com suas posses. Este pensamento está presente mesmo antes da lei, já que Abel “pegou o primeiro carneirinho, nascido do seu rebanho, matou-o e ofereceu as melhores partes ao Senhor” (Gn 4.4 NTLH). Quando iniciamos a leitura das leis, as recomendações sobre o culto levitico são claras: “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: quando alguém de vós trouxer oferta ao Senhor, trareis a vossa oferta de gado, de rebanho ou de gado miúdo” (Lv 1.3). O autor aos hebreus afirma: “com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb 9.22). No entanto, ao lermos os textos posteriores dos salmistas e dos profetas, vemos surgir uma nova forma de espiritualidade. O Sl 40.6 afirma: “Sacrifícios e ofertas não quiseste... holocaustos e ofertas pelos pecados não requeres”. Esta é uma nova forma de adorar a Deus, demonstrando que o Antigo Testamento apresenta uma revelação progressiva da espiritualidade do povo de Deus. Os profetas questionam o estilo de adoração meramente ritualista que consistia na prática de oferendas e holocaustos a Yahweh. “De que me serve a mim, a multidão de vossos sacrifícios? Diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes” (Is 1.11). Deus revela que seu interesse não está em ofertas que se trazem, mas no coração. Ofertas naturalmente revelam o coração, mas não podem ser feitas como tentativas de apaziguar a ira de Deus diante dos nossos pecados. Malaquias indaga o tipo de oferta que as pessoas traziam: “Com tais ofertas nas vossas mãos, aceitará ele a vossa pessoa? – diz o Senhor dos Exércitos” (Mal 1.9). Nossos recursos revelam nosso coração. Mas o que Deus deseja é o nosso coração; essencialmente não o que damos, mas como damos e porque damos. Ofertas e sacrifícios são sinais que revelam o nosso coração. Este é o princípio básico de adoração no Novo Testamento. Deus está interessado em corações, não nas formas. Em João 4, no encontro com a mulher Samaritana, Jesus estabelece claramente o princípio da espiritualidade cristã: “Vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores do Pai o adorarão em Espírito e em verdade, porque são estes adoradores que o Pai busca para si”. Adoração de ritos, formas, tradições e hábitos, não satisfaz o coração de Deus. Deus está procurando adoradores cujos corações estejam inclinados para si. São estes adoradores que o Pai celestial procura.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

É chegada a Páscoa! As gôndolas dos supermercados estão repletas de alusões à Páscoa. Para os chocólatras e crianças enfeitiçadas pelas cores e formatos dos ovos de chocolate, esta data é mágica. Chegou a Páscoa! Com todo o seu fascínio sobre uma sociedade que busca pretexto para consumir. A indústria e o comércio agradecem os bons lucros aferidos. A origem e o significado da páscoa, contudo, não tem nenhuma conexão com o que é exibido nas prateleiras. Páscoa originalmente vem do hebraico Peshah, e remonta a uma época muito antiga, quando o povo de Deus estava saindo do Egito em direção à terra prometida. O ambiente era tenso, violentas batalhas verbais entre Faraó e um bando de escravos em rebelião, liderados pelo desconhecido personagem Moisés. Nove pragas já haviam sido dispensadas sobre a nação egípcia, sinalizando o desejo de Yahweh em libertar o seu povo, no entanto, Faraó continuava irredutível no seu propósito de manter a mão de obra escrava sob seu domínio. A décima seria a morte dos primogênitos e todo povo judeu foi conclamado para entrar em casa, sacrificar um cordeiro e comer a carne, acompanhada de ervas amargas e com as mochilas prontas para viajar. O ambiente era de guerra, e Deus efetuou um enorme livramento sobre aquele povo como é bem conhecido na história. No Novo Testamento, a Páscoa assume outra dimensão. Desta vez, outro Cordeiro é imolado, na véspera da páscoa judaica. Mais uma vez, o clima é tenso! Jesus, um homem que andava fazendo o bem entre o povo, curando e anunciando a chegada do reino de Deus, agora é acusado de conspiração contra o templo e contra a religião judaica, razão suficiente para a morte; foi também acusado de se auto-proclamar rei, tornando-se assim uma ameaça ao Império Romano, e por isto foi acusado de sedição. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, segue para a cruz, como ovelha muda perante seus tosquiadores, sem abrir sua boca. Ali, a verdadeira e definitiva páscoa se cumpre integralmente. Os cordeiros que foram mortos na páscoa judaica, apenas apontavam para outro Cordeiro, agora, o Deus encarnado, que haveria de vir. No Egito, a morte do cordeiro trouxe libertação, com o sinal do sangue nos portais das casas – Esta é a Páscoa Judaica; no Gólgota, outro sangue é derramado na cruz, o do Cordeiro Eterno – Esta é a páscoa cristã. Em ambas anuncia libertação da opressão, do cativeiro, do domínio de forças malignas e do pecado. Qual a relação entre a páscoa judaica, a cristã, e a páscoa atual? Rigorosamente nenhuma. Em nossos dias, o coelho aparece como penetra da festa e usurpa o lugar do cordeiro. Um coelho mágico, que bota ovos de todas as cores e tamanhos, substitui e oculta o cordeiro. Páscoa não é a festa de coelho, o centro da páscoa é o Cordeiro. Trazer esta lembrança aos nossos corações é de fundamental importância. Afinal, na cruz de Cristo, temos o epicentro de toda história da redenção de Deus a favor da humanidade. Entender e acolher tal verdade em nosso coração tem implicações eternas. Trata-se de verdades espirituais e não podemos permitir que o coelho com sua cartola mágica, com sua elegância e simpatia, obscureça e oculte o grande significado da páscoa: Cristo morreu por nós para que vivamos por Ele!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Decoração, arquitetura e personalidade

Jesus apropriadamente ensinou que “a boca fala daquilo que o coração está cheio”. Não há nada que verbalizamos que não tenha antes tenha passado pelo coração, nem mesmo quando fazemos afirmações perniciosas, agressivas ou rudes, sob o efeito das emoções, da bebida ou das drogas. Podemos e devemos nos desculpar, mas este ato falho revela o que estava dentro de nós. Sob o efeito do álcool apenas encontramos a coragem para falar daquilo que não diríamos com sobriedade. Não há nada que dizemos que não venha do coração.
Com o passar dos anos, aprendemos que outras coisas também demonstram e revelam nossa alma. A decoração, arquitetura e ornamentação de uma casa falam muito sobre o momento que vivemos ou de nossa personalidade.
Ao visitar uma família, facilmente observamos como estão dispostos os móveis, a colocação dos quadros e as plantas que ornamentam a casa, se a casa está limpa e em ordem, ou se suja e mal conservada. Não precisamos de poderes sobrenaturais, místicos ou sensitivos para ver o coração das pessoas refletido na disposição da decoração. Alguns detalhes revelam tristeza, alegria, decepção e até mesmo opressão espiritual ou alegria, celebração e paz de espírito. Plantas morrendo secas, móveis entulhados ou mal posicionados, quadros fora do lugar ou tortos, ausência ou excesso dos mesmos falam por si só. Arquitetura revela a alma.
Visitei uma família cuja quantidade de caixas, restos de tintas, quartos entulhados e apertados, refletiam bem lixos emocionais não descartados, decepções e frustrações vivenciadas e acumuladas em suas almas por uma suposta traição enfrentada. Se jogassem metade daquelas coisas velhas isto não lhes faria mal. Se atirassem pela janela aquelas podres emoções que os atormentavam também seriam muito mais leves. O lixo da casa refletia o lixo do coração.
Ausência de móveis e decorações pode refletir o desprazer e desinteresse das pessoas que não querem investir no estético e no belo, mas pode, ambivalentemente, revelar leveza e despojamento. O que conta não é se são poucos ou muitos móveis, mas o conjunto e a harmonia. Não é apenas uma questão de muita ou pouca mobília, mas de sincronização dos elementos.
Arte é um poderoso elemento de comunicação. Uma decoração não serve apenas para ornamentar a casa, mas serve para denunciar ou exaltar a qualidade de vida emocional que uma determinada família experimenta. Arte reflete personalidade.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Ciclos da Vida

A casa que compramos era de uma senhora simpática, que havia morado no mesmo endereço por 35 anos. Depois da transferência da escritura, ela nos acompanhou para entregar a chave e mostrar registros de água e detalhes da propriedade. Seu marido falecera 3 meses antes e ela chegara à conclusão de que era hora de mudança. Na saída, visivelmente emocionada, ela pediu à minha esposa que a acompanhasse, porque ela “não sabia” como sair daquela casa repleta de histórias e lembranças familiares. Abraçadas, foram chorando até o carro onde o motorista a esperava.
Fechar ciclos ou “gestalts” não é nada fácil. Mudanças alteram nosso humor e “modus vivendis”, provocam alterações hormonais e psicossomáticas, gerando desequilíbrio em nossas estruturas físicas e psicológicas.
Acompanhei recentemente meus pais fechando um ciclo de sua história. Viveram alternando entre a chácara e a casa da cidade por 44 anos, às vezes fazendo este percurso por mais de uma vez num mesmo dia, mas ultimamente não estavam conseguindo lidar com as exigências que estas tarefas traziam. Idosos, mostravam-se cansados e impacientes com as cobranças legais e administrativas, e com a dificuldade cada vez maior de encontrar alguém para trabalhar na chácara. Finalmente decidiram vender sua propriedade e agora realmente existe uma enorme incógnita sobre este novo ciclo que se inicia.
Eventualmente temos que fechar ciclos da história e recomeçar outros. Alguns destes ciclos são traumáticos, turbulentos e doloridos. Envolvem lutos, divórcios, longas enfermidades, rupturas em relacionamentos doentios, mas mesmo assim é dolorido virar a página para escrever novos capítulos.
Muitas vezes são ciclos abençoados, frutíferos, de grandes colheitas, lucros, benditos dias, mas que ainda assim, por contingências históricas precisam ser fechadas.
Moisés, o grande legislador de Israel, aos 40 anos teve que encerrar o ciclo de burguesia, glamour e vida palaciana e se dirigir ao deserto. Aos 80 anos, quando aparentemente nada diferente surgiria, é chamado para abandonar sua vida de pacato guardador de ovelhas em Padã-Arã e assumir a liderança do povo de Israel. Novos desafios. Novas experiências. Novo ciclo.
Não se apavore com as mudanças. Afinal, iniciar um novo momento, apesar de nos assustar um pouco, pode ser o início de um novo e fascinante tempo na nossa história de vida. O autor de Eclesiastes afirma: “Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar!”.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Ser ignorado

Jean Paul Sartre, um dos ícones do existencialismo, fez muitas afirmações complexas e perigosas, mas uma delas me fascinou: “Se não nos olham, secamos”.
Recentemente um texto extraído da tese de mestrado defendida pelo psicólogo social Fernando Braga da Costa da USP, cujo título é “invisibilidade pública” chamou a atenção da mídia. Para ter a mesma perspectiva do pobre, ele fingiu ser gari por um mês. Durante este tempo varreu as ruas da USP e comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado hierarquicamente, torna-se mera sombra social.
Ele constatou que para a maioria, os trabalhadores braçais são “seres invisíveis, sem nome”. A percepção humana é totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Costa trabalhava apenas meio período como gari e não recebia salário, mas garante que teve uma grande lição de vida: “Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”. O pesquisador sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como ser humano.
Ele descreve que professores que o abraçavam nos corredores da USP agora passavam por ele e não o reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam nele sem ao menos pedir desculpas, como se tivessem encostado em um poste ou orelhão.
No primeiro dia de trabalho, na hora do café, colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto, só que não havia caneca. Houve então um clima estranho no ar, já que ele era um sujeito vindo de outra classe, varrendo a rua com eles. Um deles então, foi ao latão de lixo, pegou duas latinhas de refrigerante, cortou-as pela metade e serviu o café. E como estavam num grupo grande, ele esperou que se servissem primeiro. No momento em que empunhou a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: “Será que ele vai se sujeitar a beber nessa caneca?” Tão logo ele bebeu,
a ansiedade parece ter evaporado, e eles passaram a conversar, a contar piada e brincar.
Certa vez, ele entrou no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passou pelo andar térreo, subiu a escada, foi ao segundo andar, à biblioteca, em frente ao centro acadêmico onde tinha muita gente conhecida, no entanto, fez todo esse trajeto sem que alguém, em absoluto o tivesse notado.
A solidão, o anonimato e a despersonalização, são características da sociedade moderna. A forte ênfase no individualismo nos faz perder a dimensão social que culturas primitivas e pessoas de zona rural sempre tiveram. Esta é uma das maiores causas de angústia do homem moderno. A dificuldade em se conectar, dialogar, reconhecer e estar com o outro. Lutar para romper com esta perigosa zona que vivemos, é um dos grandes desafios atuais.

Restaurando relacionamentos

Steve Jobs nunca teve qualquer relacionamento com seu pai biológico. Ao nascer, seus pais resolveram encaminhá-lo para o departamento público dos Estados Unidos que cuida do processo de adoção. Ele conheceu sua mãe biológica, mas nunca quis sequer se aproximar do pai, e referia-se a eles, sarcasticamente: “Eles foram meu banco de esperma e óvulo – e isso não é grosseria, é apenas o modo como as coisas aconteceram, um banco de esperma, nada mais”.
Mesmo depois de se aproximar de sua irmã, Mona Simpson, nunca quis conhecer o pai, apesar dos apelos da irmã. Além do mais, nunca permitiu que sua irmã falasse dele ao pai, que ignorava completamente seu paradeiro.
Um dos relatos mais dramáticos na sua biografia narrada por Walter Isaacson, se dá quando seu pai, numa conversa com sua irmã, lhe mencionou que como cozinheiro havia trabalhado num restaurante de comida mediterrânea ao norte de San José, Califórnia: “Era um belo lugar, todo pessoal bem sucedido da área de tecnologia costumava freqüentá-lo. Até Steve Jobs”. Ao ouvir tal relato, sua irmã afirma que espantou-se mas resistiu à tentação de deixar escapar: “Steve Jobs é seu filho!”
Lendo tais relatos, fico pensando em quanto empobrecemos quando relacionamentos são quebrados. Este é um sentimento quando perco algum amigo: “Fiquei mais pobre!”. Senti-me assim com a perda de amigos como Dr. Altanir, Dr. Illion Fleury e Sérgio Campos. Eu estava mais pobre!
Não penso que o pai de Jobs tivesse empobrecido porque seu filho era um dos homens mais populares, ricos e ovacionados em nossa geração, mas porque deve ser dolorido saber que o filho que não pude criar, é um homem que hoje admiro e não posso chegar perto dele e lhe dar um abraço de pai.
Relacionamentos quebrados empobrecem a alma; perdemos ao nos afastar de pais, irmãos, esposa, filhos e amigos, independentemente de encontrarmos ou não razões plausíveis para justificar o distanciamento.
A boa notícia é que relacionamentos estragados podem ser reparados. Deus fez assim conosco por meio de Jesus. A Bíblia afirma que “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo”. Mostra também Jacó reconciliando com Esaú depois de ter enfiado os pés pelas mãos; mostra o Pai recebendo o filho pródigo. Sempre é possível, e salutar, restaurar relacionamentos, perdoar, reconciliar, refazer. O efeito e impacto é sempre muito salutar, tanto naqueles que estão diretamente envolvidos nestas rupturas, quanto nas gerações que os seguem.

PIB ou IDH?

A quantidade de índices e nomenclaturas usadas no Brasil gera muita confusão e muitas pessoas encontram dificuldades para identificar o significado de cada uma delas. Fico imaginando um gringo tentando entender o que significa INSS, IPVA, DETRAN, DNIT, IPTU, PIB, IDH, etc...
IDH, Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de "desenvolvimento humano”. Leva em conta o acesso à Educação, saúde, condições sanitárias, lazer, salário, etc. O PIB refere-se ao Produto Interno Bruto, isto é, a soma de todas as riquezas de uma nação.
No final do ano passado, o Brasil celebrou o fato de que nosso PIB se tornou o 6º do mundo, superando a França. Não é coisa do somenos importância, mas ao considerar o IDH, percebemos que ainda não temos muita coisa a celebrar, afinal, o relatório do Desenvolvimento Humano 2011, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), classifica o Brasil na 84ª posição entre 187 países avaliados pelo índice. O grande desafio está em transformar a riqueza do Brasil em uma melhor qualidade de vida.
Este mesmo desafio pode ser aplicado também à nossa própria vida. Temos tido mais acesso a bens de consumo, educação, vestiário, temos roupas mais caras, acesso a viagens mais dispendiosas, mas será que nosso índice pessoal de qualidade de vida tem melhorado? Temos realmente vivido melhor com os recursos que temos?
A verdade é que temos aumentado nossos portfólios, nossa poupança, compramos bens de consumo mais sofisticados, carros mais luxuosos e casas mais amplas, mas que não tem se traduzido num melhor estilo de vida. As pessoas ganham mais, mas estão se tornando existencialmente mais pobres quanto ao seu bem estar psicológico, seu mundo emocional e seus relacionamentos, valores estes indispensáveis a um estilo de vida saudável. Rivotril, remédio usado contra a ansiedade, é o segundo mais consumido em nosso país. Temos mais, mas estamos mais solitários em nossa vida, e espiritualmente mais vazios.
É bom lembrar que o que importa não é o quanto recebemos de pagamento durante o ano, nem quanto acumulamos ou ganhamos em nossos negócios, mas se nossa experiência de vida tem nos levado a viver de forma mais profunda, mais realizada e plena. O que importa não é se temos mais, mas se vivemos melhor. No final das contas, o PIB pode ajudar o nosso IDH, mas isto não significa que por termos mais riquezas, teremos um estilo de vida melhor.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Para a Glória da Arte

A França não apenas perdeu a posição de 6ª economia do mundo para o Brasil em 2011, mas tem perdido sistematicamente seu senso ético e espiritual. Desde o surgimento do existencialismo no final do Século XIX, nos glamorosos cafés parisienses, com Jean Paul Sartre, desprezando Deus e o ceticismo clássico desta corrente filosófica, passando por Albert Camus (que apesar de ser nigeriano teve toda sua formação na França), com a incapacidade de encontrar sentido na existência e Simone de Beauvoir (companheira de Sartre por toda a vida e que se recusou a casar apenas para ser contracultura), a França tem perdido o senso do Sagrado.
Uma amiga de nossa família, que freqüentou prestigiada universidade em Paris, nos relatou que ficava absolutamente estupefata com a depravação de suas colegas. Orgias e cenas que acontecem em nossos meios, mas que ainda geram uma atitude de recato, são praticadas publicamente sem nenhuma preocupação. Fossem tais comportamentos relacionados aos costumes, à fé, à Moral ou à família. A ordem era zombar, desconstruir e depreciar tudo que é considerado valor numa sociedade tradicional. Em vésperas de provas ou final de semestre, os alunos compravam cocaína para realizarem seus testes. E isto não era algo feito às escuras...
Num dos mais apreciados museus da cidade, existe na entrada majestosa os seguintes dizeres: “Para a glória da arte”. Ao contemplar esta frase veio à minha mente a atitude de um dos maiores compositores clássicos que já tivemos, Juan Sebastian Bach, que ao final de suas composições escrevia seu nome e colocava a frase: “Soli Deo Glori” (Só a Deus, a glória). A grandiosidade de sua arte era dedicada a Deus. A arte era o meio e não o fim. Ele nunca quis glorificar a arte, mas a Deus, que dava o talento, e era, em última instância, o autor de toda arte.
John Harvard, fundador da prestigiada universidade que leva o seu nome, era um homem dedicado ao estudo da Palavra de Deus e professor de Escola Dominical de sua igreja. No principal portão de entrada, podemos ainda ver inscritas frases em caracteres do tipo romano, a visão daquela universidade. Ela foi criada para glorificar a Deus, embora saibamos que sua visão esteja hoje tão distorcida.
Fico pensando nas graves conseqüências desta inversão pós moderna. A França foi um dos berços do humanismo e iluminismo (que teve sua expressão maior na Inglaterra), tornou-se vanguarda no mundo da arte, da filosofia e da moda, mas me angústia pensar numa sociedade que por causa de suas conquistas históricas, passa a desprezar Deus.
Em Paris Deus é o grande ausente. Os templos, todos antigos, possuem referência apenas mitológicas, confundindo-se com gárgulas, que na arquitetura, são desaguadouros que se destinam a escoar águas pluviais, duendes, e imagens de santos, de Maria e de Jesus. Deus não parece ser real, os edifícios religiosos se transformaram em museus (lugar de relíquias e altares para nos lembrar um tempo, retrógado, em que os homens ainda criam em Deus), e cemitérios para enterrar seus mortos e não para celebrar o Deus da vida.
Quando Deus perde o direito de ser glorificado, e a arte, a ciência e o materialismo, ocupam este lugar central, passa-se a adorar a criatura em lugar do criador. Esta é a melhor definição do idolatria que encontramos na Bíblia.