terça-feira, 22 de maio de 2012

Pensamento mágico

Um dos temas mais conhecidos da psicanálise é o mecanismo de defesa, que “tem por finalidade reduzir qualquer manifestação que pode colocar em perigo a integridade do ego, onde o indivíduo não consiga lidar com situações que por algum motivo considere ameaçadoras... As bases dos mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos, mais fortes os mecanismos de defesa ficam ativados”. Nem sempre somos capazes de resolver nossas equações emocionais de forma direta, por isto procuramos resolvê-las de forma tortuosa buscando um ajustamento, a fim de adaptar-nos às cobranças que estão diante de nós. A negação é um destes mecanismos, que nos leva a elaborar um pensamento mágico e uma distorção da realidade. Ela tem sido considerado o mecanismo de defesa mais ineficaz, pois se baseia em simplesmente negar os fatos acontecidos à base de mentiras que acabam se confundido e na maioria das vezes contrariando uma à outra. Isto facilmente acontece conosco. Um dos homens mais celebrados no Século XXI foi Steve Jobs. Na visão do seu biógrafo, Walter Isaacson, ele tinha uma visão binária do mundo. Uma coisa era “a melhor que já existiu” ou uma merda, sem cérebro. Não havia meio termo. Quando Jobs queria lidar com alguma coisa, um aborrecimento jurídico, uma questão comercial, o diagnóstico do câncer, uma disputa familiar – ele ignorava resolutamente. Alguém denominou sua atitude de “transtorno de personalidade narcisista”. Faltava-lhe a capacidade de empatia. Quando Culley, um dos seus diretores e amigos pessoais foi demitido da Apple, sua esposa Leezy, irritada com Jobs lhe disse: “Quando fito os olhos da maioria das pessoas, vejo uma alma. Quando olho dentro dos seus, vejo um poço sem fundo, um buraco vazio, uma zona morta”. Jobs tinha uma grande vontade de que o mundo fosse de uma maneira porque queria que fosse assim, no entanto, a realidade é implacável. Jobs tinha seu lado sombrio e procurava distorcer a realidade sem enfrentar eventos doloridos, preferindo negá-los. Assim fazia em questões de família, casamento e saúde. No caso de seu câncer, ao invés de procurar tratamentos convencionais, adotou a acupuntura e uma série de remédios fitoterápicos, inclusive um paranormal, e fez tratamento com vegetais orgânicos, jejuns à base de sucos e limpezas intestinais freqüentes. Era o seu “pensamento mágico”. O pressuposto de que poderia moldar as coisas de acordo com sua vontade. Não é muito difícil que isto aconteça conosco, principalmente quando a velhice se aproxima. Tendemos a minimizar a situação, as crises nos relacionamentos, nossa saúde e finanças. A mentira, porém, não se torna verdade apenas porque queremos que ela seja. Seja qual for a forma que ela vier, a despeito de nossa negação, ela será mentira. Por isto Jesus afirmou: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A verdade é o único caminho da libertação, mesmo que isto implique num duro confronto com a nossa dor e angústia. Apenas a verdade pode trazer vida. Afinal, “Toda verdade é verdade de Deus” (Os Guiness) e por antítese, a mentira conspira contra a divindade.

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