Nossa alma tem sempre um quê de insaciabilidade.
Não é sem razão que a espiritualidade clássica considerou a gula como um dos pecados capitais, cuja matriz faz desabrochar outros tipos de pecados.
A gula é conhecida por todos como o ato de comer mais do que é necessário. Mas a gula, não deve ser associada apenas a comida, a gula faz parte de todos os aspectos da vida. Geralmente vemos pessoas "gulosas" por poder, fama e dinheiro do que por comida. A gula se opõe à satisfação e ao desprendimento.
Como pessoas que buscam uma espiritualidade saudável, precisamos "comer" apenas aquilo que precisamos, sem ficarmos empanturrados ou sofrermos uma congestão.
Isto se aplica a todas as áreas da vida: trabalho, dinheiro, poder, sexo, etc. Estar ciente disto é fator importante para que não desperdicemos tempo demais da vida correndo atrás daquilo que já passou do limite ou do necessário.
Não é fácil saber quando bastante é bastante. Perguntaram certa vez a Rockefeller, quando era o homem mais rico do mundo, quanto dinheiro a mais ele queria, e ele respondeu sarcasticamente: “Só um pouquinho a mais...!”.
A gula é insaciável, e não é sem razão que os romanos nas suas orgias palacianas, instalavam pias vomitórias, para que as pessoas depois de exagerarem na comida, pudessem tocar na garganta, provocar vômito e assim voltar a comer. Recentemente fui informado que alguns povos yanomâmis, no Norte do Brasil, possuem esta mesma cultura.
A Gula Precisa de dose cada mais alta: comida/ consumo/ sexo/ droga/ pornografia/ dinheiro... é uma forma de tentar encher-se com coisas, para satisfazer a ausência de sentido e aceitação.
Pessoas mal amadas têm a tendência de comprar coisas para impressionar outros e para adquirir sentido; de comer muito e se empanturrar de roupas e mimos absolutamente supérfluos. Entretanto, comida e brinquedos não possuem afetos, e os adultos ainda agem infantilmente quando continuam tentando encontrar outros “brinquedos”, eventualmente mais caros e sofisticados, como forma de encher o vazio.
Por isto a Bíblia fala do contentamento. “Contentai-vos com o vosso soldo”, disse João Batista aos soldados romanos que se arrependiam de seus pecados e queriam mudar de vida. Isto se aplica a todos nós.
Precisamos aprender quando o que temos é bastante, e nos regozijarmos no que temos.
Nossa insaciabilidade não dá espaço para gratidão e celebração. Tornamo-nos ávidos por ter mais da mesma coisa, e nos empanturrarmos de coisas que nunca usaremos. Ao invés de doarmos um pouco das roupas que temos, decidimos ampliar nossos armários com aquilo que é absolutamente supérfluo e que nunca será usado.
Assim nos tornamos fúteis no procedimento e no consumo, simplesmente por não sabermos parar nossa desenfreada gula. Não conseguimos ver quando “bastante é bastante!”
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