segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Futuro que queremos

Pessoalmente não sou do tipo de ficar muito animado com grandes eventos e propostas. Já estive envolvido em mobilizações de massa na juventude, mas admito que sofri um certo cansaço, ao perceber que boa parte destas mobilizações nada mais eram que promoções de egos inflados e ideologias radicais. A sensação do Rio + 20 parece-me alguma coisa deste tipo. O líder do Green peace no Brasil a ridicularizou em rede nacional chamando-a de “Rio menos 20”. O atual secretário-geral das nações unidas, Ban Ki-moon da Coréia do Sul, chegou afirmando que o documento era pouco ambicioso, para desfazer seu comentário algumas horas mais tarde, pela pressão que recebeu do governo brasileiro. Hillary Clinton apareceu apenas nas últimas 24 hs do evento para tirar fotografia e fazer um discurso pálido que só conseguiu arrancar aplausos numa declaração política voltada ao direito das mulheres de decidir ter filhos quando quiserem... Qual é a causa do meu desânimo diante destes eventos? Fico frustrado ao perceber que existem muitos querendo olhar globalmente, mas são incapazes de agir localmente; envolvem-se em grandes discussões, mas são incapazes de cuidar de sua casa e abraçar seus filhos; defendem a preservação dos rios, oceanos e florestas, mas se destroem com cigarro, drogas e bebidas. Parecem ter todas as soluções diante da complexidade da sustentabilidade e da ecologia, mas não sabem ainda levantar a tampa do vaso para fazer xixi. Sinto-me como a Elis Regina que declarou: “Hoje eu sei que quem me deu a idéia, da minha consciência e juventude, está em casa, guardado por Deus, contando os vis metais”. Diante destas impressões, torno-me cético e cínico em relação a movimentos que representam fortíssimos lobbies econômicos e interesses de nações de primeiro mundo, e que se traduzem, para seus articuladores, em votos, privilégios e cargos. Todos queremos um futuro de paz e prosperidade, de consciência e cidadania – Isto é até óbvio demais para ser dito, mas a violência não diminui, o descaso e a corrupção não melhoram, e assim por diante... O futuro que queremos começa, na verdade, com pequenas decisões e atitudes que tomamos hoje, com integridade e bondade de anônimas mãos que cuidam, e que, como pequenas ondas causadas por uma pedra jogada num calmo lago, geram movimentos. O futuro começa com o presente que decido construir, afinal, “tudo o que fazemos, ecoa pela eternidade”, e “tudo que não é eterno é eternamente inútil” (C. S. Lewis).

O Juízo da História

A religião natural está cheia de advertências sobre o juízo final e nos leva a esperar uma futura retribuição pelos atos cometidos, ou algum tipo de retribuição nesta vida e na vindoura. As contradições e ambigüidades da vida nos levam a desejar que a vida possua certa coerência, e o juízo dos deuses parece ser este ponto suficiente para julgar as aberrações na história repleta de paradoxos. Vemos isto no zoroastrismo, nas religiões animistas e primitivas e no islamismo. A idéia do juízo está sempre presente. No cristianismo, o juízo é a culminação dos “prenúncios em que Deus premiou a justiça e puniu a injustiça ao longo da história” (Wayne Gruden). Deus exerce juízo e estabeleceu “um dia em que há de julgar o mundo com justiça” (At 17.31). James I. Packer afirma que “há poucas coisas na Bíblia mais fortemente destacadas que a realidade da ação de Deus como juiz”. A realidade do juízo final é estabelecida como um fato pelos juízos de Deus na história. Certamente tais princípios são claros para aqueles que crêem, mas existem muitos que não crêem no inferno, na vida após a morte, ou em juízo eterno. Aos céticos, é bom lembrar que além destes aspectos relacionados às realidades espirituais, existe ainda o juízo da história. Este juízo já começa no presente, sem perspectiva do tempo, construindo as bases para se aquilatar no futuro os reais motivos daqueles que se julgam impunes no presente. A história registra um grande número de homens que se achavam acima do bem e do mal e que foram colocados no tribunal: A crueldade de Herodes (73-4 a.C.); a depravação de Nero (37-68); a avareza de Felipe IV, o Belo (1268-1314), da França; a luxúria de Henrique VIII (1491-1547) na Inglaterra; o adultério de D. Pedro I (1798-1834) com a Marquesa de Santos, maltratando a Imperatriz D. Leopoldina, perdendo o apoio popular e tendo que renunciar ao trono; a vaidade dos Generais George S. Patton (1885-1945) e Bernard L. Montgomery (1887-1976). Todos foram desmascarados pela sua atitude. A história aquilata, pesa e julga. “Não basta dizer que a história é o juízo histórico, mas é preciso acrescentar que todo o juízo é juízo histórico, ou história, com certeza” (Benedetto Croce). A história é severa no julgamento dos atos humanos. Heróis de hoje serão expostos como ridículos, poderosos que se articulam diante de uma estrutura midiática podre e corrupta, serão expostos no futuro. As vísceras de tramas e dramas palacianos virão à tona, o mal será denunciado. Os bastidores e paetês das injustiças e massacres de ditadores serão evidenciados. A história vai zombar do que hoje se faz no secreto e por debaixo do pano. O que dirão os historiadores da representação teatral do ditador da Coréia do Norte que obrigou seus súditos a chorarem durante seu enterro para que a mídia internacional ficasse impressionada? Os submundos do mensalão e as manipulações políticas do CPI do Cachoeira virão à tona e serão entrelaçados e visibilizados. Nossos filhos rirão de coisas que hoje achamos serem verdades, e historiadores farão um novo e descomprometido relato de coisas que hoje são forjadas por interesses partidários e dos poderosos. A história julga! A história zomba! A história tem seus trunfos nas mãos. Que não se enganem os tolos...

Talentos enterrados

Luigi Tarisio (1790-1854), nascido em uma família humilde em Fontaneto d'Agogna, era carpinteiro e tocava violino como hobby, e por isto desenvolveu um grande interesse por estes instrumentos, colecionando algumas destas relíquias de finos instrumentos que não estavam em uso nas pequenas cidades e vilas no nordeste da Itália. Ele foi o primeiro colecionador de instrumentos de cordas italiano. Em 1827 adquiriu um Stradivarius de 1716 que jamais havia sido usado pelo seu proprietário, e então começou a trazer estes instrumentos para Paris, onde haviam mestres da restauração de artes e recuperou muitos destes instrumentos que hoje valem milhares de dólares e são usados em grandes salas de concertos. Após sua morte, Jean Baptiste Vuillaume, um negociante parisiense, comprou sua coleção inteira que estava guardada em uma pequena fazenda perto de Fontaneto, onde viviam os parentes de Tarisio pelo equivalente a 2,000 libras inglesas, ao manusear apenas um destes instrumentos, que incluía o mais famoso violino de todos os tempos, o “Messias”. A coleção continha 24 Stradivarius e 120 instrumentos fabricados por outros mestres Italianos. Um detalhe importante é que quando Tarisio foi encontrado morto, ele possuía parcos recursos financeiros, apesar de possuir todos estes maravilhosos instrumentos. Os violinos estavam amontoados num sótão. Na devoção com que cultivara sua coleção de instrumentos de corda, ele privara o mundo de toda a qualidade musical que aqueles instrumentos eram capazes de gerar. O primeiro Stradivarius foi tocado numa orquestra 147 anos depois de ser fabricado. Este é um bom exemplo de como podemos, por negligência, descuido e desatenção, privar o mundo daquilo que surge em nossa mão. A Bíblia fala de um homem que recebeu seu talento, e resolveu enterrá-lo, e a justificativa pela omissão estava no fato de que ele não sabia muito bem quem era o seu Senhor que lhe havia dado todos os dons. “Sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeastes, com receio, coloquei na terra os teus talentos. Aqui tens o que é teu”. A base de sua atitude foi o seu relacionamento equivocado com Deus, que lhe havia dado tantos dons. Ainda hoje há muitos com dons extraordinários, enfurnados nos seus quartos escuros, omitindo-se e escondendo-se do chamado, da vocação ou da missão que receberam de Deus. Enquanto isto, outras pessoas estão sendo privadas da harmonia e arte que possuem, dadas por Deus. A preguiça intelectual, o medo existencial, a dúvida, a insegurança, podem gerar tudo isto. Tarisio, apesar de cuidar dos seus instrumentos, terminou sua vida na pobreza, e impediu que muitos pudessem apreciar o som maravilhoso que os instrumentos de sua coleção poderiam gerar, trazendo tanta arte ao mundo inteiro.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Arte de Namorar

O comércio celebra esta semana o “dia dos namorados”, que é uma das datas mais promissoras para as vendas. Se o comércio por um lado vai bem, a arte de namorar, e continuar namorando, nem sempre. Por sermos uma sociedade descartável, ou de “amor líquido” na definição do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, as dificuldades de um casal refletem o estilo que uma comunidade mais ampla estabeleceu como padrão aceitável de relacionamento. “Nenhuma união de corpos pode, por mais que se tente, escapar à moldura social e cortar todas as conexões com outras facetas da existência social”. As relações se estabelecem com extraordinária fluidez, se movendo e alternando sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em frenético movimento. Antes do casamento, os apaixonados costumam passar horas conversando, fazendo enorme sacrifício de tempo e dinheiro para estar com a pessoa amada, mas depois de casados, perdem a capacidade de continuar namorando. As exigências familiares, criação de filhos, competitividade do mercado, treinamento constante roubam de nós o tempo para curtir um ao outro e deixar-se inebriar pelo namoro. O resultado é um grande esvaziamento no namoro. Compra-se presentes cada vez mais caros, mas eles são incapazes de substituir a simples capacidade de namorar. Como conseguir ficar casado trinta anos com a mesma mulher ou com um mesmo homem? Stephen Kanitz propõe algo inusitado no seu artigo "O segredo do casamento”. “Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu”. Ao jogar com as idéias, o que Kanitz propõe é que casais precisam encontrar caminhos para continuar namorando, “O segredo, no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter sua irrestrita atenção?” Ele ainda propõe que façamos de conta que estamos de caso novo. “Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos. Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses”. Em outras palavras, se não reconquistarmos a arte de namorar, estaremos condenando ao fracasso o nosso relacionamento. “Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive a seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par”.

Falsa Impressão

Quando o primeiro ministro da Inglaterra, Neville Chamberlain, retornou do seu encontro com Hitler em Munique, anunciou solenemente ao seu povo o acordo com o líder nazista: “Eu acredito que seja para os nossos dias, um acordo de paz com honras...” Alguns meses depois, Hitler invade a Checoslováquia, e só então Chamberlain percebe quão iludido ingenuamente otimista ele havia sido com as promessas estabelecidas. Provavelmente milhares de vidas preciosas teriam sido poupadas se ele tivesse compreensão do real perfil de seu inimigo. Esta falsa impressão lhe custou muito politicamente, e trouxe drásticas consequências para o seu país. Não é difícil estabelecermos impressões falsas sobre pessoas e situações e nos enganarmos profundamente. Por causa destes erros de julgamento, criamos uma pseudo segurança. Muitas vezes colocamos nossos recursos e investimentos em pessoas ou aplicações financeiras e o tempo nos mostra quão enganados estávamos. Outras vezes nossa estabilidade é posta no emprego, em relacionamentos ou na boa saúde que temos, mas todas estas coisas são, por sua natureza, frágeis demais. O profeta Jeremias registra as seguintes palavras que ele ouviu de Iahweh: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico, nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra. Porque destas cousas me agrado, diz o senhor” (Jr 9.23,24). A declaração de Chamberlain se mostrou motivo de ironia e sarcasmo, pois a Inglaterra teve que entrar na guerra com a Alemanha, menos de um ano depois. Quando nossa segurança está firmada em areias movediças, seremos fatalmente tragados. Infelizmente somos traídos até em nossa linguagem: Compramos “seguro de vida”, que não segura nossa vida... mas quem compraria um “seguro de morte?”. Somos traídos pela falsa impressão. Temos “cartão de crédito”, quando na verdade ele é apenas um cartão de débitos. Temos um cheque “especial” apenas para que estouremos o seu limite e descubramos que nunca fomos especiais como imaginávamos... Falsas impressões... Não confie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico na sua riqueza. Todas estas coisas dão falsa impressão de segurança, mas o homem só está verdadeiramente seguro quando firmado em Jesus. Ele é a rocha firme, e quem nele coloca sua confiança, nunca será confundido ou envergonhado.