Não me assusta a pobreza, a singeleza, a escassez,
Assusta-me a miséria.
Não há indignidade em não ter uma casa rica,
Andar com carro velho,
Ter um salário espartano.
Mas a miséria é dura...
É duro não ter trabalho digno,
É duro não conseguir trazer comida pra casa,
É duro não ter o mínimo,
É duro não ter certeza do amanhã,
É duro o frio sem cobertor.
É duro trabalhar e não ter,
É duro ter salário de fome,
É duro não ter remédio para o filho,
É duro não ter teto prá viver,
É duro transitar meio à morte e o esquecimento,
É duro não poder estudar o filho,
É duro a eterna marginalidade,
Mantida e sustentada pelo sistema injusto,
O mercado cruel,
O governo injusto,
Pelos pecados sociais endêmicos.
Pois coisas são tão vis e indignas,
Que viver na miséria,
Vivendo de frente a muita riqueza,
É duro equacionar o dilema,
De se acomodar no esquema,
De viver miseravelmente na miséria.
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