Todo o dia era a mesma coisa:
Acordar assustado
Tomar café às pressas,
Sair correndo para a escola.
Em dias de chuva ou de sol, era sempre a mesma coisa.
A cabeça de criança pensava em tudo, menos na matéria dada.
Que menino queria pensar em álgebra e gramática,
Se a poesia da vida se encontrava presente em todo lugar,
Menos na escola?
A escola era obrigatória, inegociável,
Por isto era sempre o mesmo ritual:
Acordar assustado
Tomar café às pressas,
Sair correndo para a escola.
Em casa estavam os passarinhos para cuidar,
Os amigos esperando para jogar peteca,
Soltar papagaio,
Jogar pelada,
A manga madura para chupar,
Os passarinhos de estimação nas lindas gaiolas penduradas na varanda,
E o mais importante,
Cuidar do tico.
Um franguinho de estimação, esperto, condicionado, domesticado.
Até hoje eu não sei se era o tico ou o menino que estavam condicionados,
Mas nesta relação simbiótica se mantenham e se nutriam.
Era só chamá-lo de um jeito especial e ele vinha de onde estivesse,
Desejoso de comer dos ricos manjares das mãos do dono,
Sempre havia restos de carne,
separadas de forma especial para o tico.
Até hoje creio que as outras galinhas sentiam ciúmes...
Ali estavam as guloseimas das aves.
Um dia, descuidadamente, o garoto não percebeu o calção rasgado,
Onde se podia avistar uma suculenta pelanca,
Manjar do franguinho, banquete de aves...hummmm...
A bicada foi eficiente como sempre, de forma certeira.
O garoto gritou de dor: peeegaaaa!!!! Maaatttaaaa!!!!
Ninguém entendia muito bem o que acontecera.
De repente o tico não era mais aliado, era um inimigo,
Forte combatente destinado ao calabouço,
Combatente feroz, precisava morrer, traidor.
Pedras e paus eram jogados enquanto o tico, desesperado fugiu no meio do mato.
O tico nunca entendeu,
O estranho ritual de seu dono naquele dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário