Pode parecer coisa de pobre,
E certamente o é.
Mas você já sentiu prazer maior que olhar o por do sol, sem pressa, sem agenda?
De conversar com gente simples, ouvir suas historias, sem negociar nem representar?
Já sentiram prazer em viajar de ônibus,
Nas mal cuidadas estradas do Brasil,
Entrando nas estranhas rodoviárias de nosso país?
Conversar com gente que pensa com categorias diferentes?
Sem ter que provar nada e não ser ninguém?
De andar nas ruas empoeiradas das cidades do interior,
Olhar as janelas, as casas, as pessoas,
Os meninos brincando nas ruas?
Imaginar suas histórias pessoais?
Ouvir as histórias contadas pelas casas antigas,
Refletir sobre sonhos e frustrações de quem já passou por ali?
De contemplar vilas de beiras de estrada,
Ver meninos descalços e seminus,
Sem nenhuma das preocupações que tantas vezes quase nos matam de ansiedade?
Sentir o cheiro do alho no feijão da panela de ferro,
Do fogão de lenha?
Sentir o cheiro da terra quando a chuva cai sobre ela,
Tomar um café na beira do fogão,
Pescar um lambari na beira do rio,
Chupar uma manga madura tirada do pé
Sentar ao redor da fogueira,
Assar uma carne com amigos,
Tocar violão sem pressa,
Ouvir grilos, corujas, bem-te-vis e quero-queros,
Enquanto a noite se torna mais densa?
Sei que isto é coisa de pobre,
Mas quanta riqueza existe nestas coisas simples?
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