quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Tori

Era assim...
Meio animal, meio humano,
Imundo demais para não ser percebido:
A cachaça, o desvalor, o abandono, o descaso.
Levaram à perda de sua identidade.
Na inevitável e fatal dominação de um cultura sobre a outra.
Vendeu sua alma,
Perdeu seus sonhos,
Destruiu a saúde.
Agora tentava se tornar gente, indigente.

De que tribo viera?
Que valores, cosmovisão, desejos e pensamentos outrora povoaram sua alma?
Identidade?
Cultura?
Nome?
Tori!
Arrancado de sua própria história,
Roubado sutilmente de seu povo,
“Civilizara-se”...
Sem termo, sem ermo, sem terra, desarraigado de sua história,
Fora arrastado no turbilhão da aculturação.
Apareceu por ali,
No meio dos botecos, dormindo ao relento, meio humano, meio animal.
Sem vontade, sem propósito, sem desejos.
Perdera a capacidade de amar as coisas e a vida,
Parecia viver refletindo na sua anti sobriedade,
Olhar distante, voz meio embargada, falando devagar.
Um filósofo dinamarquês nas poeiras de um lugar qualquer.
Caminhava cambaleante pelas ruas da cidade,
Recebendo um bocado ali, outro aqui,
Levando a vida do jeito que ela o levava,
Tentando reencontrar sua rica história,
Que se perdera na pobreza humana.
Escravo... desejando reencontrar sua infância livre.
Difícil reencontro.
Tori:
Índio, povo querido, gente boa.
Não precisava muito para que se sentisse bem,
Mas o pouco era inexistente.
Saudade da tribo?
Saudade de seu povo?
Saudade de si mesmo?
De um tempo perdido no tempo?
Ausência de sentido?
Identidade?
O que pode ser mais cruel do que a crueldade de uma cultura perdida,
Mais duro que a aculturação, inculturação, transculturação?
Tori,
Símbolo de tantos,
Expressão única de um ser que desistiu de ser o que era,
Para nunca mais descobrir quem é.
Tori!

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