quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Lágrimas

Nunca chorei a dor que realmente me tenha doído.
Já chorei angústias periféricas, dores marginais.
Já chorei a dor dos outros,
As dores de minha fantasia,
Dores imaginárias.
Nunca chorei a mim mesmo
A dor de minha dor
O sofrimento real.
Neguei prá não chorar,
Por isto a dor que me dói não é a dor,
Mas a ausência de minha dor.
Choro não ter razão para chorar.
A dor que me dói faz parte do meu repertorio de dores não doídas.
Pequei por não chorar,
Porque quando o fiz não era necessário,
Mas na necessidade abafei a dor.
Por ser sofrida a dor de quem sofre,
Recusei a dor em mim mesmo.
Rejeitei lágrimas, endureci-me.
Não tenho chorado a dor real,
A dor daqueles que precisam de alguém que chore por eles.
Nunca chorei a dor dos esquecidos,
Não me condoeu a solidão dos desprezados,
O desconforto do oprimido.
Nunca chorei a dor dos esquecidos,
Nunca chorei a dor de Deus,
E sequer chorei minhas dores.
Por isto minha dor dói tanto
E para meu grande espanto,
Não consigo chorá-la.

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