Chegara como sempre em boa hora.
Era natal e o presente não poderia ser melhor.
Os irmãos estavam eufóricos em mostrar o rico presente aos amigos.
No lote baldio, descamisados e descalços,
Iam juntando meninos de todos os lados.
Cada um falava de seu presente,
Hora de gabarolice.
Qual presente mexia mais com o imaginário de menino simples?
Uma bola de capotão!
De couro, resistente aos espinhos, difícil de furar,
toda bem desenhada, fora feita para durar muito.
Por isto era cara.
Era mantida debaixo do braço como um troféu, orgulho pessoal.
Pouco a pouco vão se formando os times,
Para estrear a bola nova:
Zé Luiz, Wesley, Saulo, Eulin,
Caboré, Nego Viola, Nego Edinam.
Os que jogavam melhor eram escolhidos primeiro;
Os piores, se sobravam vagas.
Ou então algum lugar no gol – posição desprezada!
Ou na lateral direita e esquerda.
Os donos da bola têm de jogar,
Em qual posição devem ficar?
“Se não jogar não dou a bola!”
Naquele terreno de chão batido,
O troféu é colocado como sacrifício a ser oferecido no altar,
Dos pés sujos com alguma habilidade,
E nos pés dos pernas-de-pau.
O jogo, como sempre é animado:
“chuta aqui!”, “prá mim, prá mim!”, “marca o gol!”.
No meio da confusão um desastrado chuta sem direção.
A bola sem rumo cai no mato!
“Furou!”, grita alguém zombeteiramente.
“Isto não é de sua conta! A bola é minha!”.
E quando a bola é trazida,
De fato estava furada...
Que desalento!
O natal perdera a sua mágica, lá se fora o encantamento!
Um espinho caprichosamente a furara.
Nunca um presente fora tão significativo,
E jamais se viu outro cujo encantamento se foi de forma tão trágica e rápida.
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