segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Steve Jobs e a morte

O mundo inteiro acompanhou a morte precoce do gênio Steve Jobs. Menino adotado, que sobreviveu durante alguns anos vendendo latinhas de refrigerantes para comprar o almoço, dormindo de favor numa república de universitários, apenas jogando seu colchão no chão, e que chegou a andar a pé por 11 kms, muitos domingos, apenas para ter uma boa refeição gratuita numa instituição e veio a se tornar o homem mais rico do planeta. Jobs morreu no dia 05 de outubro, aos 56 anos de idade.
O melhor relato de sua vida foi feito num discurso para os formandos da Universidade de Stanford, em 2005, cujo conteúdo foi dividido em três “histórias”, como ele intitulou. A primeira foi sobre ligar os pontos. Ele afirma que “você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro”. A segunda “história” foi sobre amor e perda. “Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama”.
Sua terceira história é sobre morte. Ele afirma que aos 17 anos, leu a seguinte frase: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Esta frase o marcou a vida inteira: “Desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração...”
Depois de ter sido diagnóstico com um câncer no pâncreas, afirma que a morte deixou de ser um conceito apenas abstrato: “A morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de outro alguém... Tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário”.
Steve Jobs nos ensina que a morte pode ser menos traumática, quando a enfrentamos com coragem e com fé. Chegar ao fim da vida achando que nossa vida se encerra num túmulo frio e sem esperança, certamente é a coisa mais desesperadora que pode existir.
Jesus ensinou aos seus discípulos: “Não se turbe vosso coração, credes em Deus, crede também em mim, na casa de meu pai há muitas moradas”. É extremamente gratificante reconhecer que a morte não é um ponto final, mas apenas reticência...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Uma outra História

A mesma história pode ser contada de ângulos diferentes, dependendo muito de quem as conta. A história recente do ditador Muamar Kadafi, “amigo e irmão” de Lula, como este o definiu, contada por ele, narrará a sua épica jornada contra os imperialistas europeus e americanos; se contada pelos seus opositores, trata-se de uma história de atrocidade, tirania e autoritarismo.
Alguém já afirmou que a história é sempre contada pelos poderosos. Pensando, portanto, na Independência do Brasil, na perspectiva de uma outra história, ficamos estupefatos.
D. Pedro I, supostamente, é um herói brasileiro, que à margem do Ipiranga, fez a célebre afirmação: Independência ou morte!
Independência de quem?
D. Pedro I era legítimo herdeiro da coroa portuguesa. Filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Sabe-se que seu grito (me assusta pensar que a Independência do Brasil foi “no grito”) foi um arranjo político digno do nosso congresso atual. Eles acordaram que D. João VI, retornaria para Portugal, e para abafar as constantes manifestações de anseios libertatórios já presentes como os da Inconfidência Mineira, e o esquartejamento de Tiradentes, fariam uma dramatização: D. Pedro I chamou a imprensa e seus aliados, e mesmo estando bêbado, levantou sua espada e gritou: Independência ou morte!
A família real retornou à Europa em 26 de abril de 1821, ficando D. Pedro I como Príncipe Regente do Brasil. A corte de Lisboa despachou um decreto exigindo que o Príncipe retornasse a Portugal. Revoltado, em 7 de setembro de 1822, declarou a independência do Império do Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, foi proclamado e coroado imperador mas logo abandonou as próprias idéias liberais, dissolvendo a Assembléia Constituinte, e demitindo José Bonifácio (1824). Com a morte de D. João VI, resolveu voltar para Portugal e assumir novamente o trono português, e, constitucionalmente não podendo ficar com as duas coroas, instalou no trono a filha primogênita, Maria da Glória, como Maria II, de sete anos, e nomeou regente seu irmão, Dom Miguel. Seu coração nunca fora do Brasil.
A questão da Independência foi tão patética, que países da América do Sul, não quiseram reconhecê-la, alguns anos foram necessários para que esta coreografia fosse aceita pelos vizinhos. O Brasil declarava independência de Portugal, mas quem continuava governando o país era um Imperador português. Parece piada!
Outro aspecto não mencionado, é que, para que a Independência proclamada em 1822 fosse reconhecida, a monarquia aqui estabelecida aceitou que importante parcela da dívida portuguesa - de 1,3 milhão de libras esterlinas - com a Inglaterra fosse paga pelo Brasil. o Brasil assume pesada dívida externa portuguesa, no bojo das negociações para uma Independência já conquistada política e militarmente. A balança comercial brasileira torna-se deficitária entre 1821 e 1860, e era paga com o ingresso de capitais estrangeiros, na forma de empréstimos públicos.
Ora, o Brasil foi o único país da America Latina que não lutou pela sua independência, mas a negociou. Nosso retrospecto em termos de lutas e conquistas sociais realmente não nos favorece muito... Tudo tem que ser feito na base de arranjos e maracutaias...
Apesar de todas estas idas e vindas, estamos aqui, tentando celebrar as contradições deste país que chamamos de “nosso”.
Viva o Brasil!

Jornal Contexto - Anapolis
5 de Setembro 2011

Heróis sem caráter

Um dos mais infames personagens da literatura brasileira é “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” de Mário de Andrade (1928), que à margem do Uraricoera, em plena floresta amazônica, desde a primeira infância, revelava-se como um sujeito “preguiçoso” e contraditório. No prefácio não publicado, Andrade afirma que em Macunaíma, desejava descobrir a identidade nacional dos brasileiros. Afirma que o brasileiro não tem caráter, e justifica que com a palavra caráter não determinava apenas uma realidade moral, mas a entidade psíquica permanente, se manifestando nos costumes e na ação exterior do bem e do mal. “O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional”.
Jorge Luis Borges, escritor argentino, afirmou que as pessoas sentem a necessidade de épica, por isto Hollywood se tornou tão popular. Todos os povos constroem seus heróis, que se tornam ícones por gerações e apontam para referências utópicas. Quando uma cultura constrói esta imagem em cima de anti-heróis, corre sério risco de desintegração moral. A grande questão é entender quem tem sido posto como herói.
Don Richardson, escritor holandês, narra sua experiência em Papua Nova Guiné, com os “Sawis”. Este povo cultuava o engano, praticava o canibalismo e tinha a crença que os homens brancos eram divindades. Richardson demonstra como foi contracultural falar do cristianismo para um povo que via Judas como herói, por ter traído Jesus. Entre os sawis, a traição era mais que uma filosofia de vida, Constituindo-se num "ideal concebido e aprimorado pelas gerações passadas". As pessoas cultivavam uma amizade por um longo tempo e depois assassinavam a vítima, e isto era considerado a mais elevada forma de traição. Seus heróis não eram os guerreiros, antes, aqueles que exibiam os maiores requintes na arte da traição. O traidor Judas era o símbolo de masculinidade e o beijo da traição era a expressão suprema da esperteza.
Quais são os heróis brasileiros?
No “Big Brother”, conhecido reality show brasileiro, o apresentador Pedro Bial se refere aos participantes como “nossos heróis”. É lamentável que aqueles jovens, com corpos sarados e moral duvidosa sejam tratados desta forma. Não possuem nenhum talento ou criatividade, nada fizeram pela nação ou por sua comunidade, não possuem qualquer ato de bravura, coragem ou integridade, mas são alçados ao posto de heróis. Será que Mário de Andrade estava certo ao colocar Macunaíma, o herói sem caráter, como ícone brasileiro?
Ai da nação que constrói seu ideário heróico em frágeis ícones éticos. Paulo Maluf continua sendo deputado federal, mesmo estando na lista dos bandidos procurados pela Interpol por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Mesmo com imagens de Jaqueline Roriz recebendo dinheiro de corrupção, seus colegas votaram contra a cassação de seu mandato. Se isto não é quebra de decoro parlamentar, vamos ter que reinventar a ética.
Precisamos de verdadeiros heróis, marcados pela simplicidade, lealdade, caráter e honradez. Chega de “macunaímas”. Ou será que sempre precisaremos de heróis sem caráter para aprofundar ainda mais nossa dor?

Jornal O Contexto
26 de Agosto 2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cancro Social

Eu preciso admitir: Gostaria de ter a mesma fibra, determinação e ousadia de Anna Hazare, ativista anticorrupção que se tornou um ícone da Índia, ao desencadear uma cruzada contra os sucessivos escândalos dos serviços públicos. 74% dos indianos acreditam que a corrupção do país aumentou significativamente nos últimos três anos.
Tanto lá, como no Brasil, fala-se de corrupção endêmica. “Designa-se endemia qualquer factor mórbido ou doença espacialmente localizada, temporalmente ilimitada, habitualmente presente entre os membros de uma população”. (Wikipédia). Hazare, aos 74 anos, tem sido chamado de “o novo Ghandhi”. O governo bem que tentou reprimir seu protesto, o primeiro ministro Singh ordenou sua prisão, mas o resultado foi catastrófico, pois muitas pessoas que estavam alheias, resolveram engrossar as fileiras de manifestação no país.
O Brasil precisa de pessoas assim. Nossa endêmica corrupção tem se tornado cultural. Em todos os níveis, municipal, estadual e Federal servidores públicos e empresários de mau caráter querem tirar vantagem através de favorecimentos ilícitos, arranjos e troca de favores. As pessoas já acreditam que não vão conseguir a aprovação de um projeto civil, de uma construção, da liberação de documentos sem “molhar a mão” do fiscal ou do funcionário. Isto é um Cancro ou Câncer social, “doença caracterizada por uma população de células que cresce e se divide sem respeitar os limites normais, invade e destrói tecidos adjacentes, e pode se espalhar para lugares distantes no corpo, através de um processo chamado metástase” (Wikipédia).
A corrupção premia a ineficiência, destrói a meritocracia, enfraquece os valores, arrebentando gerações a médio e longo prazo. Países corruptos, historicamente, se tornam burocráticos e ineficientes. Tenho visto funcionários e empresários de caráter passando por verdadeiras agonias, por resistirem ao suborno e verem seus projetos postergados e engavetados por aqueles que decidiram alicerçar suas vidas sobre esta areia movediça.
Três trechos bíblicos nos advertem severamente sobre os efeitos deletérios da corrupção. O primeiro afirma que ela traz prejuízos para a família: “O que é ávido por lucro desonesto, transtorna sua casa; mas o que odeia o suborno, esse viverá” (Pv 15.27); O segundo mostra o prejuízo social. Nenhum país se sustenta com um cancro tão maligno quanto este. “O perverso aceita suborno secretamente, para perverter as veredas da justiça” (Pv 17.23). O terceiro revela que o suborno destrói a dignidade e o mundo psicológico daquele que o pratica, já que a pessoa se desorienta com o ganho ilegal. “Também suborno não aceitarás, porque o suborno cega até o perspicaz e perverte as palavras do justo” (Ex 23.8).
Ao ver a atitude de Anna Hazare, torço para que alguém, com mais fibra e ousadia que eu, se levante no Brasil, mobilizando pessoas com disposição para lutar contra esta trágica e aflitiva ética, que tem trazido danos quase irreparáveis à nossa nação.
Jornal Contexto
Anapolis 22 Agosto

A Grande Inversão e a Apatia

Os eventos relacionados à prisão dos líderes da gang do Ministério de Turismo chamam a atenção. A Controladoria Geral da União (CGU) investiga o desvio de recursos destinados a eventos em centenas de municípios, financiados majoritariamente por emendas parlamentares. Só este ano, receberam ajuda financeira cerca de 1.500 eventos "que atraem fluxo turístico" no total de mais de R$ 250 milhões. A CGU suspeita que prefeitos, ONGs e deputados federais prestam contas com notas fiscais frias para justificar despesas.
A notícia em si já nos deveria assustar, mas como estamos tão “acostumados ao mal”, não conseguimos perceber quão profunda é a doença da corrupção. A pior das mortes não é a morte em si, mas a apatia. Achamos que o mal é normal. “Todo mundo faz assim”. Esta endemia, pandemia ou epidemia, qualquer nome que se dê à sistematização do mal, é pior do que o mal em si.
“O ódio não é o oposto do amor, e sim a apatia. O oposto da vontade não é a indecisão, e sim não envolver-se, ficar desligado... Apatia (a-pathos) é uma fuga do sentir. A apatia opera como o instinto da morte de Freud” (Rollo May).
A Presidente Dilma Rousseff, se pronunciou a respeito, afirmou que estava “furiosa” e “irritada”. Infelizmente não disse que se sentia assim por causa do escândalo e sim pelo procedimento abusivo da Polícia Federal, que teria cometido exageros na prisão dos 35 suspeitos envolvidos no desvio de verba.
Nossa Presidente tem todo direito de se sentir irritada. O problema de sua ira é que ela se deslocou. Por causa da pressão das bases aliadas, sua indignação caminhou na direção errada. O problema deixou de ser o crime para se tornar a forma como se trata os criminosos.
Já não é a primeira vez que isto acontece. Na Operação Satiagraha em 2004, que resultou na prisão de vários banqueiros e investidores, abriu-se uma verdadeira "caixa de Pandora". Negócios ligados ao nome do banqueiro Daniel Dantas, e o governo foram colocados no centro do debate político de uma hora para outra. A PF apreendeu, no apartamento do banqueiro documentos que comprovam o pagamento de propinas a políticos, juizes, jornalistas no valor de R$ 18 milhões. Naquela ocasião, como agora, a Policia Federal se tornou a vilã, por não ter adotado todos os procedimentos corretamente. Inverteu-se o foco. Quem aplica a lei torna-se o centro da discussão e não quem infringiu a lei.
Naturalmente, abusos de poder por parte de policiais devem ser sempre analisados – é sempre arriscado quando agentes da lei se transformam na lei em si mesma. Por outro lado, é importante não transformar quem deveria ser herói em marginal. Quando isto se dá, inverte-se a lógica. A reação às ações da PF ganharam mais destaque que os atos criminosos dos agentes do Ministerio de Turismo.
Esta inversão é perversa e profundamente arriscada...
Jornal Contexto - anapolis
17 Agosto

Geração Cogumelo

Zeca Baleiro, cantor e compositor, escreveu curioso artigo na Revista “Isto é” de 20.07.2011: “Cabeça”. Ele afirma que achou estranho o título de dois livros falando de pessoas extraordinárias: “A cabeça de PeterDrucker”, e “A cabeça de Steve Jobs”. Seu comentário é o seguinte: “Apesar do culto a essas mentes brilhantes, este mundo hipermoderno e ultra capitalista não preza, infelizmente, o que as cabeças tem de mais especial – A própria capacidade de pensar e criar com originalidade e personalidade”. No final do artigo conclui: “Agora vejo as cabeças estampadas nas capas dos livros com receitas infalíveis de sucesso e me pergunto: quando é que dedicarão um livro à alma de Steve Jobs? Quando isso acontecer, talvez comece a me interessar por tal literatura”.
Esta é uma grande questão antropológica: Temos gerado uma ruptura no ser humano, como se ele fosse constituído apenas de cabeça, ou de alma, ou de corpo. Não integramos as partes neste todo estético.
Muitos se tornaram apenas corpo. Sua preocupação é com a beleza física, e transformaram sua vida numa obsessão ou mesmo religião. O termo fisiculturismo traz, etimologicamente, a idéia de sacralidade, já que fala de “culto ao corpo”. Pessoas cultuando seus corpos se tornam apenas músculos!
Por outro lado, outros se tornam cérebro. Somos a “Geração Cogumelo”. Cabeça grande, peito pequeno... Não há grandeza de coração, em muitos admiráveis seres humanos, embora sejam cultos, inteligentes e brilhantes. Isto gera uma espécie de “autismo extrovertido”, levando pequenos gênios à mesquinhez de alma e pobreza de relacionamentos. São pessoas que se casam, mas nunca se permitem penetrar e deixar-se penetrar na alma do outro. Gente assim, se masturba no ato sexual. Torna-se ser sem alma, existencialmente pobre.
Precisamos ler mais biografia sobre humanidade que sobre cérebros de pessoas excepcionais.
Não somos autômatos! Não vivemos para ter apenas um corpo sarado e uma mente brilhante. Muitas mulheres bonitas se tornam plásticas e solitárias em seu narcisismo, não são capazes de amar. Estão enamoradas de si mesmo e de seu exibicionismo narcisista e foram transformadas em ícones de bumbuns e silicones.
Pessoas brilhantes do ponto de vista acadêmico facilmente se tornam distanciadas e mal resolvidas afetivamente: Cabeças cheias de equações, idéias e pensamentos, mas coração vazio de significado, amor e valor.
Equilibrar corpo/mente/alma é o nosso desafio. Não apregoamos a mediocridade intelectual, nem a feiúra poética, mas a capacidade de ser integralmente humano, articulando estes diferentes pólos no significado de ser gente. Ser “cabeça”, apenas, é muito pouco...
Jornal Contexto Anapolis
10 Agosto

A incurável Dor

Aos 27 anos, Amy Winehouse foi encontrada morta, assim como outros famosos e mitológicos artistas que morreram ainda na juventude: Jimmy Hendrix e Kurt Kobain, se foram com a mesma idade, e provavelmente pela mesma razão - overdose. Todos estes pop stars tiveram características similares: Vidas atribuladas, escândalos, internações, fama, riqueza, popularidade e muito vazio existencial.
Creio que a característica comum em todos eles é o quadro definido psiquiatricamente como “angústia primal”, que gera um vazio enorme na alma e uma dor sem cura. A ausência de significado, associada ao uso da droga é quase sempre uma mistura fatal. O que leva pessoas tão celebradas a seguirem este caminho da auto destruição nas drogas e no alcoolismo?
Algum tempo atrás, o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, Fez uma declaração estranha: "Bobagem essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo tá no futuro. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico ir para o céu. O rico já está no céu, aqui. Porque um cara que levanta de manhã todo o dia, come do bom e do melhor, viaja para onde quer, janta do bom e do melhor, passeia, esse já está no céu".
Ao acompanharmos a trajetória de Winehouse, podemos ver que Lula está equivocado: Riquezas, conforto e popularidade não são capazes de resolver a dor de um coração insatisfeito. “Mais de nada, leva-nos a lugar algum”... Blaise Pascal, matemático e filósofo, afirmou que “o homem tem um vazio em forma de Deus”.
É com compaixão e tristeza que vemos mais uma pessoa talentosa como Winehouse, perder a batalha da vida, porque não encontrou resposta para sua dor incurável, sua solidão e angústia. A droga que ela consumia e que a consumiu é apenas a ponta do iceberg da sua incurável dor, assim como de milhares de outros que também caminham entre nós, com este “pesado e vazio” sentimento de que lhes falta algo.
Fico pensando se não foi por esta razão que Jesus fez aquele convite conhecido: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30).
Riqueza, fama e popularidade não conseguem nos levar até o céu e nem impedem que o inferno adentrem nosso coração. O inferno não está ausente na vida das celebridades e do homem comum. Inferno, antes de ser um lugar, é um estado de alma.
Jornal Contexto
01 Agosto 2011