Eu preciso admitir: Gostaria de ter a mesma fibra, determinação e ousadia de Anna Hazare, ativista anticorrupção que se tornou um ícone da Índia, ao desencadear uma cruzada contra os sucessivos escândalos dos serviços públicos. 74% dos indianos acreditam que a corrupção do país aumentou significativamente nos últimos três anos.
Tanto lá, como no Brasil, fala-se de corrupção endêmica. “Designa-se endemia qualquer factor mórbido ou doença espacialmente localizada, temporalmente ilimitada, habitualmente presente entre os membros de uma população”. (Wikipédia). Hazare, aos 74 anos, tem sido chamado de “o novo Ghandhi”. O governo bem que tentou reprimir seu protesto, o primeiro ministro Singh ordenou sua prisão, mas o resultado foi catastrófico, pois muitas pessoas que estavam alheias, resolveram engrossar as fileiras de manifestação no país.
O Brasil precisa de pessoas assim. Nossa endêmica corrupção tem se tornado cultural. Em todos os níveis, municipal, estadual e Federal servidores públicos e empresários de mau caráter querem tirar vantagem através de favorecimentos ilícitos, arranjos e troca de favores. As pessoas já acreditam que não vão conseguir a aprovação de um projeto civil, de uma construção, da liberação de documentos sem “molhar a mão” do fiscal ou do funcionário. Isto é um Cancro ou Câncer social, “doença caracterizada por uma população de células que cresce e se divide sem respeitar os limites normais, invade e destrói tecidos adjacentes, e pode se espalhar para lugares distantes no corpo, através de um processo chamado metástase” (Wikipédia).
A corrupção premia a ineficiência, destrói a meritocracia, enfraquece os valores, arrebentando gerações a médio e longo prazo. Países corruptos, historicamente, se tornam burocráticos e ineficientes. Tenho visto funcionários e empresários de caráter passando por verdadeiras agonias, por resistirem ao suborno e verem seus projetos postergados e engavetados por aqueles que decidiram alicerçar suas vidas sobre esta areia movediça.
Três trechos bíblicos nos advertem severamente sobre os efeitos deletérios da corrupção. O primeiro afirma que ela traz prejuízos para a família: “O que é ávido por lucro desonesto, transtorna sua casa; mas o que odeia o suborno, esse viverá” (Pv 15.27); O segundo mostra o prejuízo social. Nenhum país se sustenta com um cancro tão maligno quanto este. “O perverso aceita suborno secretamente, para perverter as veredas da justiça” (Pv 17.23). O terceiro revela que o suborno destrói a dignidade e o mundo psicológico daquele que o pratica, já que a pessoa se desorienta com o ganho ilegal. “Também suborno não aceitarás, porque o suborno cega até o perspicaz e perverte as palavras do justo” (Ex 23.8).
Ao ver a atitude de Anna Hazare, torço para que alguém, com mais fibra e ousadia que eu, se levante no Brasil, mobilizando pessoas com disposição para lutar contra esta trágica e aflitiva ética, que tem trazido danos quase irreparáveis à nossa nação.
Jornal Contexto
Anapolis 22 Agosto
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