Os eventos relacionados à prisão dos líderes da gang do Ministério de Turismo chamam a atenção. A Controladoria Geral da União (CGU) investiga o desvio de recursos destinados a eventos em centenas de municípios, financiados majoritariamente por emendas parlamentares. Só este ano, receberam ajuda financeira cerca de 1.500 eventos "que atraem fluxo turístico" no total de mais de R$ 250 milhões. A CGU suspeita que prefeitos, ONGs e deputados federais prestam contas com notas fiscais frias para justificar despesas.
A notícia em si já nos deveria assustar, mas como estamos tão “acostumados ao mal”, não conseguimos perceber quão profunda é a doença da corrupção. A pior das mortes não é a morte em si, mas a apatia. Achamos que o mal é normal. “Todo mundo faz assim”. Esta endemia, pandemia ou epidemia, qualquer nome que se dê à sistematização do mal, é pior do que o mal em si.
“O ódio não é o oposto do amor, e sim a apatia. O oposto da vontade não é a indecisão, e sim não envolver-se, ficar desligado... Apatia (a-pathos) é uma fuga do sentir. A apatia opera como o instinto da morte de Freud” (Rollo May).
A Presidente Dilma Rousseff, se pronunciou a respeito, afirmou que estava “furiosa” e “irritada”. Infelizmente não disse que se sentia assim por causa do escândalo e sim pelo procedimento abusivo da Polícia Federal, que teria cometido exageros na prisão dos 35 suspeitos envolvidos no desvio de verba.
Nossa Presidente tem todo direito de se sentir irritada. O problema de sua ira é que ela se deslocou. Por causa da pressão das bases aliadas, sua indignação caminhou na direção errada. O problema deixou de ser o crime para se tornar a forma como se trata os criminosos.
Já não é a primeira vez que isto acontece. Na Operação Satiagraha em 2004, que resultou na prisão de vários banqueiros e investidores, abriu-se uma verdadeira "caixa de Pandora". Negócios ligados ao nome do banqueiro Daniel Dantas, e o governo foram colocados no centro do debate político de uma hora para outra. A PF apreendeu, no apartamento do banqueiro documentos que comprovam o pagamento de propinas a políticos, juizes, jornalistas no valor de R$ 18 milhões. Naquela ocasião, como agora, a Policia Federal se tornou a vilã, por não ter adotado todos os procedimentos corretamente. Inverteu-se o foco. Quem aplica a lei torna-se o centro da discussão e não quem infringiu a lei.
Naturalmente, abusos de poder por parte de policiais devem ser sempre analisados – é sempre arriscado quando agentes da lei se transformam na lei em si mesma. Por outro lado, é importante não transformar quem deveria ser herói em marginal. Quando isto se dá, inverte-se a lógica. A reação às ações da PF ganharam mais destaque que os atos criminosos dos agentes do Ministerio de Turismo.
Esta inversão é perversa e profundamente arriscada...
Jornal Contexto - anapolis
17 Agosto
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