quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Geração Cogumelo

Zeca Baleiro, cantor e compositor, escreveu curioso artigo na Revista “Isto é” de 20.07.2011: “Cabeça”. Ele afirma que achou estranho o título de dois livros falando de pessoas extraordinárias: “A cabeça de PeterDrucker”, e “A cabeça de Steve Jobs”. Seu comentário é o seguinte: “Apesar do culto a essas mentes brilhantes, este mundo hipermoderno e ultra capitalista não preza, infelizmente, o que as cabeças tem de mais especial – A própria capacidade de pensar e criar com originalidade e personalidade”. No final do artigo conclui: “Agora vejo as cabeças estampadas nas capas dos livros com receitas infalíveis de sucesso e me pergunto: quando é que dedicarão um livro à alma de Steve Jobs? Quando isso acontecer, talvez comece a me interessar por tal literatura”.
Esta é uma grande questão antropológica: Temos gerado uma ruptura no ser humano, como se ele fosse constituído apenas de cabeça, ou de alma, ou de corpo. Não integramos as partes neste todo estético.
Muitos se tornaram apenas corpo. Sua preocupação é com a beleza física, e transformaram sua vida numa obsessão ou mesmo religião. O termo fisiculturismo traz, etimologicamente, a idéia de sacralidade, já que fala de “culto ao corpo”. Pessoas cultuando seus corpos se tornam apenas músculos!
Por outro lado, outros se tornam cérebro. Somos a “Geração Cogumelo”. Cabeça grande, peito pequeno... Não há grandeza de coração, em muitos admiráveis seres humanos, embora sejam cultos, inteligentes e brilhantes. Isto gera uma espécie de “autismo extrovertido”, levando pequenos gênios à mesquinhez de alma e pobreza de relacionamentos. São pessoas que se casam, mas nunca se permitem penetrar e deixar-se penetrar na alma do outro. Gente assim, se masturba no ato sexual. Torna-se ser sem alma, existencialmente pobre.
Precisamos ler mais biografia sobre humanidade que sobre cérebros de pessoas excepcionais.
Não somos autômatos! Não vivemos para ter apenas um corpo sarado e uma mente brilhante. Muitas mulheres bonitas se tornam plásticas e solitárias em seu narcisismo, não são capazes de amar. Estão enamoradas de si mesmo e de seu exibicionismo narcisista e foram transformadas em ícones de bumbuns e silicones.
Pessoas brilhantes do ponto de vista acadêmico facilmente se tornam distanciadas e mal resolvidas afetivamente: Cabeças cheias de equações, idéias e pensamentos, mas coração vazio de significado, amor e valor.
Equilibrar corpo/mente/alma é o nosso desafio. Não apregoamos a mediocridade intelectual, nem a feiúra poética, mas a capacidade de ser integralmente humano, articulando estes diferentes pólos no significado de ser gente. Ser “cabeça”, apenas, é muito pouco...
Jornal Contexto Anapolis
10 Agosto

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