A mesma história pode ser contada de ângulos diferentes, dependendo muito de quem as conta. A história recente do ditador Muamar Kadafi, “amigo e irmão” de Lula, como este o definiu, contada por ele, narrará a sua épica jornada contra os imperialistas europeus e americanos; se contada pelos seus opositores, trata-se de uma história de atrocidade, tirania e autoritarismo.
Alguém já afirmou que a história é sempre contada pelos poderosos. Pensando, portanto, na Independência do Brasil, na perspectiva de uma outra história, ficamos estupefatos.
D. Pedro I, supostamente, é um herói brasileiro, que à margem do Ipiranga, fez a célebre afirmação: Independência ou morte!
Independência de quem?
D. Pedro I era legítimo herdeiro da coroa portuguesa. Filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Sabe-se que seu grito (me assusta pensar que a Independência do Brasil foi “no grito”) foi um arranjo político digno do nosso congresso atual. Eles acordaram que D. João VI, retornaria para Portugal, e para abafar as constantes manifestações de anseios libertatórios já presentes como os da Inconfidência Mineira, e o esquartejamento de Tiradentes, fariam uma dramatização: D. Pedro I chamou a imprensa e seus aliados, e mesmo estando bêbado, levantou sua espada e gritou: Independência ou morte!
A família real retornou à Europa em 26 de abril de 1821, ficando D. Pedro I como Príncipe Regente do Brasil. A corte de Lisboa despachou um decreto exigindo que o Príncipe retornasse a Portugal. Revoltado, em 7 de setembro de 1822, declarou a independência do Império do Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, foi proclamado e coroado imperador mas logo abandonou as próprias idéias liberais, dissolvendo a Assembléia Constituinte, e demitindo José Bonifácio (1824). Com a morte de D. João VI, resolveu voltar para Portugal e assumir novamente o trono português, e, constitucionalmente não podendo ficar com as duas coroas, instalou no trono a filha primogênita, Maria da Glória, como Maria II, de sete anos, e nomeou regente seu irmão, Dom Miguel. Seu coração nunca fora do Brasil.
A questão da Independência foi tão patética, que países da América do Sul, não quiseram reconhecê-la, alguns anos foram necessários para que esta coreografia fosse aceita pelos vizinhos. O Brasil declarava independência de Portugal, mas quem continuava governando o país era um Imperador português. Parece piada!
Outro aspecto não mencionado, é que, para que a Independência proclamada em 1822 fosse reconhecida, a monarquia aqui estabelecida aceitou que importante parcela da dívida portuguesa - de 1,3 milhão de libras esterlinas - com a Inglaterra fosse paga pelo Brasil. o Brasil assume pesada dívida externa portuguesa, no bojo das negociações para uma Independência já conquistada política e militarmente. A balança comercial brasileira torna-se deficitária entre 1821 e 1860, e era paga com o ingresso de capitais estrangeiros, na forma de empréstimos públicos.
Ora, o Brasil foi o único país da America Latina que não lutou pela sua independência, mas a negociou. Nosso retrospecto em termos de lutas e conquistas sociais realmente não nos favorece muito... Tudo tem que ser feito na base de arranjos e maracutaias...
Apesar de todas estas idas e vindas, estamos aqui, tentando celebrar as contradições deste país que chamamos de “nosso”.
Viva o Brasil!
Jornal Contexto - Anapolis
5 de Setembro 2011
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