Era sábado à tarde, e um amigo estava tirando uma soneca quando foi acordado por uma belíssima música francesa que vinha da casa vizinha. Em geral somos acordados com sons estridentes de música sertaneja, hip-hop e funk (que me perdoem os amantes destes estilos de música...); e então, como queria conhecer o novo vizinho e nunca tivera oportunidade de conversar com ele, decidiu ir ao seu encontro. Tocou a campainha, e depois de aguardar algum tempo, surgiu alguém, que não era o vizinho, mas era o irmão que viera vigiar a casa enquanto o dono viajara. Ele estava visivelmente encharcado. Então, meu amigo explicou que como ouvira aquela lindíssima música, aproveitara para conhecê-lo, e o bêbado, com ar de filósofo disse: “A beleza está no coração daquele que a contempla”. Meu amigo disse: “Além de ter bom gosto musical, era também um pensador...”
O conhecido Pe.António Vieira (1608/1697) no Sermão da Sexagésima diz: “Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para essa vista são necessários olhos, é necessário luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?”.
Nossos olhos precisam de luz. Jesus afirmou: “Se os olhos forem luminosos, todo o corpo o será”. O que determina nosso humor, comportamento e atitudes é a forma como vemos a vida. Por isto, quem tem olhos luminosos, terá um corpo iluminado. Quem tem coração para ver o belo, assim verá e interpretará a vida. O livro Sagrado de Provérbios afirma: “para o amargo, todos os dias são maus!”.
Beleza, prazer, contentamento tem a ver com a leitura que fazemos da vida. Você tem olhos luminosos? Seu coração decodifica o belo? As coisas ao seu redor estão repletas de luz ou de graça? Quem vê o belo, assim o faz, porque o coração soube interpretar os fatos cotidianos na perspectiva certa.
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