domingo, 12 de junho de 2011

Ação e Reação

Este é uma Lei da Física: Para toda ação existe uma reação igual e contrária. Muitos tentam aplicar este princípio nos relacionamentos, para justificar atitudes de oposição e de vingança quando uma determinada ação lhes causa ferida. No entanto, a vida não precisa ser sempre assim: Para toda ação, é possível produzir outra ação diferente, que não precisa ser igual, nem contrária, mas criativa.
Um dos escritores mais apreciados na literatura mundial é Dostoievski. Enojado da complacente, superficial e autogratificante sociedade corrupta da Rússia no Século 19, viu em seus dias o surgimento de muitos grupos radicais e revolucionários, e ainda jovem foi atraído por um destes movimentos, sendo por isto preso e exilado na Sibéria. Ao invés de se tornar ainda mais extremista, esta dura experiência o fez radicalizar-se no sentido oposto.
No início do seu confinamento, foi visitado por uma mulher notável, Natalya Fonsivina, que lhe deu um Novo Testamento, sua referência de leitura naqueles dias solitários na gélida Sibéria. Durante quatro anos, enquanto aguardava sua sentença, manteve este livro debaixo de seu travesseiro, lendo e relendo seu conteúdo várias vezes. Além disto, começou a compartilhar suas leituras com outros prisioneiros, e chegou até mesmo a ensinar um dos condenados a ler usando o mesmo.
O efeito deste livro em seu coração foi poderoso. Ao invés de seguir as utopias socialistas e anarquistas, passou a agir segundo o modelo de Cristo, que vivia sua experiência no meio de ambivalências, absurdos e sofrimentos.
Depois de 10 anos de exílio, foi libertado e se dedicou a escrever, criando personagens que criticavam a sociedade, não por uma atitude radical, mas buscando uma existência simples e até mesmo julgada “idiota”, como no príncipe Myshkin, que passa a viver no meio de “pessoas vazias que, na sua altivez, não percebiam que sua nobreza era apenas um verniz, pelo qual eles não eram responsáveis, pois o tinham adquirido inconscientemente como herança”.
Myshkin é simples, que não entende muito bem como a engrenagem social funciona, nem os truques da burguesia. Ele parece ser tolo em relação à realidade que o cerca, mas no meio de todo este caos, de uma sociedade trivial, que valoriza as pessoas pela origem familiar, ele se torna o personagem central de pessoas obsessivas e ansiosas, loucas por reputação social, dinheiro ou sexo.
Myshkin é significativo pela sua capacidade de ser gente, de amar, de ser simplesmente humano e até mesmo quando passa a exercer influência, não se deixa seduzir pelo poder e nem possui esquemas ou razões pessoais e egocêntricas. Ele simplesmente ama as pessoas e as respeita, até mesmo Fillipovna, uma poderosa figura emocional do romance, uma mulher aflita e explorada socialmente, que encontra a chance de ser entendida, respeitada e amada pelo príncipe.
Ações e reações são gestos mecânicos. Respostas condicionadas por uma sociedade vingativa e auto centrada. Jesus ensinou: “Mais bem aventurado é dar que receber”, e definitivamente, não estava criando um slogan para pugilistas e campeões de “vale-tudo”. Estava nos ensinando a viver um estilo de doação e entrega. Apesar de sermos feridos eventualmente, não precisamos transformar nossa vida num “ringue”, onde “toda ação corresponde a uma reação igual e contrária”.

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