É muito perigoso se acostumar com o mal, com o
pecado, a morte e o diabo, mas é muito mais fácil do que imaginamos.
Acostumamo-nos com a injustiça, a corrupção, a
mentira, a ira, o mau humor, a grosseria, palavrões, pornografia, sujeira e
promiscuidade, deixamos o mal e o pecado se tornarem banais e normais,
aceitamos a indiferença. Pessoas em ambientes de guerra e violência tornam-se
apáticas em relação à miséria e mesmo à morte.
Um sociólogo em São Paulo , na sua tese
de doutorado na USP, “O homem invisível”, resolveu estudar o dia a dia dos
mendigos, convivendo meses nas ruas, becos e vielas de São Paulo, não tendo
dinheiro nem identidade. Passado o choque inicial, diz ele, passou a se
acostumar com o mau cheiro, a violência e o descaso.
O profeta Jeremias afirma: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele, ou o
leopardo as suas manchas? Então, podereis fazer o bem estando acostumados a
fazer o mal?” Deus adverte seu povo sobre o perigo de banalizar a impiedade
e a perversão. Um ato maligno, praticado reiteradas vezes, torna-se corriqueiro
e eventualmente parte inerente daquilo que somos, do caráter. O etíope, cuja
cor é negra, assim como o caucasiano, com sua pele branca, o leopardo cheio de
manchas, não podem mudar sua essência. Assim também, pessoas que se acostumam a
fazer o mal, pela continua repetição do ato, se tornam deformadas e passam a
fazer do mal, a sua essência.
Na infância tive um amigo que mentia demais.
Com o tempo, ninguém mais acreditava nele, e todas as suas declarações eram
recebidas com suspeita. Apesar de sermos crianças, um dia alguém afirmou que o
Zé Luis não falava mentiras, ele era a mentira.
Muitas pessoas não cometem delitos, são a
farsa; não mentem, são a mentira; não roubam, são ladrões, não praticam imoralidade,
são imorais. Não é questão de fazer algo errado, mas se tornam errado. Esta é a
tendência da natureza pecaminosa. Não somos pecadores porque pecamos, mas
pecamos porque somos pecadores. Assim como o leopardo não pode mudar a mancha
de sua pele, assim também, pessoas acostumadas a fazer o mal, tornam-se
impotentes para fazer o bem. O mal torna-se parte da natureza – Que tragédia!
Talvez seja isto que Jesus estava querendo nos
ensinar ao falar de novo nascimento. O termo originalmente foi traduzido por
“regeneração”, que tanto em grego quanto em português, traz na raiz a idéia do gene (genética). Só o Espírito Santo
pode fazer alguém acostumado a fazer o mal, a voltar ao seu senso, e fazer o
bem.
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