terça-feira, 5 de julho de 2011

Criatividade e imaginação

Um dos grandes desafios no processo educacional é não sufocar a capacidade imaginativa das crianças. Geralmente a infância é rica em imaginação e consegue criar um sistema imunológico contra os venenos culturais que a destroem, mas com o passar do tempo, são amoldadas a este sistema que reduz o aprendizado a fórmulas, técnicas e métodos.
Já vi gente muito imaginativa. Um dos colegas que tive, já avançado em idade, era grande poeta e orador criativo, certa feita, nos seus delírios senis, ao olhar as formiguinhas enfileiradas nos disse que via os soldados da confederação, enfileirados em fraques vermelhos, caminhando nos seus treinamentos e prontos para a batalha. Outro colega comentou: “Até na senilidade, consegue ver a vida de forma colorida e colocar poesia na existência!”.
A criatividade tem sido extremamente ameaçada. Nossa sociedade é montada em sistemas, performances e programas. Reduziram a educação aos métodos. Um vestibular é uma forma de avaliar, não necessariamente o saber, mas a capacidade do aluno em pensar de forma mecânica. Rubem Alves afirma que este sistema se parece com um país onde o rei, que tinha uma filha que não era bonita e com os dedos gordos, instituiu que somente as meninas com dedos gordos seriam belas, assim, sua filha se encaixou no padrão idealizado.
Czeslaw Milosz, poeta que ganhou o prêmio Nobel, comenta que as mentes dos norte-americanos foram diluídas pelo “racionalismo da explicação”. Na verdade esta é uma doença sistema do programa educacional de todo Ocidente, que está roubando das crianças sua capacidade imaginativa. Os programas da TV estão prontos, e os vídeos games pré construídos estão substituindo histórias e músicas que eram contadas, e as crianças tinham que criar seus personagens.
Para Milosz, somos pobres em imaginação e por isto temos uma idéia superficial do mundo. O universo agora, só tem espaço/tempo. Perdemos nossos símbolos, poesia, musicalidade, valor e significado. Nenhum mistério. Nenhum Deus criador e criativo. Homens são, cientificamente falando, moléculas, hormônios, bactérias, proteínas, DNAs e átomos. Perdemos o encanto pela vida e a sacramentalidade das coisas. Empobrecemos a visão da grandeza de tudo que nos cerca.
Andando numa floresta com um engenheiro agrônomo, ele me falava do nome das árvores e dizia: “Esta é uma aroeira, uma árvore deste tamanho dá tantas estacas, que valem R$ no mercado”. Depois de alguns comentários desta natureza eu brinquei com ele: “Dá para ver esta árvore apenas como árvore e não como mercado potencial, como comércio?”
“Na hora em que organização e conduta se tornam valores predominantes, a criatividade é, se não abolida, pelo menos severamente inibida, pois assim as almas dos homens e mulheres, serão vistas como energias a administrar, objetos a controlar” (Eugene Peterson).

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