Um fenômeno estranho e silencioso tem acontecido em muitos lugares do mundo, especialmente nos países mais desenvolvidos: Cresce a onda do anticonsumo, que defende a cultura de “menos é mais”, e adota uma postura minimalista. A pergunta que surge sobre este movimento é: Até que ponto funciona?
Para os defensores do minimalista, ser consumista é uma transgressão, um pecado imperdoável, “consumo” é um quase um palavrão. Alguns mais radicais chegam a defender que não precisam mais do que 54 itens para sua sobrevivência, incluindo peças de roupa, utensílios domésticos, celular (indispensável) e uma boa internet. Eles comem com simplicidade, ganham apenas para sobrevivência e detestam a ideia de sustentar o sistema, com os políticos e governos cada vez mais vorazes em taxar seus cidadãos. Em muitos casos, taxando o mesmo produto 2 ou 3 vezes.
Excetuando os exageros e radicalismos, eu chego a me perguntar se a tese que defendem não está certa em muitos sentidos, afinal, boa parte da sociedade brasileira assume dívidas quase impagáveis, entre elas “Minha casa, Minha dívida”, com juros e impostos pesados para ter a casa própria.
A expressão “Quinto dos infernos”, é antiga, do tempo do Brasil Império, e refere-se aos 20% de taxação que a Coroa Portuguesa impunha sobre os moradores do Brasil. Se compararmos este “quinto” em relação aos impostos que em alguns casos chegam a 45% no Brasil, em itens indispensáveis, começamos a achar que os 20% do inferno, não são tão ruins assim...
A onda anticonsumo questiona as compras exageradas e desnecessárias. “Compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos.” Esta tendência também usa o discurso do politicamente correto, já que menos consumo redunda em menos pacotes, menos plásticos, e menos agressão ao meio ambiente, gerando uma vida mais consciente e responsável.
Com protestos contra a ostentação e consumo, diversas ações surgiram na onda anti-consumista dos últimos anos.
Uma pergunta, porém, fica sempre presente: De todos estes protestos, o que realmente podemos aprender? O que vai além da atitude dos “ecochatos” e que pode nos inspirar e até mesmo ser adotada por nós? O que realmente funciona? O que não passa de foto bonita e hashtag no Instagram e busca de um espaço alternativo para que as outras pessoas consumam seus “produtos”, afinal, a busca de adeptos e de likes não poderia ser uma outra forma de consumo?
Adianta sair por aí jogando fora tudo que você tem? Ganhar pouco e viver num lugar simples e sem conforto eventualmente passando por privação em nome do ecossistema e da sustentabilidade? Ter poucas coisas adequando-se às normas da estética minimalista?
Certamente precisamos repensar a voracidade das compras e gastos. Podemos passar facilmente dos limites do consumo em nome da necessidade de aprovação pública. Ostentação não parece ser algo saudável e revela um profundo desejo de ser apreciado, não por aquilo que somos, mas por aquilo que temos. É importante refletir sobre um modo de consumo consciente, que se encaixe em nosso estilo de vida, responda às nossas necessidades, mas sem exageros. Este equilíbrio é necessário, mas complexo, afinal, o que pode parecer exagero para alguns, pode não ser para outros.
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