quinta-feira, 28 de julho de 2022

Adoração Integral



 

Quando o povo de Israel estava se preparando para guerrear contra os filisteus, Samuel estava na liderança da nação judaica e sabia que o segredo da vitória do povo estava na fidelidade ao Senhor, não na capacidade bélica e militar que possuíam, nem ainda na estratégia de guerra. Então, antes de sair para a batalha, fez a seguinte exortação: 

Se é de todo o vosso coração que voltais ao Senhor, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes e preparai o coração ao Senhor, e servi a ele só, e ele vos livrará das mãos dos filisteus” (1 Sm 7.3).

Samuel lembra ao povo como deveriam adorar ao Senhor, e por isto fez três observações:

 

Primeiro, louvor só a Deus – A adoração não poderia ser dividida ou fragmentada. Outros deuses não poderiam receber glória, mas deveriam ser retirados dentre eles. O coração só poderia ter um dono. A glória deveria ser só de Deus. O Senhor, e apenas o Senhor, deveria ser cultuado. Nenhuma imagem deveria receber as preces, este era, afinal, o primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” e esta era a frase que deveria ser repetida diariamente pelo povo de Deus: “Ouve, oh Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Só a ele adorarás, e só a ele darás culto”. 

 

Segundo, o coração deveria estar inclinado só a Deus – Preparai o coração ao Senhor”. Nada deveria estar ocupando o objetivo central de suas vidas. Seus corações deveriam se preparar para que não se distraíssem, indo em outras direções. 

 

Terceiro, deveriam servir só a Deus – “...e servi a ele só, e ele vos livrará das mãos dos filisteus”. É fácil colocar nossas mãos e talentos em atividades que não redundam em louvor ao Senhor, por isto a exortação. Deus queria que o seu povo colocasse todo o tempo de serviço, todo talento, todo dom, toda arte, tudo que poderiam produzir, a serviço dele. Como é possível fazer isto? “Portanto, quer comais ou bebais, ou façais qualquer coisa, fazei-o para a glória de Deus” (1 Co 10.31). 

 

Isto é o que podemos chamar de “adoração integral”.

Monólogo



 

No livro de Salmos há muitos monólogos. Os salmistas muitas vezes não estão falando para outras pessoas, nem mesmo para Deus, mas conversando consigo mesmos. É uma forma de expressar temores e dores. Reflexos da alma.

 

Uma das perguntas constantes é: “Por que estás abatida, oh minha alma! Por que te perturbas dentro em mim?” Um desejo de encontrar respostas às inquietações e dores. Não é assim que nos sentimos tantas vezes? Precisamos responder às questões que nos perturbam. Onde encontrar respostas aos dilemas mais profundos?

 

Muitas vezes somos dominados pela ansiedade, consumidos pelas preocupações quanto ao futuro. Todos sabemos que ansiedade não ajuda em nada, e que o futuro pertence a Deus, mas então, qual é a razão de tanta insegurança? Por que temos que viver assim tão angustiados sobre o amanhã?

 

Outras vezes somos marcados pelos abusos e dores do passado. Remoer mágoas e alimentar ressentimentos é uma péssima forma de tentar resolver a dor. Amargura não é apenas emocionalmente destrutiva mas fisicamente debilitadora. Então, sabendo disto, por que ainda vivemos tão escravizados a experiências traumáticas e dominadas pelas lembranças doloridas?

 

O Salmista indaga: “Por que estás abatida, oh minha alma! Por que te perturbas dentro em mim?” A única resposta plausível e capaz de trazer alívio à sua alma, curiosamente, não está dentro dele, mas fora: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei; a Ele, meu auxílio, e Deus meu.” A resposta é encontrada fora dele, e não dentro dele.

 

A alma inquieta não encontra resposta na reflexão, nem no monólogo; mas na oração e no diálogo: com aquele que de fato é capaz de nos socorrer.

 


 


 

Que queres que eu te faça?

 



 

Várias vezes Jesus faz esta pergunta às pessoas que se aproximam dele procurando ajuda. Algumas vezes a pergunta de Jesus parece até lacônica, e óbvia que ficamos nos indagando porque Jesus fez tal pergunta. O cego de Jericó chegou ao ponto de ser repreendido pela multidão de tanto que gritava pedindo misericórdia, e quando ele se encontra diante de Jesus ele lhe pergunta: “Que queres que eu te faça?” Sua resposta foi direta: “Que eu torne a ver.” (Mc 10.51)

 

Por que jesus faz uma pergunta assim tão evidente? Creio que uma das razões centrais é que podemos até saber quão profunda é a dor, mas nem sempre queremos ser curados. Muitos enfermos retroalimentam sua dor fazendo com que todos lhe prestem atenção e ele se torne o centro dos cuidados. A dor se torna um meio de vida.

 

Alguns não querem ser curados de sua avareza, que tem sido a razão de sua angústia, que o faz escravo do dinheiro, que o atormenta e rouba sua vida. Precisam ser curados, mas não querem ser curados. Muitos são dominados pela arrogância e dureza, que “lhes dá o direito” de magoar e ferir, de continuarem rudes e insensíveis. Muitos não querem ser curados de sua vaidade, que os torna auto enamorados e narcisistas. Vaidade é o pecado predileto do diabo, porque a pessoa é levada a uma auto absorção e há um movimento egóico da alma fazendo com que a pessoa viva perguntando: “Espelho meu, espelho meu: Existe alguém no mundo mais belo do que eu.”

 

Se Jesus perguntasse a você hoje: “Que queres que eu te faça?” que resposta você daria? Você é capaz de autodenunciar-se e reconhecer a razão de sua melancolia, depressão, ansiedade e angústia? Você deseja que Jesus toque na sua doença? Você quer ser curado da vaidade, mau humor, egocentrismo, amor ao dinheiro e irritabilidade? Você gostaria de pedir a Jesus para que sua cura aconteça?

 



A necessidade da sabedoria

 



Disse o homem: Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto porque sou demasiadamente estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.” (Pv 30.1-3)  

A sabedoria ocupa lugar especial nas Escrituras Sagradas. Não é sem razão que vários livros bíblicos são sapienciais ou de sabedoria. Ao contrário do que pensamos, sabedoria não é conhecimento, nem acúmulo de informações, mas é a capacidade de escolher entre o certo e o errado, entre o bom e o melhor, entre o mal e o bem. Muitos eruditos estão cheios de conhecimento, mas não sabem lidar com as coisas mais simples da vida. Falta-lhes sabedoria!  

A sabedoria é importante, porque sem ela, perdemos a compreensão de quem é, de fato, o Senhor da história, controla e dirige os eventos. 

No texto inicial de Provérbios 30, depois que o autor declara sua falta de sabedoria, ele continua: “Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas na sua roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?” (Pv 30.4). Ou seja, sem sabedoria, o homem perde a capacidade de entender quem está acima dele, e perde a noção do Sagrado e do Sobrenatural.  

A Bíblia afirma: “Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.” (Jó 28.28) O ponto de partida da sabedoria é o temor a Deus. Sem temor não há entendimento, compreensão real da vida, nem a capacidade de fazer escolhas corretas.   Por isto precisamos de sabedoria. 

O apóstolo Tiago diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida.” (Tg 1.5). Precisamos de sabedoria para viver, mas sem a graça de Deus, certamente continuaremos a esbarrar na nossa falta de entendimento.   

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Se quiseres, podes!



 

A questão da cura divina se interpõe de forma natural e é um dos temas centrais e recorrentes nos Evangelhos. O Evangelista Mateus, sintetiza o ministério de Cristo afirmando: “Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de enfermidades entre o povo.” (Mt 4.23) A missão que ele deu aos seus discípulos, incluía o ministério de cura. Jesus disse que em toda cidade que chegassem, deveria pregar o reino de Deus e “curar os enfermos” que nela houvesse. (Lc 10.9).

 

Um dos diálogos mais lúcidos que encontramos no Novo Testamento é o encontro de Jesus com um homem, logo após seu conhecido Sermão da Montanha, que leproso se aproxima de Jesus, o adora dizendo: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me.” (Mt 8.2). A questão não era se Jesus podia ou não, mas se ele queria ou não. No caso do leproso Jesus afirmou: “Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo de sua lepra.” Deus tem poder e isto o capacita a curar, imediatamente. Se ele quiser, ele pode.

 

A questão teológica nos desafia. Deus quer? E se não quer, por que não? Recentemente orava pela cura de uma pessoa querida, evocando todas as suas qualidades, sua vida de serviço, e de repente fiquei chocado com as bases da minha oração. Primeiro, porque nenhuma cura está fundamentada naquilo que somos ou fazemos. Pessoas com uma profunda fé, passaram por grandes aflições, foram torturadas e algumas até mesmo martirizadas. Segundo, porque a questão da dor e da morte é um mistério sagrado. O fato de vivermos para Deus não nos isenta de provação e luto. Será que Deus quer curar sempre? Não deveríamos entender que ele tem planos que transcendem nossa capacidade de compreensão?

 

A oração por cura é fundamental, bíblica e necessária. Jesus nos ordena a orar neste sentido e a Bíblia mostra os discípulos envolvidos no ministério de cura. A igreja precisa e pode orar. A fé é fundamental. Para alguns Jesus disse: “Faça-se conforme a tua fé!” (Mt 9.2; 15.28); para outros: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Co 12.9). Não sabemos qual é o propósito de Deus, mas sabemos o essencial: “Se quiseres, podes!”

 

Rev. Samuel Vieira