sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Perda da Motivação

Lendo recentemente um comentário sobre as razões da queda do Rei Davi o autor comentava que seu problema foi a ociosidade, e citava o seguinte texto: “Decorrido um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, enviou Davi a Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel, que destruíram os filhos de Amom e sitiaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém” (2 Sm 11.1).
Ao ler o texto, tive uma impressão um pouco diferente: Seu problema não era o ócio, mas a ausência de motivação.
Davi era guerreiro, aprendeu a lutar, a conduzir seu exército, defender seu país, mas agora, um pouco mais maduro, já havia consolidado seu reinado, seus vizinhos o respeitavam e temiam pelo poder bélico que construíra, e Davi começou a olhar para suas conquistas, e estas não mais o satisfaziam. Ele perdeu o brilho nos olhos, e entrou num quadro de apatia, no qual já não importa para que lado vai o andar das carruagens, porque não fazia nenhuma diferença para sua vida...
Ás vezes isto decorre por causa do sucesso e da prosperidade em si. Conta-se que Alexandre, o Grande, aos 33 anos de idade, assentou-se numa pedra e chorou porque já não existiam mais terras a serem conquistadas. Executivos bem sucedidos, profissionais realizados e respeitados no mercado de trabalho, aprenderam tanto a ser competitivos, conseguiram seu lugar no mercado, consolidaram suas conquistas, construíram um portfólio de riquezas e bens, conseguem realizar seus sonhos, viajar, fazer o que quer, e agora chegam a um momento da vida em que não sabem mais o que fazer. A vida perde o encanto, a magia.
Esta é uma hora perigosa! Inconscientemente nos abrimos para “novas aventuras”, e queremos experimentar um pouco de adrenalina na vida. No caso de Davi, seu problema foi o adultério. Ele viu uma mulher bonita e sedutora, se encantou com ela, como rei tinha várias e bonitas esposas dentro de seu palácio já que o sistema poligâmico permitia, mas a contravenção se tornou uma proposta interessante para seu marasmo.
Daí em diante, porém, a vida de Davi se torna um inferno. Para acobertar sua atitude se envolveu num assassinato, mandou matar o esposo daquela mulher para ficar com ela. Seus filhos o desrespeitaram. Cenas de estupro se deram entre seus filhos nos seus palácios, um irmão mata o outro. Cai em desgraça pública, torna-se objeto de chacota e zombaria de seus súditos e Deus lhe envia o profeta para estabelecer o juízo.
Esta uma situação muito real na vida de muitos homens trabalhadores, honestos, que se descuidam de seu próprio coração, e que numa terça feira quente, levanta-se do seu leito... vê uma mulher bonita... e o resto já sabemos de cor!

A Presença “Escondida” de Deus.

No episódio bíblico da visão celestial dos anjos descendo e subindo dos céus, ao acordar Jacó exclama: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). Deus estava perto, sua presença era real, mas Jacó ignorava esta realidade.
Fico pensando quão facilmente Deus pode estar perto sem que tenhamos consciência de sua realidade. Deus estava perto de Abraão quando ele levantou o cutelo para sacrificar seu filho, mas Deus o impede dizendo: “Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças” (Gn 22.12). Deus estava tão perto, mas provavelmente Abraão não foi capaz de percebê-lo... Deus estava por perto quando Hagar tem de enfrentar o abandono, a rejeição e a exclusão e sai desatinada para o deserto, sem rumo certo, tendo que enfrentar a solidão terrível e a ausência de água, quando Deus lhe diz: “Que tens Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino daí onde está” (Gn 21.17) e Hagar percebe que Deus “estava com o rapaz” (Gn 21.20). Quantas vezes ignoramos a presença de Deus entre nós, ou não a percebemos.
Quando Jacó diz: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16), ele usa no hebraico o termo Iadá, que significa penetrar. Esta frase, então, poderia ser traduzida da seguinte forma: “na verdade o Senhor está neste lugar e eu não o penetrava” (Chouraqui). Não era que Deus estava ausente, mas a percepção falha de Jacó o impedia de se conectar e se aprofundar nos mistérios de Deus ao seu redor.
Esta é a nossa angustiante realidade – Estamos desconectados do Eterno, e não o “penetramos”, nem o percebemos. Falta-nos a capacidade de aprofundar na sacralidade de um Deus que sempre esteve presente. “Invoca-me e te responderei, anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33.3).

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Riso da incredulidade x O riso do coração

No espaço de apenas três capítulos da bíblia, o livro de Gênesis registra o riso de Sara duas vezes: Na primeira, ela está rindo de incredulidade (Gn 18.10-12); no segundo, ela ri de contentamento (Gn 21.6-7).
Podemos acrescentar que na vida, encontramos ainda muitas outras razões do riso: Existe o riso escrachado, quando se deseja zombar do outro; o riso do cinismo, quando numa disputa se questiona o outro com desprezo; existe o riso de nervosismo, que é fruto de situações nas quais rimos, não porque realmente desejamos rir, mas porque somos traídos por espasmos involuntários do nosso corpo; existe o riso dos bêbados, que entregues ao álcool riem sem razão no ridículo comportamento que emitem.
Sara ri por duas razões: Numa, por causa de uma bizarra promessa que Deus faz à sua vida, noutra por causa da explosão de alegria que ela sente no peito.
Em Gn 18, Deus faz uma promessa ao seu marido: “Certamente voltarei a ti, daqui a um ano; e Sara, tua mulher, dará à luz um filho...Riu-se, pois, Sara no seu íntimo, dizendo consigo mesma: Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer?” (18.10-12). O texto afirma que Abraão e Sara eram avançados em idade; e à Sara já lhe havia cessado o costume das mulheres. Como engravidar sem o ciclo de ovulação?
Muitas vezes rimos das promessas de Deus, ao invés de crermos. Parece tão impossível que Deus possa fazer algo em situações tão anacrônicas em que nos encontramos. Deus repreende este riso de Sara dizendo: “Acaso para o SENHOR há cousa demasiadamente difícil? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a ti, e Sara terá um filho” (Gn 18.14). Este riso de incredulidade não glorifica a Deus, antes esbarra na compreensão que temos de quão grande é o nosso Deus!
Em Gn 21.6 Sara ri novamente. “Deus me deu motivo de riso; e todo aquele que ouvir isso vai rir-se juntamente comigo”. Este é outra razão de riso. É o riso do contentamento, riso do coração. Agora, Deus é glorificado. Sara ri por se deparar com a grandeza de Deus, ao compreder que ele é o Deus Todo Poderoso, o El Shadday. Quando Deus nos visita, e sua promessa se cumpre em nós, encontramos todas as razões para celebração, riso e alegria. “Quando o Senhor restaurou nossa sorte, ficamos com quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo”. (Sl 126.1-2).
Que grande benção é quando experimentamos o riso do contentamento, que surge quando Deus manifesta em nós sua grandeza e graça.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Se ao menos

Alguém afirmou que existem seis frases que podem salvar um casamento:
1. Frase da humildade: “Eu reconheço que cometi um erro”. Quase nunca reconhecemos o erro que praticamos. “falei ou fiz a coisa errada na hora errada, com a entonação de voz errada”.

2. Frase da valorização – “Você fez um bom trabalho”. A pessoa faz tudo certo o ano inteiro, sem receber um elogio, no primeiro erro surge a voraz crítica. Precisamos aprender a elogiar

3. Frase da Apreciação – “Qual é sua opinião?” Casamento é parceria, não rivalidade. Um completa o outro

4. Frase da Afeição – “Eu amo você!”. Declarar o amor retroalimenta o sentimento

5. Frase da Gratidão: “Muito obrigado!” Se fossemos educados dentro de casa como somos para com os de fora, nosso casamento seria uma maravilha.

6. Frase do Altruísmo – “nós!”. Deixar de usar o verbo no singular e colocá-lo no plural. “Nossa casa”, “nosso carro”, “nosso filho”.

Há anos, um famoso psiquiatra de Nova York, ao aproximar-se o fim de sua profícua carreira, disse que uma das coisas que mais atrapalhava as pessoas era a expressão “se ao menos”. Ele afirma: “Muitos de meus pacientes tem levado a vida no passado, mortificando-se por causa do que deviam ter feito em várias situações: ´Se ao menos eu tivesse me preparado melhor para aquela entrevista...´ou, ´Se ao menos eu tivesse expressado ao chefe meus verdadeiros sentimentos...´”.
A sugestão que ele dá é a de usar uma técnica simples: Toda vez que tivermos vontade de usar a expressão “se ao menos”, deveríamos trocá-la por outra que demonstra atitude: “Da próxima vez eu vou dizer...”, ou “da próxima vez vou fazer aquele curso”, “da próxima vez vou agir de forma diferente”.
Segundo sua análise, esta atitude fecha a porta aos problemas, possibilitando-nos a dedicar mais tempo e reflexão ao presente e ao futuro, e não ao passado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Não mude o que não deve ser mudado!

Depois do fracassado Plano Collor cujo lema era: “Invente, tente, faça alguma coisa diferente!”, um humorista deu o seguinte conselho: “Não invente, não tente, não faça nada diferente!”.
Somos uma sociedade tradicional, que vive sob a pressão de eventos e mutações. Por isto facilmente oscilamos. Não temos uma âncora firme na qual nos sintamos seguros para não vacilar diante da opinião pública, de amigos e colegas de trabalho, e por isto, não raras vezes, mudamos aquilo que não deveria ser mudado. Nossa ansiedade leva-nos a querer mudar o que jamais deveria mudar.
Mais grave se torna ainda nossa situação quando mudamos o que não deveríamos ter mudado, e deixamos de mudar o que precisava ser mudado. Existe um antigo provérbio que diz: “Senhor, dá-me coragem para mudar o que precisa ser mudado, paciência para suportar aquilo que não pode ser mudado, e sabedoria para discernir entre uma coisa e outra”.
Precisamos mudar comportamentos que ferem, atitudes que prejudicam pessoas que a gente ama. Precisamos mudar o falar descaridoso, a indiferença e resistência para com a família, nossa rudeza para com esposa (o) e filhos, nossa frieza em relação às coisas de Deus. Precisamos ter coragem de tomar decisões que podem mudar nossa estratégia empresarial e nos tirar da perigosa zona de conforto que vivemos.
Mas não devemos mudar coisas que não podem ser mudadas. A Bíblia nos ensina a não mudar os “marcos antigos”. Heranças e legados que recebemos, projetos que estão abençoando outras pessoas e estratégias empresariais que estão dando certo. Reflita sobre as razões do seu sucesso (ou fracasso): Quantas coisas boas você fazia e deixou de fazer? Na ansiedade de mudar e por acreditar que mudar por mudar é um valor em si, surgiram equívocos que refletem perigosamente no dia de hoje.
O que você tem mudado sem necessidade? Relacionamentos, amizades, trabalho, simplicidade de vida, um estilo de vida que era sua realidade por um modelo de tenso que hoje você vive? Não deveria, portanto, fazer tais mudanças.
Existe outro ditado que diz: “Planta que muda muito não cria raiz!”. Ninguém consegue viver em constante mutação. A vida precisa de certos rituais, horários e rotinas. Isto faz com que exista certo nível de expectativa e coerência. A Imprevisibilidade e incerteza podem ser muito boas em várias situações, mas podem trazer muita insegurança em outras. Filhos, por exemplo, precisam de certa coerência e previsibilidade. Clientes, parceiros e colaboradores também encontram dificuldade para se relacionar com uma empresa que não tem um nível de estabilidade esperada.
Por isto, cuidado para não mudar o que não deve ser mudado!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Conspiração dos Ipês





Sempre me impressionei com a beleza dos ipês, árvore belíssima do cerrado do Centro Oeste. 

Ultimamente tenho me impressionado também com outro aspecto curioso: 

O Ipê demonstra sua pujança e exuberância, não nos dias de chuva quando o verde e a natureza se empolgam tanto, mas nos meses mais secos do ano – Agosto e Setembro. Nestes dias quentes, quando todas as demais árvores se encolhem e ressentem da chuva, o ipê floresce. De repente, no meio da sequidão, eclode em vida. Suas flores tornam-se um descompasso na natureza, ornando os pastos e as florestas de uma beleza exuberante. 

Outras árvores como o Flamboyant, o cajueiro e o pequizeiro também resolvem demonstrar que é possível fazer brotar a vida nos dias secos. O caju só frutifica na ausência de água. Estas árvores conspiram contra a realidade da secura e assim se autenticam. É uma cena de inconformismo. Uma atitude anárquica de quem se recusa a entregar e ceder. 

É uma anomalia frutificar e dar flores quando a natureza manda encolher. O ipê assim brota em suas múltiplas cores: Roxo, amarelo e branco. Uma rebelião contra o feio, um grito de coragem diante da seca. 

Já encontrei seres humanos também anárquicos com o caos e a sequidão. 

A Bíblia fala que tais pessoas, ao passarem pelo vale árido, o transformam em manancial. A dor, a oposição e a tristeza se tornam para elas uma oportunidade de revelar sua fé, caráter e valor. Não se ressentem do mal, não se entregam diante do antagonismo, tornam-se contraculturais conspirando contra o caos porque se recusam em serem pessoas ordinárias. São anárquicos por responderem de forma criativa e corajosa à vida e por se recusarem a aceitar a morte como realidade última. 

Assim como os ipês se diferenciam pela sua cor, os cajueiros respondem dando frutos. A ausência da chuva e a presença do fogo, trazendo queimadas e enfumaçando os céus não os leva a retraírem, mas a reagirem. 

Assim caminham homens e mulheres de fé e gente impregnada de esperança. 

Assim responde Jó no meio das cinzas de sua dor dizendo: “Porque Eu sei que meu redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus” (Jó 19.25-26). É gente que crê que diante da morte é possível crer na ressurreição dos corpos!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Viver e amar

Quem sabe a vida conhece a dor,
No sofrer de quem ama, inerente à vida.
Sofre quem ama, dói querer,
Só não dói quem não ama, mas isto é lá viver?

Por isto vive a vida quem aprende a amar
Quem se apaixona, quem se torna ridículo
Quem só olha prá dentro nunca vê sentido
Em tanto sofrer, em tanto amar.

As pessoas são irracionais e ilógicas,
Mas pessoas que amam, amam mesmo assim.
Amam tanto que não faz sentido,
Viver sem amar, viver por viver.

Quem sabe a vida, conhece o amor
Não de outros discursos, nem de segunda mão.
Quem sabe a vida, sofre o viver
Pois amar a vida é grande segredo.

Ah, que surpresas tantas nos traz a vida
Que amar, o mais sublime dos gestos,
Seja tantas vezes, fonte da dor
A quem tanto viveu, porque tanto amou.