No episódio bíblico da visão celestial dos anjos descendo e subindo dos céus, ao acordar Jacó exclama: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). Deus estava perto, sua presença era real, mas Jacó ignorava esta realidade.
Fico pensando quão facilmente Deus pode estar perto sem que tenhamos consciência de sua realidade. Deus estava perto de Abraão quando ele levantou o cutelo para sacrificar seu filho, mas Deus o impede dizendo: “Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças” (Gn 22.12). Deus estava tão perto, mas provavelmente Abraão não foi capaz de percebê-lo... Deus estava por perto quando Hagar tem de enfrentar o abandono, a rejeição e a exclusão e sai desatinada para o deserto, sem rumo certo, tendo que enfrentar a solidão terrível e a ausência de água, quando Deus lhe diz: “Que tens Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino daí onde está” (Gn 21.17) e Hagar percebe que Deus “estava com o rapaz” (Gn 21.20). Quantas vezes ignoramos a presença de Deus entre nós, ou não a percebemos.
Quando Jacó diz: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16), ele usa no hebraico o termo Iadá, que significa penetrar. Esta frase, então, poderia ser traduzida da seguinte forma: “na verdade o Senhor está neste lugar e eu não o penetrava” (Chouraqui). Não era que Deus estava ausente, mas a percepção falha de Jacó o impedia de se conectar e se aprofundar nos mistérios de Deus ao seu redor.
Esta é a nossa angustiante realidade – Estamos desconectados do Eterno, e não o “penetramos”, nem o percebemos. Falta-nos a capacidade de aprofundar na sacralidade de um Deus que sempre esteve presente. “Invoca-me e te responderei, anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33.3).
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