quinta-feira, 1 de março de 2007

Maricota

Na verdade, simplesmente, Cocota.
Embora não tivesse nada a ver com as cocotinhas modernas.
Aliás, este adjetivo era sequer conhecido naqueles tempos.

De fato, ela era a anti-cocota.
Mulher da roça, jeito simples, hábitos modestos.
Vida repleta de concretude e realidade.
Comia do que colhia da terra, vida espartana.
Não reclamava, não maldizia a vida.
Não tinha tempo para pensar em si com 7 bocas para alimentar.
Seu marido também vivia no mesmo ritmo,
Acordar cedo, carpir, plantar.
Calado, reflexivo,
Vocabulário curto, jornada de trabalho longa.
Sua simplicidade e timidez justificavam seu silêncio.
Seu silêncio justificava sua timidez.
Apesar disto, cocota tinha seus caprichos,
Vaidade e desejos se escondem na simplicidade da vida.
Gente pobre também tem fantasias e cria seus desejos.
Nada demais...besteirinhas de mulher.
Coisa de gente pobre, vaidade feminina.
“Quem não se ajeita por si se enjeita”

Apesar do homem mandar, eram as mulheres quem ditavam as regras.
Mesmo assim não conseguia convencer o marido de certos “luxos”,
De pequenos confortos.
Coisas simples...bobagens de mulher...

Ao receber a visita rara de um amigo do marido
Não teve duvidas em pedir socorro:
“Ele não me dá nenhum ‘confoito’, vê se explica prá ele”.
A voz era de certa súplica, desejo de ser ouvida.
O marido pigarreou, sentiu-se ameaçado, se encolheu todo,
Como um animal acuado,
Ao cruzar com olhar da mulher e do marido,
Com ressentimento e rancor na voz,
Justificando-se respondeu:
“confoito é arroz com abroibra”

É...para quem se endureceu prá viver,
E se calejou na vida.
Para quem luta para a sobrevivência.
Parece que não existe nada além de comida.
Conforto é privilégio de ricos,
Não desejo de mulher...
Samuel Vieira
Fevereiro 2007

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