sexta-feira, 24 de março de 2017

Efésios 4.12-16 Os dons e o corpo



Introdução:

A carta de Paulo aos Efésios tem como tema central a igreja de Cristo. Ela fala desta nova sociedade que Deus está criando por meio de Jesus. Não mais um povo que se define por laço históricos e genealogias, mas formados em torno do sangue de Cristo (Ef 2.13-16). Esta nova sociedade é chamada para realizar as obras de Deus na história (Ef 2.10) e confrontar e confundir as trevas (Ef 3.10).

Neste texto, a Palavra nos ensina sobre a obra de Cristo, não apenas sobre o que ele fez, derramando seu sangue para gerar um povo para Deus (obra completa realizada na cruz); mas também como ele faz para atingir o seu propósito de edificar a sua igreja em nossos dias. O apóstolo Paulo descreve como Cristo está fazendo isto ainda hoje, por meio do seu Espírito Santo. Ele deu dons à igreja (Ef 4.11), e por meio dos dons, age na sua igreja atingindo seus propósitos.

O Objetivos dos dons
A partir do vs. 12, o texto fala dos objetivos de Cristo ao conceder seus dons.

1.     Aperfeiçoamento dos santos – “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12) Temos aqui uma afirmação estranha: Jesus concedeu dons à sua igreja para que os santos fossem aperfeiçoados. Não parece estranho? Se são santos não precisam de aperfeiçoamento, e se precisam de aperfeiçoamento não são santos...

A palavra “aperfeiçoar” que aparece no texto, vem de uma palavra grega que significa “remendar a rede”. Ela era usada pelos pescadores, que precisam corrigir determinados buracos que geralmente eram provocados pelas pedras e pelo uso constante na pesca. O texto ensina que “os santos não são santos”, e precisam constantemente de orientação, apoio, encorajamento e repreensão, como uma frase que ouvi certa vez: “seja paciente comigo, Deus ainda não me completou”.

No uso correto dos dons, a igreja de Cristo vai sendo burilada. A igreja precisa de cuidados, e Deus concede dons de pastor, ensino, apóstolo, etc., para que tais distorções sejam reparadas.

2.     Capacitação para o trabalho – “para o desempenho do seu serviço”(Ef 4.12). Os dons habilitam o corpo de Cristo para realizar a obra que ele deseja que realizemos (Ef 2.10). Há muita coisa para ser realizada, mas nem sempre as pessoas estão preparadas para realizar a obra de Deus, por isto Deus levanta mestres e profetas.

O grande desafio da liderança com os dons é entender isto e treinar as pessoas para a obra de Deus. Paulo ensina a Timóteo: “O que de minha parte ouviste, isto mesmo transmite a homens fieis, para que possam instruir outros” (2 Tm 2.2). Paulo fala aqui de quatro gerações: Ele – Timóteo – homens fiéis – outros. O grande desafio da igreja não é apenas ter pessoas que saibam fazer as coisas corretamente, mas ter pessoas que capacitem outros para continuar a obra do ministério.

O grande chamado não somente fazer, mas ensinar a fazer.

3.     Edificação do corpo de Cristo – “Para a edificação do corpo de Cristo”(Ef 4,12). A igreja de Cristo precisa ser edificada. Quem edifica a igreja? O próprio Cristo, o dono da igreja (Mt 16.18). Quando ele diz: “edificarei a minha igreja”, ele deixa claro que a igreja é sua posse e que ele zela cuidadosamente por ela, para que cumpra seu propósito na história: Um povo para louvor e glória de Deus.

A igreja de Cristo precisa ser edificada na história. E como ele a organizou para que isto de fato se concretizasse?

Ele deu dons aos homens para atingir seu propósito.

4.     Maturidade Espiritual - “Para que não sejamos mais como meninos, agitados ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). O objetivo de Jesus, ao dar os dons para o seu povo é que haja maturidade espiritual. Que seu povo saiba discernir entre a pura e sã doutrina e a falsa doutrina, criada pelos homens.

O povo de Deus, quando mal orientado, sempre se apaixona por modismos teológicos.

No Brasil temos uma quantidade imensa de crentes infantilizados. Quanta asneira! Já estou nas lides pastorais por cerca de 40 anos e já vi muita meninice na fé travestida de espiritualidade.

Nos anos 80, surgiu o fenômeno dos dentes de ouro. Por toda a parte víamos pessoas impressionadas com um suposto evento de pessoas que de uma hora para outra ficavam com os dentes dourados e atribuíam isto à obra de Deus. As pessoas ficavam agitadas e milhares corriam atrás disto.

Na década de 90, a moda foi a maldição hereditária. Mesmo crentes convertidos, deveriam procurar um grupo de pessoas espiritualizadas para quebrar as maldições e pactos feitos pelos ancestrais, e que poderiam ainda mantê-las debaixo da ação do diabo.
Ainda hoje, centenas de pessoas infantis na fé, vivem procurando respostas mágicas de gurus e profetisas, que vão orientar quanto ao futuro e quanto às decisões angustiantes que a vida diariamente coloca diante de nós.

São os constantes “ventos de doutrinas”, que jogam as pessoas de um lado para outro, e que ficam impressionadas com um pregador mais apaixonado, ou um lunático espiritual.
A falta de consistência teológica é produzida “pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14). Em outras palavras, os motivos nem sempre são os melhores e mais saudáveis. Se lermos a 2 carta de Pedro e o livro de Judas, perceberemos quanto de falsos obreiros e homens induzidos por suas mentes carnais surgiram no meio da igreja. Isto acontecia nos dias apostólicos e ainda hoje.

Resultados
O que acontece quando estes dons são exercitados, e o corpo de Cristo funciona como ele realmente planejou?

A.     Unidade da fé – “Até que todos cheguemos à unidade da fé” (Ef 4.13). As verdades de Deus precisam ser assimiladas por toda igreja. Precisamos estar firmados nas mesmas verdades. A fé não pode ser fragmentada por diversas opiniões e conceitos.

O que fragmenta a fé?

Normalmente as heresias.

Ao contrário do que pensamos, heresia não é “a negação de uma verdade”, mas sua distorção. Por isto ela sempre vem em forma de piedade, com aparência de verdade. Satanás é capaz de pegar uma verdade simples e distorcê-la, como fez na tentação de Adão e Eva, e na tentação de Jesus. Ele não negava a Palavra de Deus, ele até mesmo a citava. O problema estava no sentido que ele dava a esta verdade.

Dois exemplos simples:

Primeiro,
Nós cremos que a Bíblia é Palavra de Deus.
Esta é uma declaração básica de nossa fé. O que faz a heresia? Ela afirma que é palavra de Deus, mas tem ruídos, portanto, devemos ter cuidado em crer em tudo o que ela diz. Já viram as consequências de uma afirmação perniciosa como esta? Foi isto que aconteceu com o pensamento liberal, que está destruindo as igrejas da Europa e do Nordeste dos EUA.
A heresia ainda pode afirmar: “Ela é palavra de Deus, mas tem alguns elementos culturais, sociológicos, antropológicos que devem ser considerados”, e ao fazer isto, começa a relativizar a palavra de Deus e negar verdades essenciais.

Segundo,
Nós cremos que a salvação é pelas obra de Cristo, pelo sacrifício substitutivo de Cristo. Ninguém pode se salvar através de méritos, boas obras, e esforço humano.
Mas alguns podem dizer: “O que salva é Cristo, mas precisamos fazer isto ou aquilo para completar”, ou, do outro lado, podemos dizer: “O que salva é Cristo, mas como é ele que salva, posso viver em pecado, porque uma vez salvo para sempre salvo”.

Percebem as sutilezas?

A verdade vem contaminada.

Como uma água com veneno. Ela ainda é agua, pode matar a sede, mas se você beber, morre. Como os espinhos de peixe, os mais perigosos não são aqueles que vemos, mas os pequenos espinhos.

B.     O pleno conhecimento do Filho de Deus – (Ef 4.13). No exercício dos dons na mutualidade do corpo de Cristo, vamos paulatinamente conhecendo mais sobre Jesus e sua obra.

Tenho visto como é perigoso para os crentes, a insistência moderna de viver fora de uma comunidade e da comunhão da igreja. Não vejo crescimento espiritual na vida de pessoas que insistem em ver sua fé de forma individual, negando os ensinamentos das Escrituras. Aos poucos a fé vai definhando, o amor por Jesus vai diminuindo, perde-se a capacidade de orar e o interesse pela obra missionária no mundo. Para que plantar igrejas ao redor do mundo se não sinto necessidade de participar de minha própria comunidade?

Recentemente aconselhei uma amiga que se afastou da igreja por motivos históricos, preguiça e displicência. Eu sei que ela é crente, mas foi se distanciando da comunidade, não existe liderança espiritual sobre sua vida, seu marido aparentemente perdeu a fé a atualmente se envolveu com esoterismo, gurus e zen budismo, e suas filhas não tem qualquer vinculo com a fé cristã.

Deus deu dons à igreja para que conhecêssemos melhor a Jesus, e chegássemos à estatura da plenitude do seu conhecimento. Precisamos de comunidade para que isto se manifeste em nossa vida.

C.     Perfeita varonilidade – “... à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4.13)

Só há uma forma de nos identificarmos com Cristo: identificando-nos com os membros de seu corpo. O alvo dos dons é trazer maturidade emocional e espiritual para o corpo.

Cada vez me impressiono mais com o poder do evangelho na vida das pessoas. A Igreja foi formada pelo evangelho, e é responsável por manter e guardar o evangelho. Quantas vidas tem sido restauradas através da igreja de Cristo? Quantos lares tem se recuperado pelo poder de Deus experimentado na comunidade? Muitos vem de lares disfuncionais e esfacelados, mas estudando a Palavra de Deus, sendo cuidados pela comunidade, o Senhor vai ministrando os princípios transformadores da verdade do Evangelho, tornando-os psicologicamente maduros.

Conclusão:

Os dons foram dados à igreja como estratégia do próprio Cristo.
Este é o design para sua igreja. Foi assim que ele quis fazer.

Ao andarmos com o povo de Cristo, precisamos sempre fazer duas perguntas:

Primeiro, como posso cooperar para que a igreja de Cristo caminhe crescendo para a maturidade espiritual. Que dons Deus dispensou à minha vida? Como posso exercitá-los.

Segundo, como Deus quer usar meus irmãos, na comunidade que frequento, para me abençoar e me fazer parecido com Cristo?


Tudo isto nos faz entender como é necessário e abençoador a existência da igreja de Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário