Introdução:
A
carta de Paulo aos Efésios tem como tema central a igreja de Cristo. Ela fala
desta nova sociedade que Deus está criando por meio de Jesus. Não mais um povo
que se define por laço históricos e genealogias, mas formados em torno do
sangue de Cristo (Ef 2.13-16). Esta nova sociedade é chamada para realizar as
obras de Deus na história (Ef 2.10) e confrontar e confundir as trevas (Ef 3.10).
Neste
texto, a Palavra nos ensina sobre a obra de Cristo, não apenas sobre o que ele fez, derramando seu sangue para
gerar um povo para Deus (obra completa realizada na cruz); mas também como ele faz para atingir o seu propósito de
edificar a sua igreja em nossos dias. O apóstolo Paulo descreve como Cristo
está fazendo isto ainda hoje, por meio do seu Espírito Santo. Ele deu dons à
igreja (Ef 4.11), e por meio dos dons, age na sua igreja atingindo seus
propósitos.
O Objetivos dos dons
A
partir do vs. 12, o texto fala dos objetivos de Cristo ao conceder seus dons.
1.
Aperfeiçoamento
dos santos – “Com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12) Temos aqui uma afirmação estranha:
Jesus concedeu dons à sua igreja para que os santos fossem aperfeiçoados. Não
parece estranho? Se são santos não precisam de aperfeiçoamento, e se precisam
de aperfeiçoamento não são santos...
A
palavra “aperfeiçoar” que aparece no texto, vem de uma palavra grega que
significa “remendar a rede”. Ela era usada pelos pescadores, que precisam
corrigir determinados buracos que geralmente eram provocados pelas pedras e
pelo uso constante na pesca. O texto ensina que “os santos não são santos”, e
precisam constantemente de orientação, apoio, encorajamento e repreensão, como
uma frase que ouvi certa vez: “seja paciente comigo, Deus ainda não me
completou”.
No
uso correto dos dons, a igreja de Cristo vai sendo burilada. A igreja precisa
de cuidados, e Deus concede dons de pastor, ensino, apóstolo, etc., para que
tais distorções sejam reparadas.
2.
Capacitação
para o trabalho – “para o desempenho
do seu serviço”(Ef 4.12). Os dons habilitam o corpo de Cristo para realizar
a obra que ele deseja que realizemos (Ef 2.10). Há muita coisa para ser
realizada, mas nem sempre as pessoas estão preparadas para realizar a obra de
Deus, por isto Deus levanta mestres e profetas.
O
grande desafio da liderança com os dons é entender isto e treinar as pessoas
para a obra de Deus. Paulo ensina a Timóteo: “O que de minha parte ouviste, isto mesmo transmite a homens fieis, para
que possam instruir outros” (2 Tm 2.2). Paulo fala aqui de quatro gerações:
Ele – Timóteo – homens fiéis – outros. O grande desafio da igreja não é apenas
ter pessoas que saibam fazer as coisas corretamente, mas ter pessoas que
capacitem outros para continuar a obra do ministério.
O
grande chamado não somente fazer, mas ensinar a fazer.
3.
Edificação
do corpo de Cristo – “Para a
edificação do corpo de Cristo”(Ef 4,12). A igreja de Cristo precisa ser
edificada. Quem edifica a igreja? O próprio Cristo, o dono da igreja (Mt
16.18). Quando ele diz: “edificarei a
minha igreja”, ele deixa claro que a igreja é sua posse e que ele zela
cuidadosamente por ela, para que cumpra seu propósito na história: Um povo para
louvor e glória de Deus.
A
igreja de Cristo precisa ser edificada na história. E como ele a organizou para
que isto de fato se concretizasse?
Ele
deu dons aos homens para atingir seu propósito.
4.
Maturidade
Espiritual - “Para que não sejamos
mais como meninos, agitados ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14).
O objetivo de Jesus, ao dar os dons para o seu povo é que haja maturidade
espiritual. Que seu povo saiba discernir entre a pura e sã doutrina e a falsa
doutrina, criada pelos homens.
O
povo de Deus, quando mal orientado, sempre se apaixona por modismos teológicos.
No Brasil
temos uma quantidade imensa de crentes infantilizados. Quanta asneira! Já estou
nas lides pastorais por cerca de 40 anos e já vi muita meninice na fé
travestida de espiritualidade.
Nos
anos 80, surgiu o fenômeno dos dentes de ouro. Por toda a parte víamos pessoas
impressionadas com um suposto evento de pessoas que de uma hora para outra
ficavam com os dentes dourados e atribuíam isto à obra de Deus. As pessoas
ficavam agitadas e milhares corriam atrás disto.
Na
década de 90, a moda foi a maldição hereditária. Mesmo crentes convertidos,
deveriam procurar um grupo de pessoas espiritualizadas para quebrar as
maldições e pactos feitos pelos ancestrais, e que poderiam ainda mantê-las
debaixo da ação do diabo.
Ainda
hoje, centenas de pessoas infantis na fé, vivem procurando respostas mágicas de
gurus e profetisas, que vão orientar quanto ao futuro e quanto às decisões
angustiantes que a vida diariamente coloca diante de nós.
São
os constantes “ventos de doutrinas”, que jogam as pessoas de um lado para
outro, e que ficam impressionadas com um pregador mais apaixonado, ou um
lunático espiritual.
A
falta de consistência teológica é produzida “pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”
(Ef 4.14). Em outras palavras, os motivos nem sempre são os melhores e mais
saudáveis. Se lermos a 2 carta de Pedro e o livro de Judas, perceberemos quanto
de falsos obreiros e homens induzidos por suas mentes carnais surgiram no meio
da igreja. Isto acontecia nos dias apostólicos e ainda hoje.
Resultados
O
que acontece quando estes dons são exercitados, e o corpo de Cristo funciona
como ele realmente planejou?
A.
Unidade da fé – “Até que todos cheguemos à unidade da fé” (Ef
4.13). As verdades de Deus precisam ser assimiladas por toda igreja. Precisamos
estar firmados nas mesmas verdades. A fé não pode ser fragmentada por diversas
opiniões e conceitos.
O
que fragmenta a fé?
Normalmente
as heresias.
Ao
contrário do que pensamos, heresia não é “a negação de uma verdade”, mas sua
distorção. Por isto ela sempre vem em forma de piedade, com aparência de
verdade. Satanás é capaz de pegar uma verdade simples e distorcê-la, como fez
na tentação de Adão e Eva, e na tentação de Jesus. Ele não negava a Palavra de
Deus, ele até mesmo a citava. O problema estava no sentido que ele dava a esta
verdade.
Dois
exemplos simples:
Primeiro,
Nós
cremos que a Bíblia é Palavra de Deus.
Esta
é uma declaração básica de nossa fé. O que faz a heresia? Ela afirma que é
palavra de Deus, mas tem ruídos, portanto, devemos ter cuidado em crer em tudo
o que ela diz. Já viram as consequências de uma afirmação perniciosa como esta?
Foi isto que aconteceu com o pensamento liberal, que está destruindo as igrejas
da Europa e do Nordeste dos EUA.
A
heresia ainda pode afirmar: “Ela é palavra de Deus, mas tem alguns elementos
culturais, sociológicos, antropológicos que devem ser considerados”, e ao fazer
isto, começa a relativizar a palavra de Deus e negar verdades essenciais.
Segundo,
Nós
cremos que a salvação é pelas obra de Cristo, pelo sacrifício substitutivo de
Cristo. Ninguém pode se salvar através de méritos, boas obras, e esforço
humano.
Mas
alguns podem dizer: “O que salva é Cristo, mas precisamos fazer isto ou aquilo
para completar”, ou, do outro lado, podemos dizer: “O que salva é Cristo, mas
como é ele que salva, posso viver em pecado, porque uma vez salvo para sempre
salvo”.
Percebem
as sutilezas?
A
verdade vem contaminada.
Como
uma água com veneno. Ela ainda é agua, pode matar a sede, mas se você beber,
morre. Como os espinhos de peixe, os mais perigosos não são aqueles que vemos,
mas os pequenos espinhos.
B.
O pleno conhecimento do Filho de Deus – (Ef
4.13). No exercício dos dons na mutualidade do corpo de Cristo, vamos
paulatinamente conhecendo mais sobre Jesus e sua obra.
Tenho
visto como é perigoso para os crentes, a insistência moderna de viver fora de
uma comunidade e da comunhão da igreja. Não vejo crescimento espiritual na vida
de pessoas que insistem em ver sua fé de forma individual, negando os
ensinamentos das Escrituras. Aos poucos a fé vai definhando, o amor por Jesus
vai diminuindo, perde-se a capacidade de orar e o interesse pela obra
missionária no mundo. Para que plantar igrejas ao redor do mundo se não sinto
necessidade de participar de minha própria comunidade?
Recentemente
aconselhei uma amiga que se afastou da igreja por motivos históricos, preguiça
e displicência. Eu sei que ela é crente, mas foi se distanciando da comunidade,
não existe liderança espiritual sobre sua vida, seu marido aparentemente perdeu
a fé a atualmente se envolveu com esoterismo, gurus e zen budismo, e suas
filhas não tem qualquer vinculo com a fé cristã.
Deus
deu dons à igreja para que conhecêssemos melhor a Jesus, e chegássemos à
estatura da plenitude do seu conhecimento. Precisamos de comunidade para que
isto se manifeste em nossa vida.
C.
Perfeita varonilidade – “... à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4.13)
Só
há uma forma de nos identificarmos com Cristo: identificando-nos com os membros
de seu corpo. O alvo dos dons é trazer maturidade emocional e espiritual para o
corpo.
Cada
vez me impressiono mais com o poder do evangelho na vida das pessoas. A Igreja
foi formada pelo evangelho, e é responsável por manter e guardar o evangelho.
Quantas vidas tem sido restauradas através da igreja de Cristo? Quantos lares
tem se recuperado pelo poder de Deus experimentado na comunidade? Muitos vem de
lares disfuncionais e esfacelados, mas estudando a Palavra de Deus, sendo
cuidados pela comunidade, o Senhor vai ministrando os princípios
transformadores da verdade do Evangelho, tornando-os psicologicamente maduros.
Conclusão:
Os
dons foram dados à igreja como estratégia do próprio Cristo.
Este
é o design para sua igreja. Foi assim
que ele quis fazer.
Ao andarmos
com o povo de Cristo, precisamos sempre fazer duas perguntas:
Primeiro,
como posso cooperar para que a igreja de Cristo caminhe crescendo para a
maturidade espiritual. Que dons Deus dispensou à minha vida? Como posso
exercitá-los.
Segundo,
como Deus quer usar meus irmãos, na comunidade que frequento, para me abençoar e
me fazer parecido com Cristo?
Tudo
isto nos faz entender como é necessário e abençoador a existência da igreja de Cristo.