quinta-feira, 30 de março de 2017

Oração e Justiça própria



Mesmo assimilando o Evangelho, é muito fácil nos aproximarmos de Deus baseado em méritos pessoais. É comum vermos evangélicos se traindo e dizendo: “...Se eu merecer...”, numa atitude de resignação e até mesmo autocomiseração, e por outro lado, outros que listam a sua “bondade e integridade”, para convencer a Deus de que, de fato, Ele tem a “obrigação” de fazer isto, afinal, “...Veja como eu tenho sido fiel...”

Jesus conta a parábola do fariseu e publicano para desconstruir a falsa pressuposição que os seres humanos possuem quando se aproximam de Deus. “Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos” (Lc 18.9). O objetivo de Jesus era fazer seus discípulos entenderem, que em matéria de oração, o Evangelho não nos autoriza a aproximar de Deus com tais equívocos na mente. Não temos mérito para “decretar”, “ordenar” ou mesmo exigir de Deus qualquer coisa. Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos, mas ele não se submete às demandas da justiça própria que falsamente construímos.


O Profeta Daniel entendeu isto muito bem: “Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face confiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias” (Dn 9.18). A base não era o currículo pessoal, nem os feitos humanos, mas a graça e a misericórdia de Deus. O fundamento da oração é a dependência de sua maravilhosa graça, e não das nossas maravilhosas obras.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Efésios 4.12-16 Os dons e o corpo



Introdução:

A carta de Paulo aos Efésios tem como tema central a igreja de Cristo. Ela fala desta nova sociedade que Deus está criando por meio de Jesus. Não mais um povo que se define por laço históricos e genealogias, mas formados em torno do sangue de Cristo (Ef 2.13-16). Esta nova sociedade é chamada para realizar as obras de Deus na história (Ef 2.10) e confrontar e confundir as trevas (Ef 3.10).

Neste texto, a Palavra nos ensina sobre a obra de Cristo, não apenas sobre o que ele fez, derramando seu sangue para gerar um povo para Deus (obra completa realizada na cruz); mas também como ele faz para atingir o seu propósito de edificar a sua igreja em nossos dias. O apóstolo Paulo descreve como Cristo está fazendo isto ainda hoje, por meio do seu Espírito Santo. Ele deu dons à igreja (Ef 4.11), e por meio dos dons, age na sua igreja atingindo seus propósitos.

O Objetivos dos dons
A partir do vs. 12, o texto fala dos objetivos de Cristo ao conceder seus dons.

1.     Aperfeiçoamento dos santos – “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12) Temos aqui uma afirmação estranha: Jesus concedeu dons à sua igreja para que os santos fossem aperfeiçoados. Não parece estranho? Se são santos não precisam de aperfeiçoamento, e se precisam de aperfeiçoamento não são santos...

A palavra “aperfeiçoar” que aparece no texto, vem de uma palavra grega que significa “remendar a rede”. Ela era usada pelos pescadores, que precisam corrigir determinados buracos que geralmente eram provocados pelas pedras e pelo uso constante na pesca. O texto ensina que “os santos não são santos”, e precisam constantemente de orientação, apoio, encorajamento e repreensão, como uma frase que ouvi certa vez: “seja paciente comigo, Deus ainda não me completou”.

No uso correto dos dons, a igreja de Cristo vai sendo burilada. A igreja precisa de cuidados, e Deus concede dons de pastor, ensino, apóstolo, etc., para que tais distorções sejam reparadas.

2.     Capacitação para o trabalho – “para o desempenho do seu serviço”(Ef 4.12). Os dons habilitam o corpo de Cristo para realizar a obra que ele deseja que realizemos (Ef 2.10). Há muita coisa para ser realizada, mas nem sempre as pessoas estão preparadas para realizar a obra de Deus, por isto Deus levanta mestres e profetas.

O grande desafio da liderança com os dons é entender isto e treinar as pessoas para a obra de Deus. Paulo ensina a Timóteo: “O que de minha parte ouviste, isto mesmo transmite a homens fieis, para que possam instruir outros” (2 Tm 2.2). Paulo fala aqui de quatro gerações: Ele – Timóteo – homens fiéis – outros. O grande desafio da igreja não é apenas ter pessoas que saibam fazer as coisas corretamente, mas ter pessoas que capacitem outros para continuar a obra do ministério.

O grande chamado não somente fazer, mas ensinar a fazer.

3.     Edificação do corpo de Cristo – “Para a edificação do corpo de Cristo”(Ef 4,12). A igreja de Cristo precisa ser edificada. Quem edifica a igreja? O próprio Cristo, o dono da igreja (Mt 16.18). Quando ele diz: “edificarei a minha igreja”, ele deixa claro que a igreja é sua posse e que ele zela cuidadosamente por ela, para que cumpra seu propósito na história: Um povo para louvor e glória de Deus.

A igreja de Cristo precisa ser edificada na história. E como ele a organizou para que isto de fato se concretizasse?

Ele deu dons aos homens para atingir seu propósito.

4.     Maturidade Espiritual - “Para que não sejamos mais como meninos, agitados ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). O objetivo de Jesus, ao dar os dons para o seu povo é que haja maturidade espiritual. Que seu povo saiba discernir entre a pura e sã doutrina e a falsa doutrina, criada pelos homens.

O povo de Deus, quando mal orientado, sempre se apaixona por modismos teológicos.

No Brasil temos uma quantidade imensa de crentes infantilizados. Quanta asneira! Já estou nas lides pastorais por cerca de 40 anos e já vi muita meninice na fé travestida de espiritualidade.

Nos anos 80, surgiu o fenômeno dos dentes de ouro. Por toda a parte víamos pessoas impressionadas com um suposto evento de pessoas que de uma hora para outra ficavam com os dentes dourados e atribuíam isto à obra de Deus. As pessoas ficavam agitadas e milhares corriam atrás disto.

Na década de 90, a moda foi a maldição hereditária. Mesmo crentes convertidos, deveriam procurar um grupo de pessoas espiritualizadas para quebrar as maldições e pactos feitos pelos ancestrais, e que poderiam ainda mantê-las debaixo da ação do diabo.
Ainda hoje, centenas de pessoas infantis na fé, vivem procurando respostas mágicas de gurus e profetisas, que vão orientar quanto ao futuro e quanto às decisões angustiantes que a vida diariamente coloca diante de nós.

São os constantes “ventos de doutrinas”, que jogam as pessoas de um lado para outro, e que ficam impressionadas com um pregador mais apaixonado, ou um lunático espiritual.
A falta de consistência teológica é produzida “pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14). Em outras palavras, os motivos nem sempre são os melhores e mais saudáveis. Se lermos a 2 carta de Pedro e o livro de Judas, perceberemos quanto de falsos obreiros e homens induzidos por suas mentes carnais surgiram no meio da igreja. Isto acontecia nos dias apostólicos e ainda hoje.

Resultados
O que acontece quando estes dons são exercitados, e o corpo de Cristo funciona como ele realmente planejou?

A.     Unidade da fé – “Até que todos cheguemos à unidade da fé” (Ef 4.13). As verdades de Deus precisam ser assimiladas por toda igreja. Precisamos estar firmados nas mesmas verdades. A fé não pode ser fragmentada por diversas opiniões e conceitos.

O que fragmenta a fé?

Normalmente as heresias.

Ao contrário do que pensamos, heresia não é “a negação de uma verdade”, mas sua distorção. Por isto ela sempre vem em forma de piedade, com aparência de verdade. Satanás é capaz de pegar uma verdade simples e distorcê-la, como fez na tentação de Adão e Eva, e na tentação de Jesus. Ele não negava a Palavra de Deus, ele até mesmo a citava. O problema estava no sentido que ele dava a esta verdade.

Dois exemplos simples:

Primeiro,
Nós cremos que a Bíblia é Palavra de Deus.
Esta é uma declaração básica de nossa fé. O que faz a heresia? Ela afirma que é palavra de Deus, mas tem ruídos, portanto, devemos ter cuidado em crer em tudo o que ela diz. Já viram as consequências de uma afirmação perniciosa como esta? Foi isto que aconteceu com o pensamento liberal, que está destruindo as igrejas da Europa e do Nordeste dos EUA.
A heresia ainda pode afirmar: “Ela é palavra de Deus, mas tem alguns elementos culturais, sociológicos, antropológicos que devem ser considerados”, e ao fazer isto, começa a relativizar a palavra de Deus e negar verdades essenciais.

Segundo,
Nós cremos que a salvação é pelas obra de Cristo, pelo sacrifício substitutivo de Cristo. Ninguém pode se salvar através de méritos, boas obras, e esforço humano.
Mas alguns podem dizer: “O que salva é Cristo, mas precisamos fazer isto ou aquilo para completar”, ou, do outro lado, podemos dizer: “O que salva é Cristo, mas como é ele que salva, posso viver em pecado, porque uma vez salvo para sempre salvo”.

Percebem as sutilezas?

A verdade vem contaminada.

Como uma água com veneno. Ela ainda é agua, pode matar a sede, mas se você beber, morre. Como os espinhos de peixe, os mais perigosos não são aqueles que vemos, mas os pequenos espinhos.

B.     O pleno conhecimento do Filho de Deus – (Ef 4.13). No exercício dos dons na mutualidade do corpo de Cristo, vamos paulatinamente conhecendo mais sobre Jesus e sua obra.

Tenho visto como é perigoso para os crentes, a insistência moderna de viver fora de uma comunidade e da comunhão da igreja. Não vejo crescimento espiritual na vida de pessoas que insistem em ver sua fé de forma individual, negando os ensinamentos das Escrituras. Aos poucos a fé vai definhando, o amor por Jesus vai diminuindo, perde-se a capacidade de orar e o interesse pela obra missionária no mundo. Para que plantar igrejas ao redor do mundo se não sinto necessidade de participar de minha própria comunidade?

Recentemente aconselhei uma amiga que se afastou da igreja por motivos históricos, preguiça e displicência. Eu sei que ela é crente, mas foi se distanciando da comunidade, não existe liderança espiritual sobre sua vida, seu marido aparentemente perdeu a fé a atualmente se envolveu com esoterismo, gurus e zen budismo, e suas filhas não tem qualquer vinculo com a fé cristã.

Deus deu dons à igreja para que conhecêssemos melhor a Jesus, e chegássemos à estatura da plenitude do seu conhecimento. Precisamos de comunidade para que isto se manifeste em nossa vida.

C.     Perfeita varonilidade – “... à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4.13)

Só há uma forma de nos identificarmos com Cristo: identificando-nos com os membros de seu corpo. O alvo dos dons é trazer maturidade emocional e espiritual para o corpo.

Cada vez me impressiono mais com o poder do evangelho na vida das pessoas. A Igreja foi formada pelo evangelho, e é responsável por manter e guardar o evangelho. Quantas vidas tem sido restauradas através da igreja de Cristo? Quantos lares tem se recuperado pelo poder de Deus experimentado na comunidade? Muitos vem de lares disfuncionais e esfacelados, mas estudando a Palavra de Deus, sendo cuidados pela comunidade, o Senhor vai ministrando os princípios transformadores da verdade do Evangelho, tornando-os psicologicamente maduros.

Conclusão:

Os dons foram dados à igreja como estratégia do próprio Cristo.
Este é o design para sua igreja. Foi assim que ele quis fazer.

Ao andarmos com o povo de Cristo, precisamos sempre fazer duas perguntas:

Primeiro, como posso cooperar para que a igreja de Cristo caminhe crescendo para a maturidade espiritual. Que dons Deus dispensou à minha vida? Como posso exercitá-los.

Segundo, como Deus quer usar meus irmãos, na comunidade que frequento, para me abençoar e me fazer parecido com Cristo?


Tudo isto nos faz entender como é necessário e abençoador a existência da igreja de Cristo.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Por que juntar-se a uma igreja local é importante?


Vivemos dias em que a individualidade e independência se tornaram inegociáveis. As pessoas não querem “dar satisfação” a ninguém e nem querem “se explicar”. A falta de compromisso tem afetado os relacionamentos interpessoais e estruturas familiares. Queremos viver por nós mesmos, do jeito que queremos, afinal, julgamos ter direito à privacidade. 

Esta é uma das razões pela qual muitos hesitam e se tornam resistentes em se filiar a uma igreja. Acreditam que possam viver a sua fé de forma autônoma. Poucas coisas são tão antibíblicas como esta.

A Igreja faz parte do plano central no projeto de Deus. Jesus tomou a iniciativa e se comprometeu em “edificar sua igreja” (Mt 16.18). Ele está envolvido em formar um povo para louvor e glória do seu nome. A Bíblia não fala de chamado individual, mas de uma comunidade, na qual as pessoas seriam discipulados e batizadas (Mt 28.18-20). Não podemos desenvolver nossos dons, sermos batizados e encorajar uns aos outros à obediência senão por meio de uma igreja local. Não dá para participar da ceia do Senhor, sem compromisso com um corpo local, tangível e histórico.

Outro aspecto que devemos considerar é que amar uns aos outros não é para ganhar pontos extras no céu. É uma ordem! Precisamos amar e cuidar uns dos outros (Gl 6.10; Rm 15.1;Rm 12.13), todas estas coisas exigem de nós certo compromisso comunitário, e eventualmente é algo cansativo, mas como encorajar se não nos unimos uns aos outros?

Por que as pessoas desaparecem da igreja? São muitas as razões: Vida de pecado, esfriamento espiritual, decepção com liderança, apostasia, preguiça e negligência, desejo de vida autônoma, equivoco teológico. Seja como for, todos estes motivos conspiram contra a unidade da igreja e a recomendação de Jesus sobre a sua própria igreja.

O autor da carta aos hebreus afirma: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestação, tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hb 10.24-25). É interessante observar que, já naqueles dias, alguns julgavam ser possível ser cristão sem compromisso comunitário. Esta prática é herética, equivocada e antibíblica. 



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quarta-feira, 1 de março de 2017

As surpresas de Deus


O Salmo 126 é de celebração e louvor. Algo inusitado e inesperado aconteceu ao povo de Deus, e eles expressam sua surpresa, admiração e encantamento com o que veem e ouvem.

Depois de 70 anos de cativeiro, Ciro, o rei da Pérsia, de forma surpreendente e abrupta, concede liberdade aos judeus cativos e lhes ordena a volta para Jerusalém, terra de seus pais. O fato é tão inusitado que o salmista assim se expressa: “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha”. Parecia bom demais para ser verdade.

Ontem, dia 04 de marco de 2017, assumimos formalmente a doação da propriedade “Lírios do campo”. Quando ouvimos falar deste assunto pela primeira vez, isto parecia delírio e fantasia. Agora está se tornando realidade.

Certamente podemos afirmar como o salmista: “Com efeito, grandes coisas tem feito o Senhor por nós, por isto estamos alegres”.