domingo, 9 de fevereiro de 2014

Teologia do Sofrimento



Muitas vezes afirmei que prefiro uma dor aguda a uma dor crônica. A dor aguda é forte, mas não é contínua; vem rapidamente e passa, ainda que quase nos leve ao desespero. A dor crônica é aquela que se desenvolve lentamente, chega devagar, e vai se alojamento de uma forma quase indefinida em nós, ainda que não seja muito forte e que tem um longo processo de restauração e cura. De um tempo para cá, cheguei à conclusão de que minha afirmação inicial é de uma tolice sem fim. Não prefiro uma dor ou outra. Não gosto de sofrer.
O sofrimento é um atestado de impotência, e isto mexe com minhas emoções. Já se percebeu brigando com seu corpo quando está doente, como se não admitisse que pudesse precisar de tratamento e de medicação? Brigamos também com Deus: “Como assim, sofrer? Se trago no meu coração as convicções claras de que Deus está do meu lado, pronto a me servir (servir? É isto mesmo que erroneamente acho!) então, eu não posso sofrer”. Aliás, subliminarmente estamos dizendo: “Com quem Deus pensa que está tratando?”
Haroldo Kushner relata que uma distinta mulher estava à beira da praia, assentada debaixo de uma proteção confortável, desfrutando de uma manhã linda, lendo sua revista preferida e apreciando o lindo netinho brincando na areia com seus apetrechos. Tudo estava perfeito. De repente, uma onda surpreendentemente grande veio, molhando todas as suas coisas, estragando aquele momento de relax, e pior ainda, arrastando seu adorável netinho. Aos berros ela gritou: “Deus, eu não admito que você faça isto comigo! Traga o meu netinho de volta, agora!” E outra onda imediatamente devolveu o garoto em segurança, de tal forma que o netinho nem parecia ter entendido o que havia acontecido. Ela olhou satisfeita para o lado e disse: “Muito bem, mas o Senhor ainda não devolveu o seu bonezinho!”.
Precisamos desenvolver uma teologia da dor. Billy Graham afirmou que a igreja ensina sobre a vida após morte, mas não fala sobre o processo da morte em si. Para ele, o mais difícil não é a morte, mas o morrer. O corpo vai envelhecendo e definhando, mas não sabemos lidar com este rito de passagem. Ele afirma que, ao invés de correr da dor, negá-la, blasfemarmos, ou nos irritarmos. Precisamos aprender o sentido da dor. Sem conflito não há crescimento e amadurecimento.

O sofrimento é injusto? Pelo contrário! Ele faz parte da nossa natureza caída. Embora não concorde 100% com a afirmação de Buda que “viver é sofrer”, precisamos aprender que a vida implica sim, em alguma forma de dor. Jesus não era romântico em relação à experiência humana, sua frase é muito realista: “No mundo passais por aflição, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo! Isto me parece um bom princípio para se construir uma “teologia do sofrimento!”.

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