sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Resolução de conflitos


 
A vida em si possui muitas demandas... “Life is difficult!” (Scott Peck). Difícil de organizar, suportar, superar, escalar e administrar. Podemos vivê-la de duas formas: reclamando e lamuriando, ou enfrentando seus dilemas, matando um leão por dia. Ouvi de um feirante que dizia para seu filho quando tinham um caminhão de frutas para descarregar: “É um saco de batatas de cada vez!”.

Por esta razão apreciei significativamente esta afirmação: “É neste inteiro processo de enfrentar e resolver problemas que a vida encontra sentido. Problemas são a linha fronteiriça entre sucesso e fracasso. Desafiam nossa coragem e sabedoria. Apenas por causa dos problemas é que crescemos mental e espiritualmente. As coisas que ferem, são as que instruem”.

Por temermos enfrentar as lutas, tentamos negar os problemas. Procrastinamos, adiamos, criamos pensamentos mágicos, tentamos esquecê-los, fazemos de conta que eles não existem. Eventualmente até mesmo tomamos drogas para ignorá-los, nos enveredamos pela bebida ou tentamos nos refugiar na internet, no lazer, evitando assim conflitos e dores, mas “esta tendência de negar os problemas e sofrimentos emocionais inerentes neles, é a base primária de toda doença mental” (S. Peck). “Neurose é sempre um substituto legítimo para o sofrimento” (Carl Jung).

A tragédia obviamente, é que, o substituto para a dor, torna-se mais dolorido que a dor em si mesma. Nossa luta em negar o sofrimento e nos esquivarmos dos conflitos normalmente é mais penosa que o enfrentamento.

Jesus sabia muito bem que a vida era complexa. Sua vida foi marcada por oposição, acusação, ameaças. Teve que lidar com inveja, dores humanas, partilhou da angústia de gente enlutada, tocou em párias sociais, sentiu a dor que a enfermidade física traz às pessoas, e as aflições de ações demoníacas que afetavam toda a integridade familiar. Isaias o descreve como alguém que sabe o que é padecer, e o escritor aos hebreus afirma que ele foi tentado em todas as coisas. Não houve uma dimensão da dor humana que não experimentasse: rejeição, abandono e morte agonizante numa cruz.

Sabendo disto, ele exortou seus discípulos: “No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Jesus não nega a dor, não faz de conta que o sofrimento é irreal, também não afirma como Buda que tudo é sofrimento, mas afirma que a vida é carregada de tribulações.

Você tem um problema? Talvez você me responda sorrindo que tem dúzias de problemas. Enfrente cada um deles diariamente, não busque uma rota de escape. Jesus afirmou: “Tende bom ânimo!”. Isto significa perseverança, firmeza e fé. O sofrimento abre caminhos para arrependimento e confissões, possibilita reconciliações, coloca homens de joelhos e nos faz procurar Deus, abrindo a alma para o mistério.

O Dia de Finados


 
No calendário oficial do Brasil, temos este feriado que pode soar muito estranho a todos nós. Afinal, dia de finados? Dia dos mortos? O que significa isto?

Na verdade, na cultura popular, é um dia para lembrar das pessoas que já partiram: Entes queridos, pessoas que deixaram saudade entre nós: amigos, parentes, conhecidos, etc. Os cemitérios da cidade enchem-se de visitantes, levando flores. Se for de tradição budista até mesmo a comida que a pessoa gostava é colocada no túmulo do finado. Para muitos é um evento de forte comoção, e por isto, as floriculturas celebram este dia, as vendas são promissoras e o comércio fatura alto com tais lembranças.

Qual o lugar dos que já partiram na concepção evangélica?

Todas as pessoas são importantes para nossa vida, mesmo aquelas com quem já não mais comungamos e que já foram para a glória. A Bíblia afirma que não há comunicação entre vivos e mortos. Os fenômenos que acontecem de supostas mediunidades (contato dos vivos com os mortos) são veementemente condenados na Bíblia (Lv 19.31; 20.6,27; 2 Cr 33.6; Is 8.19-22; Jó 7.9; 10.21). Jó afirma: “Porque dentro de poucos anos eu seguirei o caminho de onde não tornarei” (Jó 16.22), e Jesus ainda afirmou na narrativa do rico e de Lázaro: “E. além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós” (Lc 16.26), numa referência entre o céu e o inferno.

Podemos guardar a memória dos que já partiram com saudades e lembranças, mas corremos o risco de nos esquecermos dos que ainda estão conosco. Mais importante que levar flores para o túmulo de alguém, com quem você já não possui um relacionamento mútuo, seria levar uma flor para alguém que está vivo: Uma pessoa idosa que precisa de uma lembrança, uma vó ou avô que precisa de um abraço e de um “dedo de prosa”, sua esposa, sua filha, seu amigo, etc.

E por último e mais grave: Sempre existe a idéia subjacente de que os que já partiram se “conectam” conosco. Isto não acontece!!! Os que já partiram estão numa outra dimensão espiritual. Portanto, nunca esqueça de glorificar a Deus, e dirigir suas orações ao Senhor, ao invés de orar pelos mortos e com os mortos, como se isto fosse possível.

Não preciso de Deus!


Ai dos que... dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15)

 

É muito comum encontrar pessoas que não sentem necessidade de Deus, e que acham que as realidades espirituais não fazem diferença nem para o bem, nem para o mal. Tais pessoas não são, na sua essência, atéias. Podem ser melhor definidas como agnósticas: podem até crer na existência de Deus, mas não acham que Deus interage com a história nem a afeta a vida dos homens. São estes que dizem: “Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15); A Bíblia diz: “O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações” (Sl 10.4); e ainda, “como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11). Por razões até mesmo de coerência intelectual, tais pessoas não precisam de Deus.

Mas não são apenas os ateus que acreditam que não precisam de Deus. Existem também aqueles que, professando fé em Deus, vivem como se não precisassem de Deus. São ateus na prática. Constroem sua vida à margem de Deus, perdem a piedade, a capacidade de se submeter a Deus, de se render, de orar e buscá-lo. A falta de oração na nossa vida demonstra que não precisamos de Deus.

A Bíblia fala de uma igreja inteira que viveu desta forma. Esta igreja cristã de fato existiu, e quem faz o diagnóstico dela é o próprio Senhor Jesus: “Estou rica e abastada, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17). Esta comunidade possuía uma doutrina correta, não tinha escândalos morais como a igreja de Tiatira que tinha uma pseudo profetisa praticando prostituição, mas era morna, indiferente, apática e sem paixão. Jesus recomenda que esta igreja percebesse o seu fracasso espiritual.

Se você acha que não precisa de Deus, sua situação é pior do que você imagina. Você é como doente terminal que acha que não precisa de remédio, o viciado que acha que não precisa de ajuda, o alcoólatra que nega sua condição de dependência. Quem sabe que precisa realmente de Deus, é capaz de se angustiar com sua situação, de se arrepender de sua miséria, de gritar por socorro celestial. Por isto é que afirmamos que a justiça própria é o inimigo número 1 do evangelho. Ela nos faz pensar que não precisamos da justiça de Cristo conquistada na cruz.

 

 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Vendo o invisível.


 

Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja

 

Esta é uma pequena oração que o profeta Eliseu fez quando viu que o seu jovem seminarista, que o acompanhava e o servia, reagiu apavorado ao ver que a pequena vila de Dotã, onde moravam, estava cercada por um exército inteiro de soldados da Síria, que vieram prender o profeta. Eliseu então, para acalmar seu discípulo, ora para que o Senhor lhe abra os olhos para que veja. Ao terminar de olhar, uma realidade espiritual ignorada pelo jovem torna-se visível. “O Senhor lhe abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, ao redor de Eliseu” (2 Rs 6.17).

C. S. Lewis afirma que cometemos dois erros quando lidamos com a questão do diabo: Primeiro, damos ênfase demais, e passamos a viver assombrados e demonizando todas as coisas; Segundo, negamos e ignoramos sua realidade, e nos tornamos presas fáceis de sua ação. Paulo afirma: “Não lhe ignoramos seus desígnios”. Não podemos ignorar o mal.

A vida de Jesus era uma vida na qual natural e sobrenatural estavam sempre se tocando. Quando ele nasce, no ambiente simples da estrebaria, eis uma criança frágil; nas esferas celestiais, anjos estão se manifestando. Um dia, adverte Pedro sobre a investida do diabo: “Satanás te requereu para te peneirar, mas eu roguei ao Pai para que não desfaleças”.  Jesus tem uma visão aguçada da realidade histórica, e uma visão profunda das realidades espirituais. Seus olhos vêem o invisível.

Na sua tentação que durou 40 dias, afirma o evangelista Marcos: “ Estava com as feras, mas os anjos o serviam”. Natural e sobrenatural interagem; o aqui e agora é mesclado pela realidade transcendental. O material e o espiritual se encontram.

Alguém afirmou: “Não quero ver o diabo em todos os lugares, mas quero vê-lo onde ele está”. Nada de ficar obcecado pelo místico e transcendente, isto nos transforma em seres esotéricos; e nem devemos ser ignorantes em relação às realidades espirituais. Isto nos torna secularizados.

Por isto a oração de Eliseu é mais que oportuna. Esta é uma oração que também precisamos fazer: “Senhor, peço-te que abras os (meus) olhos para que veja