quinta-feira, 7 de abril de 2011

Radiação

Logo após o terremoto e do conseqüente tsunami com suas cenas apocalípticas que atingiu de forma devastadora o Japão, além da contabilidade das perdas de bens materiais e preciosas vidas, surgiu um novo medo resultante da explosão das usinas nucleares da região atingida, cujos reatores produzem ¼ de toda energia daquela nação.
A situação realmente assusta. Em primeiro lugar, porque além das conseqüências imediatas, este efeito radiativo pode durar anos na região; em segundo porque levanta novamente toda discussão sobre a segurança dos reatores nucleares. A humanidade pode confiar nestes sistemas? Como controlar energia tão poderosa? E quando surgem tragédias e terrorismos? As informações que recebemos de tecnocratas, políticos e burocratas são confiáveis?
Uma radiação, porém me inquietou de forma particular. Com medo dos efeitos radiativos, parte da mídia e de pessoas histéricas, surgiu nos Estados Unidos, que fica do outro lado do Pacifico, uma grande ansiedade sobre os efeitos radiativos sobre aquela nação.
Tive aquela sensação típica que enfrentamos quando uma criança se machuca, e a mãe, ao invés de socorrê-lo, desmaia. Quando isto acontece temos de socorrer não apenas criança ferida, mas também a mãe desacordada. Isto é chamado em psicologia de co-dependência. Toda família se torna disfuncional porque alguém não está agindo de forma correta ou da forma que se esperava. A criança dá um espirro, e a mãe desenvolve uma pneumonia.
Tive um amigo assim. Grande artista, músico de escol, por natureza ciente de sua capacidade e com um forte senso de vaidade própria, característica de gente que lida com reconhecimento e aclamação pública. Certa vez os visitei porque sua esposa estava doente, e ela me reclamou que ele estava irreconhecível desde o início de sua enfermidade, agindo de forma reativa, porque agora as atenções das pessoas que vinham àquela casa não eram mais para suas qualidades musicais, e sim para a esposa doente.
Esta radiação da co-dependência é extremamente perigosa. Conquanto entendamos que análises mais profundas precisam ser feitas quanto ao acidente nuclear, e que todas as atenções devem estar voltadas para esta questão para que se evite outras tragédias, neste momento, nossa dor e tristeza devem estar concentradas no povo japonês e na reconstrução daquele país. Agora a nossa dor, orações e ajuda devem estar centradas na situação japonesa, que enfrenta outro grande desafio de reconstrução, depois da fatídica explosão de duas ogivas nucleares em 1945.

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